A instalação da Universidade Federal de Sergipe foi um acontecimento. Quarta-feira, 15 de maio de 1968, às 20h, no salão nobre do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE), na rua Itabaianinha, em Aracaju, autoridades, professores, estudantes e demais pessoas da sociedade sergipana assistiram à sessão solene de fundação da primeira e única universidade pública do estado. Era o início de um marco e também de um sonho.
Veja a programação dos 53 anos da UFS
Antes da UFS, existiam faculdades e escolas isoladas que começaram a surgir a partir do final da década de 1940: Faculdade de Ciência Econômica, Escola de Química, Faculdade de Direito, Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe, Escola de Serviço Social e Faculdade de Ciências Médicas. Elas constituíram o número necessário de instituições para formação da universidade.
O movimento para a criação da UFS encontrou cenário favorável na década de 1960. Não só pela representação de desenvolvimento para o estado, mas também para “a concretização do sonho de muitos jovens, de seus familiares e da sociedade sergipana que começou a ver a formatura dos seus ou de conhecidos”, como escreveu Eliana Souza, professora do Departamento de Educação, no livro “História e Memória Universidade Federal de Sergipe: 1968-2012”
Nesta reportagem, conheça a história de quatro dos muitos rostos e memórias que atravessaram os 53 anos desta instituição.
Testemunha ocular de um sonho e de uma luta
Terezinha Alves de Oliva, 70, acompanhou os debates sobre a instalação da UFS, como se seria autarquia ou fundação, por meio das atividades jornalísticas do pai, João Oliva - que também foi o primeiro assessor de Relações Públicas da instituição na gestão de João Cardoso (1968-1972). “Era uma coisa que a gente acompanhava em casa”, recorda.
Terezinha conta que ingressou no curso de História em março de 1968 na antiga Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe - incorporada ao patrimônio da UFS em 30 de abril daquele ano. Ela afirma que era tudo muito novo: a atração do movimento estudantil, com passeatas e encontros festivos, o anseio do ingresso e o medo do “trote” organizado por veteranos.
“Tudo isso representava uma vida nova que se desenhava, além do orgulho de estar na universidade, de participar de movimentos. Não podemos esquecer que era época do movimento estudantil aguerrido e era época do regime militar”, destaca. “Eu enxergo a criação da universidade, de certa forma, como uma espécie de compensação pelas dores que este estado teve que passar naquele momento.”
Depois de formada, Oliva voltou à universidade como docente de História em 1974. Conselheira suplente do Conselho Diretor e professora emérita da UFS, ela ocupou diversos cargos na instituição, como chefe de departamento e diretora do Museu do Homem Sergipano. "Minha carreira foi formada na UFS e desempenhada na UFS”, orgulha-se.
Oradora oficial do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, publicou livros, como o “Impasses do federalismo brasileiro: Sergipe e a Revolta de Fausto Cardoso”, e foi superintendente no estado do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Uma história com tradição familiar. “Meu pai que fez o curso de Direito tardiamente se formou na Universidade. Meus irmãos também na Federal. Minhas filhas. Eu tenho duas filhas: uma delas fez Farmácia e, antes de Teatro, fez o mestrado em Farmácia. A minha filha mais velha, que hoje mora fora, é juíza em São Paulo e fez o curso de Direito na UFS. Então, a UFS atravessa as nossas vidas”, ressalta a docente aposentada.
Tempos de vestibular
João Marco Cardoso da Silva não esperou o locutor da rádio anunciar o resultado do vestibular de 2004 para o curso de Ciência da Computação nem uma conexão estável para acessá-lo na internet. Ele foi para São Cristóvão conferir o seu desempenho nas tradicionais listas de aprovados. “E essa é a minha primeira memória de estar no campus da UFS”, relata.
O interesse na área da computação, que surgiu como curiosidade na adolescência, se tornou uma escolha profissional. “Eu sempre tive interesse em áreas científicas e, sendo a UFS uma entidade de referência no estado onde nasci e me criei, seria mais do que natural tentar fazer meu curso superior na Federal de Sergipe”, conta.
O egresso ainda afirma que a publicação do primeiro artigo durante a graduação, realizada entre 2004 e 2009, foi determinante para a sua carreira. “A sensação de ver um trabalho seu reconhecido por pares ao ponto de concordarem de que aquilo deve ser publicado e discutido por outras pessoas foi muito marcante e acabou por definir aquilo que tinha descoberto há pouco tempo: a área científica”, destaca.
