Após sobreviver a um incêndio que queimou 95% do casco, um jabuti passou por um procedimento pioneiro desenvolvido por pesquisadores da UFS. Foguinho, como é carinhosamente chamado, foi o terceiro paciente submetido ao tratamento no Centro de Aprendizagem e Manejo de Animais Silvestres (Camase) do campus do Sertão, em Nossa Senhora da Glória.
A lâmina de hidrocarboneto foi o material escolhido para reconstruir a carapaça depois de lesões às placas córneas, que são estruturas semelhantes à pele dos humanos e têm a função de proteger o animal. O material é muito utilizado na odontologia para confecção de próteses dentárias e foi adaptado na medicina veterinária, como parte da pesquisa coordenada do professor Victor Lima.
“Não existem ainda relatos na literatura sobre a utilização de lâminas de hidrocarboneto na restauração de cascos de quelônios. Somos, provavelmente, os pioneiros, e já vamos com alguns animais com sucesso terapêutico na manutenção da saúde e posterior reabilitação”, afirma o professor do Departamento de Medicina Veterinária do campus do Sertão.
Depois de quatro meses em tratamento, Foguinho está recuperado. Weslania Souza, estudante de Medicina Veterinária, acompanhou todo o procedimento e explica que a tecnologia foi trazida por conta da natureza das lesões dos animais, sempre por atropelamentos ou queimaduras.
“Nós avaliamos o animal, fizemos o exame físico, mensuramos todo o casco, entramos com tratamento medicamentoso e realizamos a reconstrução total das placas córneas com a lâmina de hidrocarboneto. Com oito horas o animal já estava ingerindo água e alimentos normalmente, com 24h já se adaptou bem e oito dias após o tratamento já se locomovia normalmente”, relata a estudante.
Primeiras experiências
A utilização da lâmina em animais silvestres começou em 2018 quando o grupo foi informado sobre o atropelamento de um jabuti-piranga por um trator de cerca de três mil quilos. O animal teve a carapaça praticamente rachada ao meio.
De acordo com o professor Victor Fernando Lima, a medicina de animais silvestres é relativamente recente comparada a outros modelos dentro da medicina veterinária e um dos grandes problemas era o traumatismo em cascos de jabutis.
“Conversei com alguns profissionais qualificados do ponto de vista da restauração, ou seja, dentistas, que me deram várias opções. Pensando na melhor qualidade de vida e no contínuo crescimento do animal, utilizamos a lâmina de hidrocarboneto. É um material leve, não é tóxico e, após exposto a temperaturas mais altas ou mais baixas, conseguimos fazer com que fique mais rígido”, explica.
Custo-benefício e acessibilidade
Além do fato da boa adaptação dos animais, de acordo com o professor, outro ponto relevante da pesquisa é o baixo custo para aplicação e finalização do procedimento. Enquanto outros tipos de tratamento mais tradicionais custam entre R$ 500 e R$ 1.000, o novo procedimento gira em torno de R$ 30.
“São animais que não podem mais ser reinseridos na natureza em função da sequela e da gravidade da lesão, mas, graças a essas novas tecnologias, nós conseguimos garantir uma qualidade de vida para eles”, diz o pesquisador.
Letícia Nery
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