Qui, 25 de fevereiro de 2021, 11:54

Pesquisadores da UFS desenvolvem tratamento pioneiro para reconstrução de cascos de jabutis
Realizado no campus do Sertão, procedimento com lâminas de hidrocarboneto reduz custos e tem boa adaptação

Após sobreviver a um incêndio que queimou 95% do casco, um jabuti passou por um procedimento pioneiro desenvolvido por pesquisadores da UFS. Foguinho, como é carinhosamente chamado, foi o terceiro paciente submetido ao tratamento no Centro de Aprendizagem e Manejo de Animais Silvestres (Camase) do campus do Sertão, em Nossa Senhora da Glória.

A lâmina de hidrocarboneto foi o material escolhido para reconstruir a carapaça depois de lesões às placas córneas, que são estruturas semelhantes à pele dos humanos e têm a função de proteger o animal. O material é muito utilizado na odontologia para confecção de próteses dentárias e foi adaptado na medicina veterinária, como parte da pesquisa coordenada do professor Victor Lima.


Foguinho foi o terceiro paciente a passar pelo procedimento com lâminas de hidrocarboneto. (fotos: Camase)
Foguinho foi o terceiro paciente a passar pelo procedimento com lâminas de hidrocarboneto. (fotos: Camase)

“Não existem ainda relatos na literatura sobre a utilização de lâminas de hidrocarboneto na restauração de cascos de quelônios. Somos, provavelmente, os pioneiros, e já vamos com alguns animais com sucesso terapêutico na manutenção da saúde e posterior reabilitação”, afirma o professor do Departamento de Medicina Veterinária do campus do Sertão.

Depois de quatro meses em tratamento, Foguinho está recuperado. Weslania Souza, estudante de Medicina Veterinária, acompanhou todo o procedimento e explica que a tecnologia foi trazida por conta da natureza das lesões dos animais, sempre por atropelamentos ou queimaduras.


Os animais seguem sendo monitorados e apresentam boa adaptação
Os animais seguem sendo monitorados e apresentam boa adaptação

“Nós avaliamos o animal, fizemos o exame físico, mensuramos todo o casco, entramos com tratamento medicamentoso e realizamos a reconstrução total das placas córneas com a lâmina de hidrocarboneto. Com oito horas o animal já estava ingerindo água e alimentos normalmente, com 24h já se adaptou bem e oito dias após o tratamento já se locomovia normalmente”, relata a estudante.

Primeiras experiências

A utilização da lâmina em animais silvestres começou em 2018 quando o grupo foi informado sobre o atropelamento de um jabuti-piranga por um trator de cerca de três mil quilos. O animal teve a carapaça praticamente rachada ao meio.

De acordo com o professor Victor Fernando Lima, a medicina de animais silvestres é relativamente recente comparada a outros modelos dentro da medicina veterinária e um dos grandes problemas era o traumatismo em cascos de jabutis.


Baixo custo do tratamento, em torno de R$ 30, é um diferencial da pesquisa desenvolvida na UFS
Baixo custo do tratamento, em torno de R$ 30, é um diferencial da pesquisa desenvolvida na UFS

“Conversei com alguns profissionais qualificados do ponto de vista da restauração, ou seja, dentistas, que me deram várias opções. Pensando na melhor qualidade de vida e no contínuo crescimento do animal, utilizamos a lâmina de hidrocarboneto. É um material leve, não é tóxico e, após exposto a temperaturas mais altas ou mais baixas, conseguimos fazer com que fique mais rígido”, explica.

Custo-benefício e acessibilidade

Além do fato da boa adaptação dos animais, de acordo com o professor, outro ponto relevante da pesquisa é o baixo custo para aplicação e finalização do procedimento. Enquanto outros tipos de tratamento mais tradicionais custam entre R$ 500 e R$ 1.000, o novo procedimento gira em torno de R$ 30.

“São animais que não podem mais ser reinseridos na natureza em função da sequela e da gravidade da lesão, mas, graças a essas novas tecnologias, nós conseguimos garantir uma qualidade de vida para eles”, diz o pesquisador.

Letícia Nery

comunica@academico.ufs.br


Atualizado em: Ter, 30 de março de 2021, 16:21
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