Esforços prolongados e repetitivos, sobrecarga, desidratação, alimentação incorreta e a presença de toxinas no organismo podem desencadear uma inflamação nos tendões. Também chamada de tendinite, a inflamação tem sido alvo de estudos tanto no campo da medicina esportiva quanto na medicina do trabalho, principalmente após a difusão da informática. A depender da natureza e da severidade da lesão o tratamento pode incluir a indicação de antiinflamatórios, repouso e sessões de fisioterapia.
Pesquisa desenvolvida pela professora do Departamento de Fisioterapia da UFS Evaleide Diniz tem como objetivo investigar a eficácia do ultrassom em associação ao óleo de copaíba, substância resinosa extraída do tronco da copaíba, árvore de grande porte típica da floresta amazônica. Bastante difundido e utilizado para os mais variados fins na região Norte do Brasil, o produto contém propriedades antiinflamatórias, analgésicas e de alto poder cicatrizante.
#IMG#A técnica que une o ultrassom e as drogas, definida como fonoforese ou sonoforese, teve início no Brasil em 1950. Entretanto, possui pouca comprovação e número escasso de pesquisas no país, apesar de o uso do ultrassom tratar-se de um recurso já consagrado na fisioterapia para tratar processos inflamatórios. Segundo a professora Evaleide, uma das razões para esse comportamento é a precaução que os fisioterapeutas de modo geral possuem, já que precisariam ter um conhecimento mais aprofundado em farmacologia para fazer uso do procedimento. Além disso, conta a docente, na fisioterapia os estudos são mais subjetivos, o que acaba gerando dúvidas quanto à eficácia.
“Nós procuramos estudar os princípios ativos, como em todo laboratório de farmacologia se estuda a base experimental, para futuramente poder transformar a pesquisa em um fármaco ou em alguma droga que possa ser utilizada com segurança na clínica”, afirma a responsável pelo estudo.
A pesquisa
Em 2008, a professora Evaleide começou a desenvolver a pesquisa com o óleo de copaíba no tratamento da gonoartrose (artrose no joelho). Posteriormente decidiu acrescentar ao estudo outra linha de pesquisa ainda com o óleo de copaíba, mas tratando o quadro clínico de tendinite. A tendinite apresenta sintomas bastante variados, como: dor e inchaço (edema) de diferentes intensidades, diminuição da força muscular e dificuldade de movimento.
“Algumas pesquisas já comprovavam o efeito do óleo de copaíba diante de processos inflamatórios, a partir disso surgiu a curiosidade de desenvolver estudos com esse produto”, afirma Evaleide. “A artrose no joelho não é um processo inflamatório muscular, mas tem em si um processo inflamatório intrínseco articular”, diz.
A pesquisa intitulada “Estudo da eficácia terapêutica do óleo de copaíba (Copaífera sp) em processos inflamatórios de tendinite” tratou cerca de 80 pacientes, dos 20 aos 40 anos, que foram divididos em três grupos de análise: o grupo controle (tratado com aplicação de ultrassom e exercícios, tratamento fisioterápico convencional); o grupo teste 1 (tratado com aplicação de ultrassom com o óleo de copaíba e exercícios); e o grupo teste 2 (tratado com massagem com óleo de copaíba e exercícios).
Constatou-se que o grupo tratado com ultrassomsomado ao óleo de copaíba e exercícios apresentou o melhor resultado (grupo teste 1), sugerindo que o óleo de copaíba aperfeiçoava os efeitos do tratamento. Os pacientes submeteram-se a duas sessões semanais de aproximadamente 30 minutos cada uma. O tratamento completo contou com dez sessões. O atendimento realizou-se no Hospital Universitário da UFS.
O estudo analisou os seguintes pontos: redução da dor, maior força no desempenho do movimento e maior amplitude de movimento (execução do movimento completo). Segundo a pesquisadora, quando se reduz a dor em processos inflamatórios o paciente começar a movimentar melhor a articulação. “A diminuição da dor é o principal fator indicativo da redução da lesão”, afirma Evaleide.
A pesquisa já foi divulgada em vários congressos regionais, nacionais e internacionais e no geral a repercussão foi bastante positiva. Há aproximadamente um ano foi apresentada em Manchester (Inglaterra) no “Physiology 2010”, onde recebeu diversos elogios tanto pelo cuidado metodológico como pelo caráter de inovação do trabalho.
“Eu acredito que em um futuro bem breve, pelo menos aqui em Sergipe, possamos utilizar essa associação nas clínicas com bastante segurança. Com o avanço da evidência científica pretendemos incluir essa técnica no cotidiano de uma clínica de fisioterapia. A associação dessas duas ferramentas, mesmo que o medicamento precise ter prescrição de um médico, pode melhorar o paciente”, conclui a pesquisadora.
Érika Rodrigues (estagiária)
Luiz Amaro
comunica@ufs.br
[Foto-legenda: Diego Gurgel]