Aos 37 anos, João Marco conquistou o primeiro lugar na edição 2021 do Prêmio de Inovação IN3+, uma iniciativa da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), de Portugal, onde cursou mestrado e doutorado. No país, ele é professor convidado da Universidade do Minho, pesquisador do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (Inesc TEC) e visiting fellow na Universidade das Nações Unidas (UNU-Egov).
Quando regressa, João Marco sempre visita o campus sede da UFS, onde, como ele mesmo frisa, deu os primeiros passos profissionais.
Facilitar, um lema
Em 1979, Gildete da Silva Santos, 67, conta que iniciou o curso de Serviço Social da Universidade Federal de Sergipe no prédio da então Escola de Serviço Social, na rua Estância, no Centro de Aracaju. “Eu sempre gostei muito da área de humanas. Na época, eu procurei pesquisar para saber como era o trabalho do assistente social e me identifiquei”, relata.
Ainda, na graduação, começou a trabalhar na instituição como atendente na Biblioteca Central (Bicen), em 1981, após aprovação em concurso público. Depois, passou a atuar como assistente social na Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Proest) e, hoje, exerce a função na Divisão de Assistência ao Servidor (Diase/Progep).
Há quase quarenta anos como servidora, Gildete diz que sempre buscou construir boas relações de trabalho. “E tudo que tenho eu devo à Universidade Federal de Sergipe que foi o meu primeiro emprego. E, depois, não procurei mais nenhum outro, até porque, como ingressei depois na minha área de formação, achei que não tinha razão de ir em busca de outros locais de trabalho”.
O que a motivou também a criar raízes na UFS foram as atividades desempenhadas na Proest. “Comecei a ter contato com os alunos. Comecei a identificar as condições socioeconômicas dos alunos, ver o perfil dos alunos da Universidade Federal de Sergipe, e aí comecei a me identificar com o trabalho e procurei fazer o que eu pude”, destaca.
Em 2019, Gildete foi uma entre os funcionários homenageados pelos serviços prestados à instituição em uma ação da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progep) alusiva ao Dia do Servidor Público (28 de outubro). “Nunca procurei dificultar o acesso das pessoas em usufruir os serviços que a universidade oferece. Pelo contrário, eu procurei meios de facilitar”, enfatiza.
Amor à primeira vista
Com a falência da banca de feira do pai em Pernambuco, Antonio Edilson do Nascimento, 69, relata que viajou com a família para Brasília no final de dezembro de 1968. No ano seguinte, terminou o colegial, o que equivaleria hoje ao ensino médio, e, em 1970, começou a cursar Física na Universidade de Brasília (UnB).
Após a graduação, ingressou, em 1975, no mestrado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em 1976, recebeu a liberação e veio a Aracaju para desenvolvimento da pesquisa sobre axônio gigante de Loligo, sob orientação do professor da UFS Eduardo Garcia, primeiro reitor eleito pela comunidade universitária (1984-1988). Foi quando se “apaixonou” pela capital sergipana. “E aí depois voltei para o Recife, achei horrível. Aí fui chamado para cá. Em 1978, fui contratado como professor”, conta.
Professor aposentado do Departamento de Fisiologia, conviveu muito com os alunos e lideranças da luta estudantil nos primeiros anos na UFS. “De vez em quando, eu esquecia que era professor. Eu me comportava igual a um estudante, eu achava que estava no movimento estudantil”, gargalha.
Ele também lembra que quase “afundou na cadeira” quando recebeu a proposta do então reitor José Fernandes de Lima (1996-2000/2000-2004) para assumir o Departamento de Administração Acadêmica (DAA). “Nunca na vida pensei em assumir um cargo tão burocrático como o DAA, mas topei, fui para lá, começaram as ideias e fui gostando.”
Edilson afirma que sempre preferiu muito trabalho e que as pessoas costumam dizer que, no DAA, não há brecha para fofocar diante do volume de tarefas. “É tanto trabalho que a gente não tem tempo de falar da vida do outro”, brinca. Em março deste ano, ele completou 22 anos na direção do setor.
Uma curiosidade: e como surgiu a ideia de inserir letras musicais no final do DAA Informa? Ele se recorda que, em uma certa noite, ao redigir o boletim com informações sobre a UFS encaminhado por e-mail, estava ouvindo músicas e tinha uma que ele gostava muito. “Aí, eu coloquei a letra, um tempo depois, eu coloquei outra, algum tempo depois, coloquei outra. O pessoal gosta das besteiras que eu faço, não sei por quê”, diz, aos risos.
Abel Victor (Rádio UFS)
Luiz Amaro (edição)
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