MAURÍCIO BARRETO CAMPOS
No dia 28 de novembro estive em Aracaju para acompanhar uma das homenagens que Sergipe prestou ao economista José Aloísio de Campos, meu pai, pela passagem do seu centenário de nascimento. Nesse dia, por iniciativa da Reitoria da Universidade Federal de Sergipe, houve o lançamento de livro contendo uma série de pronunciamentos seus sobre os recursos minerais e o desenvolvimento organizado por Dilson Barreto, e de selo comemorativo pelos Correios. Foi com grande emoção que testemunhei a admiração e o respeito com que este grande sergipano ainda é lembrado, pela sua luta em prol do desenvolvimento do seu Estado, em especial, por sua contribuição para a consolidação da UFS. Atuando em tantas frentes para garantir o avanço de Sergipe, entendia que o desenvolvimento não podia se realizar sem o fator humano. Era necessário investir na capacitação das pessoas não só para garantir os quadros técnicos e a mão de obra necessária ao processo econômico, mas, principalmente, para permitir a formação de uma massa crítica que pensasse os problemas da sociedade e se posicionasse politicamente. Sua própria vida pode ser usada como exemplo do papel inclusivo que a educação desempenha. Talvez, por isso, ele tenha valorizado tanto a formação educacional para o desenvolvimento econômico e social de Sergipe. Nascido em 29 de novembro de 1914 no atual município de Frei Paulo, no interior do Estado, filho de uma dona casa e de um caixeiro viajante, veio para Aracaju ainda adolescente para completar a sua educação formal e começar a trabalhar, já que a família foi abandonada pelo pai e, pouco tempo depois, a mãe faleceu. Tornou-se então o provedor da família, sustentando os três irmãos mais novos com um emprego de auxiliar de escritório do Departamento de Obras Públicas do Estado de Sergipe. Fez o curso de contabilidade (nível médio) na antiga Escola de Comércio e, em seguida, com grande sacrifício pessoal, concluiu o curso de Bacharel em Ciências Econômicas na Faculdade de Ciências Econômicas da Bahia hoje incorporada à Universidade Federal da Bahia), em 1942. Já formado, tornou-se professor da antiga Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe, posteriormente incorporada à Universidade Federal de Sergipe quando da sua fundação, ministrando a disciplina Finanças Públicas. Ocupou diversos cargos na administração pública estadual, com destaque para as três vezes em que exerceu o cargo de Secretário Executivo do CONDESE (Conselho do Desenvolvimento Econômico de Sergipe), sendo o responsável pela sua organização e implantação. Exerceu o cargo de Prefeito de Aracaju entre os anos 1968 e 1970, período em que procurou estruturar as finanças da Prefeitura do Município, organizando o Cadastro Imobiliário e implantando um novo Código Tributário do Município, que permitiram, em conjunto, ampliar a base de tributação e aumentar as receitas disponíveis. No CONDESE, montou uma verdadeira escola de administração publica que deu sustentação até bem pouco tempo às ações dos diversos governantes. Neste sentido, promoveu a formação de um grupo de profissionais de alto nível em diversas áreas, seja por meio de cursos de pós-graduação, seja através de especialização e treinamentos diversos nas áreas do planejamento, do desenvolvimento econômico, do orçamento e da administração publica, tanto no Brasil como no exterior. Naquele órgão também se destacou pela sua atuação técnica e política para viabilizar o aproveitamento dos recursos minerais de Sergipe. Foi pelo impulso dado aos grandes projetos de exploração dos seus recursos minerais que a economia estadual se diversificou, incorporando novos setores e estimulando o crescimento de outros, como a construção civil e o setor de serviços. Esse processo desenvolvimentista do qual participou ativamente, permitiu a ampliação da classe média pela criação de novos postos de trabalho com boa remuneração, o que modificou a correlação de forças políticas dentro da sociedade sergipana. O último cargo público que ocupou e que coroou sua carreira como homem público, foi o de Reitor da UFS (1976-1980), em cuja gestão foi construída a cidade universitária que hoje tem o seu nome e realizada ampla reforma administrativa. Vale destacar um aspecto que é pouco mencionado na sua gestão à frente da UFS: sua posição contra as duras regras impostas pelo regime militar à comunidade universitária. Graças à sua coragem e determinação em não compactuar com o arbítrio, pelo menos que tenha sido do meu conhecimento, a UFS não foi palco de repressão política. Ao longo de toda sua vida profissional, José Aloísio de Campos atuou como servidor público no verdadeiro sentido da expressão: estar a serviço da sociedade, procurando atender os seus anseios. Em todos os cargos que exerceu, deixou um legado de organização e planejamento, testemunhado pelas excelentes equipes que conseguiu formar e que foram fundamentais para o sucesso dos projetos que executou. Em todos esses projetos, havia sempre um objetivo comum que motivou toda sua carreira pública: o desenvolvimento de Sergipe. As comemorações do seu centenário de nascimento vêm atestar o quanto foi significativo e frutuoso o seu trabalho.
MAURÍCIO BARRETO CAMPOS
ECONOMISTA (FILHO DE JOSÉ ALOÍSIO DE CAMPOS)