César Santos, 39, chega à universidade por volta das 6h e é a primeira pessoa a entrar na Biblioteca Central (Bicen), no campus de São Cristóvão. Sua função inicial é alimentar de energia os setores que atendem diretamente a comunidade universitária de segunda a sexta-feira: ligar as luzes, os aparelhos de ar-condicionado, os 41 computadores do setor de multimídia e tantos outros equipamentos. Parece uma tarefa rápida, mas, segundo César, leva cerca de 30 minutos percorrer os dois andares preparando os espaços cujos aparelhos só serão desligados quando a última pessoa sair, por volta das 22h.
Conheça a página de Eficiência Energética da UFS
Às 7h, quando a Bicen é aberta e os servidores começam o expediente, os equipamentos dos diversos setores internos também são postos em funcionamento. Pelo menos 42 pessoas exercem suas atividades na biblioteca, entre membros do quadro efetivo e terceirizados.
Esse é apenas um exemplo de como uma instituição de ensino superior tão grande (seis campi) e complexa (comunidade universitária de mais de 30 mil pessoas) é gerida não apenas pela energia das mentes dos que a compõem, mas também pela energia conduzida através dos cabos. E essa demanda cada vez mais crescente por alimentar os equipamentos gera, há anos, a necessidade de a UFS ter um consumo mais consciente, sustentável e menos oneroso.
O desafio começou a ser pensado oito anos atrás com o estabelecimento da Comissão Interna de Conservação de Energia (Cice), que permitiu observar onde estavam os problemas relacionados ao uso ineficiente de energia e quais eram as áreas carentes desse recurso, além de identificar os equipamentos que precisavam de conservação, manutenção ou remanejamento. Desse modo, a administração da universidade passou a investir no Projeto de Eficiência Energética. O objetivo é reduzir gastos e gerar menos impactos ambientais, alertando a comunidade universitária para o uso consciente.
Subestação 69 kV: cinco vezes mais tensão
O consumo de energia em todos os campi da UFS tem crescido. Em 2017, de acordo com o Radar nº 1/2018, R$ 10,3 milhões foram destinados à conta de energia. Em 2016 a fatura chegou a quase R$ 10 milhões e em 2015 a pouco mais de R$ 8 milhões. Nesses dois anos houve um aumento exato de R$ 1.643.667,64, o que representa um acréscimo de 20,3%, como mostra matéria de março deste ano do Portal UFS.
Desde 5 de agosto está em funcionamento a subestação SE UFS 69 kV, que alimenta o campus de São Cristóvão - um investimento de R$ 5,3 milhões. A subestação está ligada à rede elétrica em 69 mil volts, como já diz seu nome, cinco vezes mais tensão que o sistema anterior, que era de 13,8 kV.
De acordo com o professor Milthon Serna, do Departamento de Engenharia Elétrica (DEL), a nova subestação poderia alimentar um bairro inteiro, como o Siqueira Campos, em Aracaju, e foi pensada para fornecer energia para o campus de 20 a 25 anos, considerando as taxas atuais de crescimento de consumo. Isso é possível porque a subestação está planejada com 10 mW de potência e o consumo atual do campus está na faixa de 3.200 kW.
Para viabilizar a obra, a universidade entrou em parceria com a Energisa e uma linha de transmissão de 69kV foi construída. Porém, esse novo cenário não significa que a universidade está isenta da conta de energia. Com a subestação, espera-se que haja uma redução de até 30% do valor pago atualmente.
“Uma subestação como essa atende perfeitamente nossa carga atual. Comparado ao sistema anterior, a gente se alimentava a 13,8 kV e pagávamos uma tarifa maior. Como passamos a 69 kV, entramos em um grupo mais seleto e, quando se tem esse tipo de alimentação, automaticamente a tarifa diminui, o que acarreta uma queda na conta”, aponta o docente.
Sistema fotovoltaico: 128 painéis
Outra alternativa para diminuir a conta de energia do campus de São Cristóvão é a adoção da energia solar fotovoltaica, o que permite à universidade a geração de energia limpa.
Veja o vídeo do sistema fotovoltaico
Em novembro do ano passado, o Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede (SFCR) foi instalado no campus e está em pleno funcionamento. O DEL foi escolhido para ser o local de execução desse projeto pioneiro composto por 128 painéis de 330Wp, o que produz uma economia de cerca de R$ 100 por dia incluídos os impostos, segundo o professor Milthon. Ou seja, a economia pode chegar a R$ 3.200 por mês.
“Começamos com o prédio de Engenharia Elétrica para ser o protótipo porque seria o mais apropriado. Quem estaria mais relacionado à energia se não fosse o Departamento de Engenharia Elétrica? Como não existem contas separadas, apenas uma conta única do campus de São Cristóvão, o valor dessa conta única é diminuído pela produção do sistema fotovoltaico instalado no departamento”, explica Milthon.
Esse sistema gera cerca de 5.000 kWh/mês de energia elétrica, o que alimentaria em torno de 30 residências familiares e pode ser monitorado aqui. A intenção é fazer com que as pessoas consigam enxergar na prática o lado sustentável do projeto, que cobre totalmente as demandas do departamento, ou seja, 18 salas de professores, 15 salas de aula e laboratórios, cinco salas administrativas, um auditório, dentre outros.
Outros dois sistemas fotovoltaicos estão em processo de implantação: um no prédio da Bicen e outro na Didática V. Eles devem ser inaugurados no transcurso deste ano.
Queda de energia
Apesar da preparação da UFS para uma melhor eficiência energética, imprevistos podem ocorrer, como o episódio da queda de energia do dia 24 de agosto. Segundo Milthon, o que aconteceu foi a quebra de um para-raios na saída de uma fase da subestação abrigada do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), originando um curto-circuito.
“O campus tem 38 anos e parte da infraestrutura elétrica foi construída junto e, de fato, instalações antigas vão se deteriorando pelo uso e tempo. Nós agora temos uma subestação grande e protetora que permitiu bloquear o sistema e reiniciá-lo totalmente. Isso agilizou o processo de retomada porque, caso fosse na situação anterior, demoraria bem mais tempo, uma vez que não foi um problema simples”, afirma o docente.
No sentido de evitar problemas como esse, a instituição vem trabalhando na manutenção da parte elétrica antiga. Segundo Milthon, foi feita a proteção do anel principal de 13,8 kV (que conecta todos os prédios internos do campus) junto com a nova subestação SE UFS 69 kV.
Para além das ações que competem à administração, a inserção da comunidade universitária no projeto constitui uma preocupação constante.
“Existe a necessidade de utilizar os recursos de forma eficiente, principalmente no que se trata de energia, não só por conta dos custos, já que a tarifa está cada vez mais cara, mas também porque a energia tem que ser preservada, uma vez que é um item fundamental para o dia a dia das pessoas. Quando se pensa em eficiência energética, estamos pensando em todos os componentes, não só equipamentos. É preciso fazer com que toda a comunidade acadêmica participe e entenda que queremos a utilização adequada e o melhoramento da qualidade dos recursos de nossos campi”, diz Milthon.
Letícia Nery (bolsista)
Luiz Amaro
comunica@ufs.br