Melocactus sergipensis. Esse é o nome científico da mais nova espécie de cacto do gênero popularmente conhecido como “coroa-de-frade”. A descoberta foi feita por Eronides Soares Bravo Filho, aluno do Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal de Sergipe.
Em meio a coletas de campo realizadas em todo o estado para a pesquisa “Diversidade, etnobotânica e propagação de coroa-de-frade no Estado de Sergipe”, em junho deste ano, Eronides se deparou com a nova espécie. “Como alguém iria procurar uma espécie de cacto em ambiente úmido? Mas era justamente ali, nas rochas próximas a nascente de um rio, que essa espécie se encontrava”, relata o pesquisador.
Os cactos se apresentam em toda a América, da Argentina ao Canadá, mas o gênero das “coroas-de-frade” é encontrado apenas na América do Sul e Central, incluindo o México. Essa é a 23ª espécie encontrada no Brasil, num total de cerca de 40 em todo o continente.
“Este resultado demonstra o esforço e dedicação do mestrando Eronides na condução de suas pesquisas e é de importância para a instituição, para o Prodema e para a comunidade científica. A descoberta de uma nova espécie de Melocactus demonstra que a flora do estado de Sergipe é muito rica, apesar da degradação ambiental. Este é mais um motivo para incrementar as pesquisas visando a conservação de espécies nativas”, explica a professora Marlucia Cruz de Santana, do Departamento de Biologia e docente do Prodema, orientadora de Eronides.
Características
Além da preferência por rochas graníticas localizadas próximas a ambientes úmidos, o Melocactus sergipensis apresenta cefálio de cor branca, frutos na cor rosa intenso e tamanho próximo a 1,5cm. Seus espinhos são levemente curvados para cima e possuem cerca de 2 a 3,5 cm.
Mas a principal característica da espécie é o seu tamanho diminuto, chegando a no máximo 14,5 cm de diâmetro e 9,5 cm de altura. O número de auréolas (as estruturas de onde saem os espinhos) também é reduzido, com menos de cinco aréolas por costela.
Risco de extinção
A nova espécie, única coroa-de-frade endêmica do Estado de Sergipe, já nasce para a ciência ameaçada, devido ao seu número extremamente reduzido. “Ela encontra-se criticamente ameaçada de extinção e necessita de atenção urgente do poder público para garantir a sua conservação e evitar a extinção”, explica Eronides.
Calcula-se que haja menos de cem indivíduos dessa espécie e, segundo os pesquisadores, péssimas condições de conservação do ambiente, com a localidade cercada por plantações.
“A área inteira só não havia sido desmatada porque é imprópria para o plantio. Mas, certamente, no passado, este cacto se distribuía por mais áreas da região”, explica o professor Marcos Vinicius Meiado, do Departamento de Biociência da UFS, do campus de Itabaiana, co-orientador de Eronides.
Preservação
Os pesquisadores pretendem incluir a nova espécie no Plano de Ação Nacional de Conservação das Cactáceas Ameaçadas de Extinção, projeto financiado pelo Ministério do Meio Ambiente para cuidado dos cactos ameaçados em todo o Brasil. A ideia é oficializar a descoberta o mais rápido possível para tentar trazer recursos que ajudem a salvar a espécie da extinção.
Produzir sementes e mudas é uma das estratégias de conservação fora do local de onde as plantas são nativas. Eronides pretende trabalhar, posteriormente, com a técnica de germinação in vitro do Melocactus sergipensis.
Ele explica que as espécies do gênero Melocactus só se propagam por semente e de cada dez mil que germinam naturalmente apenas uma consegue chegar à fase adulta, o que ocorre após os dez anos de vida.
“Obtive sucesso na germinação de outras duas espécies de coroa-de-frade, a espécie Melocactus zehntineri e a Melocactus violaceus – esta, inclusive, estava listada no Ministério do Meio Ambiente como a única espécie de cactácea ameaçada de extinção com ocorrência no Estado de Sergipe, embora os dados preliminares da minha pesquisa revelem que ela é a espécie de coroa-de-frade mais encontrada em Sergipe, presente em todo o litoral sergipano, com exceção da Barra dos Coqueiros”, explica.
Registro e descrição
“Ninguém planejava uma espécie nova no meio do caminho, não fazia parte do trabalho de Eronides, foi uma boa surpresa e, agora, temos uma espécie nova que precisa ser descrita cientificamente e apresentada para a ciência”, explica Marcos Vinicius.
A espécie foi tombada no Herbário da Universidade Federal de Sergipe e sua descrição foi publicada na Revista da British Cactus & Succulent Society (Bradleya) de novembro, num artigo escrito por Eronides, Marcos Meiado, Daniela Zappi, do Royal Botanic Gardens, no Reino Unido, e Nigel Paul Taylor, do Jardim Botânico de Singapura.
“O Dr. Nigel é o pesquisador que mais estuda esse grupo de plantas, um taxonomista internacionalmente reconhecido. Quando descobrimos a espécie nova, entramos em contato para que ele nos auxiliasse nessa parte da descrição”, explica Marcos Vinicius.
Márcio Santana - Ascom
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Foto-legenda: Marcos Meiado