recente estremecimento das relações diplomáticas entre Turquia e Brasil, em decorrência da moção de apoio do Senado Brasileiro em 02 de junho último para reconhecimento do genocídio Armênio, reacende novas questões sobre a continuidade das relações bilaterais dos dois países a partir da responsabilização da Turquia pelos massacres ocorridos em 1915.
Somente após 6 dias da aprovação da moção, o governo turco manifestou clara desaprovação ao teor do documento, retirando seu embaixador em Brasília, além de pressionar o Brasil, chamando para consultas o embaixador brasileiro em Ancara.
O Genocídio de armênios perpetrado pelo Império Otomano culminou no assassinato de aproximados dois terços da população armênia que ali vivia e na formação de sua grande diáspora pelo mundo. Implicou em grandes perdas territoriais pelos armênios, ratificadas pelo Tratado de Lausanne após a Primeira Guerra Mundial. A partir dessas perdas, se formou a geografia da Turquia atual, responsabilizada pelo genocídio, uma vez sucessora daquele extinto Império.
Transcorrido um século, a Turquia tem sido mais frequentemente pressionada a reconhecer o genocídio armênio, tendo dois fatos marcantes em abril último: o discurso do Para Francisco e a resolução aprovada pelo Parlamento Europeu na busca de abertura de caminhos para a reconciliação entre os povos turco e armênio.
A persistente negação da Turquia pela responsabilização do genocídio armênio tem sido adotada por seus sucessivos governos e relativizada pelo governo do atual presidente Recep Tayyip Erdogan ao admitir que autoridades otomanas cometeram atrocidades contra os armênios, mas tanto a responsabilização pelos massacres e como o uso termo genocídio para nominá-los continuam a ser rechaçados.
A partir da moção de apoio do Senado Federal, o Brasil convida a Turquia a um reposicionamento sobre o genocídio armênio. Sob risco de comprometimento de acordos estratégicos entre os dois países, na melhor das alternativas, acena para que aquele país busque o estabelecimento de laços de cooperação com a Armênia, possibilitando o necessário e urgente crescimento econômico daquele país fronteiriço.
Silvia Paverchi é professora do Departamento de Secretariado Executivo da UFS.
*Artigo publicado originalmente no Jornal O Estadão.