Quinto maior país do planeta em extensão territorial, o Brasil é também um dos líderes em quantidade de casos positivos do novo coronavírus e de mortes pela covid-19. A pandemia que matou milhões e transformou o modo de vida de praticamente toda a humanidade tem características diferentes em cada território, o que vale também para o nosso país. A disseminação do vírus muda de acordo com o local e suas características sociais, econômicas, climáticas, administrativas, entre outras.
Duas pesquisas estão analisando o perfil clínico e epidemiológico dos pacientes em regiões bastante distintas: os estados Rio Grande do Sul e Sergipe. Aqui, uma equipe do campus de Lagarto, coordenada pelo professor Paulo Galvanini, se debruça sobre os prontuários do Hospital de Urgência de Sergipe (HUSE). No sul, o estudo é encampado pela Universidade Federal do Pampa, em Uruguiana. O objetivo é comparar esses perfis e as repercussões da pandemia nos pacientes e no sistema de saúde.
Coleta de dados
Juliana Maria Rezende Prata da Silva é uma das estudantes que colhe os dados dos prontuários dos pacientes. “A gente analisa sinais vitais, as medicações que são prescritas para esses pacientes, o tempo que eles utilizaram esses medicamentos, se eles precisaram de medicamentos a mais do que aquilo que já havia sido prescrito, então a gente tá fazendo esse panorama”, relata a discente de Odontologia.
Também aluna de Odontologia da UFS, Thaisláyne Mirelle dos Santos Cruz conta que o levantamento inclui os antecedentes do paciente, como também continua após a alta. “Estamos analisando desde o início, quando eles adentram - sintomatologia, medicação que está sendo prescrita -, até o momento da sua alta, quando esse paciente tem uma alta melhorada. A gente continua ainda avaliando mesmo após essa alta, porque quando eles dão essa saída, eles têm uma certa prescrição médica, para que a gente possa fazer esse comparativo”, diz.
O levantamento minucioso dos dados permite uma comparação para além do número de casos de covid-19. “A gente pode ver também como foi a evolução desse paciente, se o paciente daqui teve uma melhora mais rápida ou igual ao paciente de outro estado, se teve alguma alteração no tratamento que os médicos daqui dão em relação ao de outro estado também”, pontua Glória Raquel Santos São Mateus, outra estudante de Odontologia que integra a equipe.
O professor Paulo Galvanini destaca que a pesquisa pretende entender como é a epidemiologia e a clínica da doença. “Até para sinalizar para o sistema de saúde como é que esses pacientes estão chegando; o paciente teve covid: antes ele não precisava de acompanhamento [após a alta] por nenhum tipo de profissional de saúde, mas agora pode ser que precise, psicologicamente falando, ou então em condições de saúde mesmo, se evoluiu para alguma outra doença”, exemplifica o docente.
Resultados iniciais
Observando se tratar de uma pesquisa em andamento, com dados a serem coletados ainda, Paulo antecipa algumas análises. “Ainda estamos traçando esse perfil, mas o que a gente consegue constatar até agora é que a grande maioria dos casos que evoluíram para a gravidade da doença estão relacionados a pacientes com comorbidades, principalmente diabetes, a obesidade e a hipertensão, com uma atenção especial para a obesidade e para o diabetes”, pontua.
Antes mesmo de comparar os dados dos estudos de Sergipe e Rio Grande do Sul, o grupo de pesquisadores já adverte para a necessidade de atenção para as comorbidades. “Fica aqui o alerta para que as pessoas cuidem da saúde. Essa também é uma forma de prevenir os casos graves da doença [covid-19)”, aconselha Paulo. “Fora todas as outras formas que são amplamente divulgadas: do distanciamento social, dos protocolos de segurança, da vacinação, da imunização”, reforça o pesquisador.
Marcilio Costa
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