A Biblioteca Central, localizada no campus de São Cristóvão da Universidade Federal de Sergipe, recebeu o nome de dom Luciano José Cabral Duarte, arcebispo emérito de Aracaju e um dos fundadores da UFS. Além disso, o hall da Bicen contou também com a abertura da exposição “Luciano José Cabral Duarte e a UFS”. Os eventos ocorreram na tarde da última terça-feira, 20.
Dom Luciano é natural de Aracaju, nasceu em 1925 e foi ordenado sacerdote em 1948. Foi professor e o primeiro diretor da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Obteve doutorado em Filosofia pela Sorbonne e foi o primeiro presidente do Conselho Diretor da UFS.
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Confira, abaixo, o discurso de homenagem do reitor da UFS
“O art. 1º da Lei nº 6.454, de 24 de outubro de 1977, proíbe atribuir nome de pessoa viva a bem público de qualquer natureza pertencente à União ou às pessoas jurídicas da administração indireta.
Assim sendo, não pôde ser levado à execução o disposto da Resolução nº 02/91/CONSU, do Conselho Universitário da Universidade Federal de Sergipe, aprovada em reunião extraordinária realizada em 13 de maio de 1991, denominando de “Biblioteca Central Dom Luciano José Cabral Duarte”, a nossa Biblioteca Central, a BICEN, neste prédio localizada.
Os parlamentares fazem as leis e nós as devemos cumprir. Às vezes elas são justas, mas, outras vezes, não o são. Porém, no sistema jurídico em que vivemos, as leis são proposições prescritivas obrigatórias.
Na época da aprovação da Resolução nº 02/1991, era reitor desta Universidade o professor Clodoaldo de Alencar Filho, há muito tempo aposentado da docência.
O conselheiro relator da proposição, professor José Arnaldo Vasconcelos Palmeiras, de saudosa memória, emitiu o seu parecer favorável à indicação do Conselho de Centro do Centro de Educação e Ciências Humanas, ao qual pertencia, como professor, o então arcebispo metropolitano de Aracaju, que fez, este ano, a sua viagem definitiva.
Naquele momento, em maio de 1991, foram considerados, para a indicação do nome do homenageado, os “relevantes serviços prestados pelo professor Luciano José Cabral Duarte ao ensino universitário, relatado no processo nº 2484/91-05”.
Também foi imperioso para a indicação, o fato de ter sido ele “um dos fundadores da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe”, que, com os seus cursos de graduação, agregou-se às demais Faculdades então existentes em Sergipe, para constituir a Universidade Federal de Sergipe, instalada em 1968, agora completados e comemorados o seu Cinquentenário.
Por outro lado, foram destacadas, na indicação, a “vasta contribuição à Cultura e à Educação no Estado de Sergipe” da parte de Dom Luciano. E, por fim, “a marcante presença” do homenageado “em Órgãos representativos da Educação a nível estadual e nacional”, a exemplo do Conselho Estadual de Educação e do Conselho Federal de Educação, por vários anos, com atuação sempre destacada.
Dom Luciano foi um padre, bispo auxiliar e arcebispo metropolitano que não se prendeu apenas às incumbências da vida religiosa. Desde cedo, logo após a sua ordenação, já estava militando na sala de aula. Aqueles e aquelas que foram seus alunos e suas alunas, ou seja, os remanescentes, que ainda são muitos, louvam sempre a postura do mestre, os conhecimentos aprofundados do professor, a didática e a metodologia sempre envolventes e a marca indelével do educador.
Quando da luta pela fundação da Universidade Federal de Sergipe, dois grupos se formaram, cada um deles tendo uma visão de como deveria ser, juridicamente, a nova Universidade. Um grupo opinava que deveria ser uma autarquia. O outro grupo opinava para que viesse a ser uma fundação. Este grupo tinha à frente exatamente Dom Luciano. Após muitas idas e vindas, venceu o grupo liderado pelo professor e bispo Dom Luciano.
Houve um tempo em que nesta Universidade e, até mesmo em Sergipe, vozes contestavam algumas posições de Dom Luciano. Provavelmente, pelo modo de ser do eminente religioso e pensador, diga-se de passagem, laureado em França.
O que não se deve negar é o esforço de Dom Luciano para ajudar na construção do projeto que redundaria na instituição da nossa Universidade que, nestes cinquenta anos de sua existência, acha-se devidamente integrada à sociedade sergipana, contribuindo decisivamente para o progresso e o desenvolvimento de Sergipe em várias áreas da vida pública e privada.
Dom Luciano nos deixou a 29 de maio deste ano, aos 93 anos, após uma penosa e resignada enfermidade.
A sua contribuição para a educação e a cultura sergipanas é plenamente reconhecida e deve ser amplamente agradecida.
Quero externar a minha solidariedade aos familiares de Dom Luciano aqui presentes. Aos seus alunos e às suas alunas. Aos seus amigos e, enfim, aos seus pares no sacerdócio.
Tenho a alegria de presidir esta solenidade, que, em virtude de proibição legal, demorou tanto para acontecer. Passaram-se 27 anos desde a aprovação da Resolução de 1991. Mas, o tempo nos deu tempo para fazer justiça a um dos grandes protagonistas, senão o grande protagonista, da fundação da Universidade Federal de Sergipe.
Consolidamos, neste momento, o desejo daqueles que propuseram e daqueles que votaram para nominar a BICEN de “Biblioteca Central Dom Luciano José Cabral Duarte”.
A este ato solene, seguirá a exposição referente ao nosso homenageado, que se estenderá por um mês. Conheçamos, portanto, a vida e a obra de Dom Luciano, um mestre que os seus alunos não esquecem.
Uma Universidade só tem razão de existir quando ela agrega pessoas, buscando na diversidade o equilíbrio para produzir ensino, extensão e pesquisa de qualidade.
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Angelo Roberto Antoniolli é reitor da Universidade Federal de Sergipe.
Ascom
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