A desertificação tem sido uma temática muito discutida e um problema preocupante para as autoridades governamentais e institucionais de todo o mundo. E no Brasil não tem sido diferente. Mas afinal, que fenômeno é esse que está ocorrendo em diversas áreas e ameaçando outras em todo o mundo, sem que ações efetivas sejam feitas para conhecê-la, combatê-la ou atenuá-la?
Conforme a Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação, a desertificação é definida como sendo a degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e subúmidas secas, resultantes de fatores diversos tais como as variações climáticas e as atividades humanas. Este conceito foi discutido no ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, e hoje é aceito internacionalmente. Como essa definição restringe a ocorrência do fenômeno em terras áridas, semi-áridas e subúmidas secas do mundo, estas regiões somam 33% da superfície terrestre ou aproximadamente cinco bilhões de hectares, atingindo cerca de 100 paises com susceptibilidade de ocorrência da desertificação.
E o Brasil não está ileso. Todo o Nordeste brasileiro, exceto o estado do Maranhão, está incluído no grande mapa das Nações Unidas de áreas desertificadas, atingindo cerca 15,7 milhões de habitantes da região, equivalente a 42,17% .
A desertificação tem sua origem em causas naturais (mudança climática), ação antrópica ou as duas simultaneamente. No que diz respeito à degradação introduzida pelo homem, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FAO (http://www.fao.org.br) deve ser pontuada como tendo cinco categorias básicas. São elas:
1. Na biodiversidade da vasta área do semi-árido brasileiro, devido à atividade agrícola e extrativismo vegetal e animal;
2. Do solo, que pode ocorrer por efeito físico (erosão hídrica ou eólica e compactação causada pelo uso da mecanização pesada) ou efeito químico (salinização ou contaminação por uso de insumos químicos);
3. Das condições hidrológicas de superfície devido à retirada da cobertura vegetal;
4. Das condições geohidrológicas (águas subterrâneas) devido às modificações nas condições de recarga;
5. Da infraestrutura econômica e da qualidade de vida dos assentamentos humanos.
Na região Nordeste, além de contar com agravantes naturais como a escassez e distribuição irregular das chuvas, freqüentes secas e as elevadas temperaturas, existem outras interferências antrópica que tem sido a principal causa, segundo Edmon Nimer (Desertificação: realidade ou mito? RBG. Rio de janeiro: IBGE, n. 50. v. 1, jan – mar, 1988) da desertificação. Dentre elas estão:
- Destruição da cobertura vegetal, levando o solo a ficar exposto a todo o tipo de erosão causando o enfraquecimento ou esterilização do mesmo;
- Uso inadequado do solo por diversos meios como: mecanização pesada, utilização de defensivos de forma errônea e intensa, projetos de irrigação não bem executado e conduzido sem orientação técnica e ambiental adequada provocando assim, a salinização e lixiviação do mesmo;
- Prática da pecuária extensiva tem levado a pressão sobre a vegetação nativa, eliminando a flora local e causando também a compactação do solo pelo pisoteio excessivo e criação além dos limites da capacidade ambiental;
- Agricultura tradicional de sequeiro que tem levado ao esgotamento do solo, pois é realizada de forma intensa sem o pauseio e com prática monocultora.
Assim, além de todas as causas seja de origem natural ou aquelas sob a interferência do homem, a desertificação tem contado com outros aliados como as de origem social e cultural, como a alta densidade demográfica em várias cidades, a concentração fundiária, bem como os baixos níveis culturais e educacionais da população levando a exploração predatória dos recursos naturais renováveis.
Contudo, o planejamento deficitário, a carência de atuação mais enérgica pelos organismos público e institucional, bem como da sociedade organizada agravam ainda mais o quadro atual e projeta um futuro comprometedor. O resultado desse cenário problemático é a gradual diminuição das terras produtivas, o que segundo dados das Nações Unidas vem colocando fora de produção anualmente cerca de seis milhões de hectares (60.000km²) em todo o mundo, com perdas econômicas que giram acima dos seis bilhões de dólares por ano. Com isso, no médio e longo prazo o quadro é tenebroso e preocupante, pois compromete ainda mais os recursos naturais e os problemas socioeconômicos que tendem a evoluírem e repercutirem no desenvolvimento sustentável das sociedades atingidas pela desertificação.
Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.
Currículo
Marlene R. Souza Felicio é professora de geografia da educação básica, mestre em Desenvolvimento Rural e doutoranda pelo Núcleo de Pró-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Sergipe.