Sex, 11 de julho de 2014, 10:30

Aposentadoria do professor Eduardo Garcia
Aposentadoria do professor Eduardo Garcia

Angelo Roberto Antoniolli


Na semana passada, eu tomei da caneta para assinar mais uma leva de documentos. Ao me deparar com uma portaria através da qual era conferido o direito de aposentadoria a um professor, chamei a atenção dos que estavam comigo e disse: “Todos merecem, um dia, se aposentar. Mas, alguns deveriam demorar um pouco mais, tal é o que ainda podem fazer de útil e de bom”. Eu falava do professor ora homenageado.


A Constituição Federal confere aos servidores públicos “titulares de cargos efetivos” o direito à aposentadoria. E impõe a aposentadoria compulsória aos 70 anos (art. 40, § 1º, II). Chegando a essa idade, como é do conhecimento de todos os leitores, o servidor público deve se aposentar. Chegou, assim, a hora do Professor Doutor Eduardo Antônio Conde Garcia, que deixa a Universidade Federal de Sergipe, após um intenso, brilhante e reconhecido labor.


Eduardo Garcia nasceu na capital sergipana, em 7 de julho de 1944, sendo filho do também professor, médico e acadêmico Antonio Garcia Filho e de Dona Waldette Conde Garcia. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe em 1968. Estudou cirurgia vascular e cardíaca no serviço do Prof. Dr. Iseu Costa (UFPR). Foi cirurgião vascular nos Hospitais de Cirurgia e São José e cirurgião-geral do pronto socorro do Hospital de Cirurgia. Em 1969, foi aprovado em concurso para professor de Biofísica na UFS, tendo ali ocupado todos os cargos docentes, culminando com o de Professor Titular. É Doutor em Biofísica (1975) pelo Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ). Fez curso de pós-doutoramento no Instituto Venezuelano de Investigaciónes Científicas (IVIC, Caracas/Venezuela). Na UFS, foi Chefe dos Departamentos de Biologia Molecular (DBM) e de Fisiologia (DFS), Diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS), membro dos conselhos superiores (CONSU e CONEP), primeiro Reitor eleito pelo voto direto da comunidade universitária (1984-1988), além de membro e presidente do Conselho Diretor (2009-2014). Fundou o Laboratório de Biofísica do Coração (LBC/DFS/CCBS/UFS). Destacou-se na orientação de Programas de Mestrado e Doutorado em Pernambuco (UFPE), Paraíba (UFPB), Rio Grande do Sul (UFRGS) e Sergipe (UFS). Em 1971, organizou, em Sergipe, o I Congresso Brasileiro de Biofísica. Foi Presidente da Sociedade Brasileira de Biofísica (1989-1991) e da Academia Sergipana de Medicina. Além de pertencer a estas instituições, é também membro da Academia Sergipana de Letras e da New York Academy of Science. Foi membro fundador da Sociedade Sergipana de Cardiologia e da Sociedade Sergipana de Angiologia e Cirurgia Vascular. Publicou “BIOFÍSICA” (livro-texto para o curso de Medicina, pela Editora Sarvier, São Paulo, 1998), “FRESTA” (poesias, pela Gráfica Diplomata, Aracaju, 1989) e “ANTONIO GARCIA FILHO E A FACULDADE DE MEDICINA DE SERGIPE – CRIADOR E CRIATURA” (pela SERCORE Artes Gráficas, Aracaju, 2008), sobre a fundação da Faculdade de Medicina de Sergipe, e que se traduz também em belíssimo tributo aos seus fundadores, tendo à frente o seu próprio genitor, e cuja fundação ocorreu no governo de Luiz Garcia, tio de Eduardo, e também professor da UFS, na área do Direito (linux.alfamaweb.com.br).


Eduardo Garcia completou 70 anos na última segunda-feira, dia 7. Poderia ter se aposentado há muito tempo. Preferiu aguardar a compulsória. Na noite de hoje, quinta-feira, dia 10, ele e a sua digníssima família mandarão celebrar missa em ação de graças, na Paróquia São José, nesta capital. Será um momento de louvor e de agradecimento a Deus, que Eduardo e família dividirão com os colegas e amigos. Afinal, sendo a vida, na visão de quem professa o cristianismo, uma dádiva de Deus, louvar e agradecer por uma vida tão profícua é reconhecer a grandeza do Criador e aos seus pés depositar humildemente os feitos de quem recebeu talentos e não os enterrou. Ao contrário, com todos que o cercam, na família e fora dela, ele compartilhou o saber, o companheirismo, o amor e a amizade.


Homens e mulheres carregam pela vida afora virtudes e defeitos. Em algumas pessoas, aquelas se sobrepõem a estes. Em outras, dá-se o inverso. Em Eduardo Garcia, para quem com ele conviveu mais de perto, as virtudes ofuscaram possíveis defeitos. Ele soube e sabe viver e conviver. Com disciplina, com galhardia, com retidão de caráter, com firmeza ao decidir, com generosidade ao compartir.


O professor Eduardo Garcia fez uma gestão profícua à frente da Reitoria da UFS, tanto quando lhe permitiram as condições políticas, econômico-financeiras e técnicas da época. Em sua gestão ocorreu a implantação do projeto arqueológico da UFS no sentido de realizar o salvamento de peças arqueológicas na região alagada pela Hidroelétrica de Xingó. Também houve a criação do Mestrado em Geografia, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB), do Programa de Apoio às Atividades de Pesquisa, do Encontro Sergipano de Coros, bem como a construção dos blocos de anatomia patológica e a reforma do Hospital Universitário (www.reitoria.ufs.br).


Ele é um exemplo de profissional competente que se vai. Entretanto, decerto, não irá completamente. Eduardo ainda terá muito que contribuir com a nossa UFS e com a sociedade sergipana. A sua vida não foi e não haverá de ser dispersa com a merecida aposentadoria. Disso dá testemunho o seu poema “Fluir”, publicado no livro “FRESTA”: “Escorrer a vida / tal água em cristalina gota, / que, aos poucos, na vidraça, / junta aqui, / junta acolá, / cada disperso pedaço / de si mesma”.


Eduardo Garcia se aposenta com a alma livre, plena do dever cumprido. Da sua vida e do seu labor ele fez um canto vivo. Aliás, “Canto Vivo” é outro poema simbólico do seu livro de poemas: “Em cada alma / há um canto / onde se vive a poesia”.


Eduardo é o tipo de pessoa que não passa em vão pelos outros. Preciso dizer mais?


Angelo Roberto Antoniolli - Reitor da Universidade Federal de Sergipe



Atualizado em: Sex, 11 de julho de 2014, 10:33
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