Locais dominados por plantas exóticas agressivas, que promovem a homogeneização da flora, tornam-se verdadeiros desertos verdes já que poucas espécies vegetais resistem a essa presença. A percepção de tal problemática serviu como base para o desenvolvimento do projeto “Tem Alienígenas na Cidade”, coordenado pelo professor Juliano Ricardo Fabricante, do Departamento de Biociência do campus de Itabaiana (DBCI/UFS).
De acordo com o professor, o termo ‘alienígena’ faz alusão a aliens que, na literatura científica, é utilizado para designar as espécies de plantas, animais e microrganismos que causam prejuízos às pessoas, à agricultora, pecuária ou para outros setores produtivos da sociedade. “As invasões biológicas são consideradas a segunda causa em perda de biodiversidade no planeta. Em Sergipe, destaco a existência da leucena (leucaenaleucocephala) e a algaroba (prosopis sp.). Locais dominados por essas árvores são verdadeiros desertos verdes”, diz.
Juliano explica também que, além do que já fora apontado, essas espécies geram uma série de restrições à população local. “No preço dos alimentos que compramos, por exemplo, estão embutidos valores derivados da erradicação e manejo dessas espécies feitas por agricultores e pecuaristas. Isso porque muitos alimentos estão contaminados por herbicidas utilizados para o controle das exóticas invasoras que nos causam sérias doenças, ou seja, todos são afetados direta ou indiretamente pelas invasões biológicas”.
Apesar de relevante, o tema ainda é pouco difundido dentro e fora da academia. “Conhecimento de causa é o primeiro passo para começarmos a mudar as coisas e é nas escolas que acreditamos que isso deve ser feito. Se ensinarmos para as crianças e para os adolescentes os malefícios para o meio ambiente causados por aquilo que nem nos damos conta, existe uma grande chance de solucionarmos o problema”, garante o professor.
O projeto
O projeto consistirá na criação de um material didático voltado para crianças e adolescentes e para a capacitação de professores do ensino fundamental e médio de escolas públicas e particulares. Segundo o professor, as ações devem compreender, inicialmente, as escolas do município de Itabaiana. A expansão para outras localidades dependem dos resultados e da consolidação de parcerias para a execução das ações.
“A nossa ideia é ensinar nas escolas métodos simples de manejo que evitariam a necessidade de eliminação dessas espécies do nosso convívio. Poucas pessoas têm ideia do quanto um gato pode ser destrutivos quando criado solto, por exemplo. Ele pode matar até 1.000 animais por ano, dentre aves, repteis e pequenos mamíferos. Se criado dentro de casa, os impactos causados por ele não existirão. Para a maioria das espécies exóticas invasoras existem métodos de manejo relativamente simples como o apresentado para o gato, fato que podem diminuir os impactos sobre a diversidade nativa”, afirma Juliano.
De acordo com a estudante Érica Lima Santos, uma das envolvidas no projeto, apesar do fácil acesso às informações, a sociedade ainda não está bem preparada para usá-las. “É justamente essa a intenção que o projeto pretende com a divulgação nas escolas: tornar possível as informações sobre as invasões biológicas aos estudantes, e com isso contribuir para a formação de cidadãos mais instruídos sobre assuntos que eles vivenciam em seus cotidianos”, explica.
Érica é apenas uma dentre os 10 alunos do curso de Ciências Biológicas que fazem parte do projeto. No momento, eles não estão somente sendo capacitados para a execução dessas atividades, como também estão contribuindo para a construção de dois livros contendo informações sobre as espécies exóticas invasoras mais comuns, bem como a problemática da região. Lá deverá conter ainda a origem das espécies, como chegaram até aqui, os impactos que elas causam sobre o meio ambiente, a saúde humana, a agricultura, a pecuária e outros setores produtivos da sociedade e, como manejar as espécies para se evitar ou minimizar os problemas causados por elas.
Juliano salienta que “um dos volumes será voltado para o professor e o outro para o aluno. Ambos os volumes possuirão os mesmos conteúdos, mas serão apresentados de formas distintas e com aprofundamento adequado a cada grupo”. As ações serão baseadas nesses materiais, que consistirão em palestras, capacitação dos professores, atividades lúdicas, dentre outros. Tudo previsto para 2016. O objetivo é explorar diferentes formas de transmissão de conhecimento.
Para Érica, o tema traz uma oportunidade de aprendizado coletivo. “Aos estudantes e aos docentes, sendo este o nosso propósito, e a mim. Essa experiência certamente irá me tornar uma professora mais capacitada em sala de aula. Além disso, acredito que temas como esse podem mudar a realidade, ao mesmo tempo em que mudamos nossas práticas pedagógicas e inovamos o método de ensino para alcançar uma sociedade mais crítica”, conclui.
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Os alienígenas (fonte e fotos: prof. Juliano Ricardo Fabricante)
Foto-legenda:
Cenchrus ciliaris (capim buffel). Uma das gramíneas africanas que iremos trabalhar. Foi introduzida para servir de forragem para os rebanhos brasileiros. Contudo, a espécie é muito agressiva, se espalha com grande facilidade e é capaz de invadir ambientes de Caatinga conservados, excluindo assim todo o estrato herbáceo, onde está a grande diversidade desse bioma.
Foto 1:
Ovinos (ovelha e carneiro). Repare nas condições de degradação do ambiente onde esses animais estão. Ao comparar com o local que não há esses animais fica claro os efeitos negativos desses bichos sobre a vegetação nativa.
Foto 2:
Leucaena leucocephala – leucena. Essa espécie é considerada uma das maiores pragas do mundo. Ela se espalha rapidamente, eliminando a vegetação nativa. Áreas invadidas pela leucena são consideradas verdadeiros desertos verdes, pois nada cresce próximo dela. Sem seu alimento, os animais nativos também desaparecem do local.
Foto 3:
Pombo. Além de transmissor de doenças, as fezes dos pombos corroem estruturas metálicas e de concreto gerando prejuízos e danos aos patrimônios público e privado.
Ascom
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