Quem disse que Sergipe não tem recifes? Diferente do que se imagina, há bancos de recifes como acontece também nos estados vizinhos de Alagoas e Bahia. Porém, as formações na plataforma continental do estado ficam submersas.
Os estudos conduzidos pelo Laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe, em parceria com a Petrobras, vem delimitando com maior precisão as feições presentes no fundo do mar entre Sergipe e sul de Alagoas. Estes estudos têm aumentando o conhecimento em relação à plataforma continental, situada entre a linha de praia e a região de até 50 m de profundidade, denominada de talude. Eles abordam as feições submersas, a composição e distribuição dos sedimentos do fundo marinho, além da interpretação dos processos que deram origem às referidas feições.
Em relação ao Nordeste do Brasil, a plataforma continental de Sergipe e sul de Alagoas é caracterizada por um relevo diversificado e por uma largura média de 33 km. De norte para sul, distinguem-se cinco regiões na plataforma, denominadas geologicamente de províncias: província do sul de Alagoas; província associada à foz do rio São Francisco; província do norte de Sergipe; província associada à foz do rio Japaratuba e província do sul de Sergipe.
Luiz Carlos Fontes, geólogo e coordenador do Laboratório Georioemar/UFS, explica que a plataforma de Sergipe é caracterizada por um relevo mais diversificado do que o sul de Alagoas e norte da Bahia, com cânions submarinos que adentram na plataforma continental e áreas com relevo resultante da erosão e deposição de terra, constituídas por zonas de lama e de areia, além de bancos carbonáticos, entre outras formações.
Recifes alinhados
Em Sergipe, os recifes submersos ocorrem como um conjunto alinhado e paralelo à linha da costa, constituídos de arenitos na base e recobertos por carbonatos no topo.
Quatro principais feições desse tipo estão presentes em fundo marinho sergipano. Conhecidas popularmente como pedras, são elas: Pedra do Robalo, ao sul da desembocadura do rio São Francisco; Pedra do Grageru, a 30 m de profundidade, em frente a foz do rio Japaratuba; Pedra da Tieta, adjacente a desembocadura do rio Piauí-Real. A quarta formação ainda é pouco conhecida, mas já foi nomeada pelos pesquisadores como Pedra de Aracaju, devido a sua localização a pouco mais de 12 km da praia de Atalaia, litoral de Aracaju. “Os recifes são construções carbonáticas, que se desenvolvem sobre as beach rocks. São eles os registros de antigas linhas de praia, alinhados e paralelos à linha de costa atual e que foram submersos durante a última subida do nível do mar”, explica o geólogo Luiz Carlos Fontes.
O recife submerso de Ponta dos Mangues, conhecido também como do Robalo, ocorre a uma profundidade de 18 m (base) a 10 m (topo). É uma formação descontínua com carbonatos na parte superior com arenitos na base. “Como foram identificadas assembleias de corais no topo, as novas pesquisas destoam do conhecimento anterior que apontava o rio São Francisco como uma efetiva barreira biológica, que impedia desenvolvimento de corais”, aponta Jonas Ricardo, oceanógrafo e especialista em Geologia Marinha, da equipe do Laboratório Georioemar/UFS. Jonas Ricardo lembra que existem vários outros recifes de tamanho menor na plataforma entre Sergipe e Alagoas, porém ainda pouco estudados.
Dentre os quatro recifes do fundo marinho sergipano, a Pedra do Grageru fica submersa no ápice do cânion do rio Japaratuba, a 10 km da linha de costa, inserido em uma zona submersa de sedimentação lamosa. O recife, também conhecido por pescadores como Pedra do Guageru, fica a 30 m de profundidade e se eleva a 5 m de fundo por 50 m de largura e 3 km de comprimento. Essa feição também é formada por arenitos na base, sobrepostos por corais.
A Pedra de Aracaju fica a 30 metros de profundidade, com elevação de 8 m, e possui 12 km de cumprimento por 730 metros de largura. Por ficar em local estratégico de passagem de embarcações no litoral de Aracaju, acredita-se que nas proximidades dela possa haver restos de navios torpedeados no período da II Guerra Mundial.
No dia a dia dos pescadores, os recifes ou popularmente chamados de pedras, são locais estratégicos de pesca por apresentarem concentração de determinados peixes, crustáceos e tipos de algas. Em compensação, as formações rochosas são locais também onde os pescadores, por vezes, perdem o material utilizado na pesca, como as redes que ficam presas nas rochas dos recifes submersos.
Para os pesquisadores do Laboratório Georioemar, os recifes além de se constituírem em formações rochosas submersas, são alvos de estudos por serem também locais de ecossistemas marinhos de grande biodiversidade. Os recifes hospedam ecossistemas marinhos de grande importância. “É preciso realizar mais pesquisas para podermos conhecer e preservar”, ressalta Luiz Carlos Fontes.
Fonte: Assessoria/Georioemar