Saber Ciência / Maria Helena Santana Cruz
10/09/2009
Pensar os jovens como sujeitos de políticas laborais e sociais é um desafio que mobiliza os governos do mundo, é um tema que, devido à sua urgência e importância, tem conseguido instalar-se na agenda pública e posicionar-se nos diversos âmbitos da vida social. No caso do Brasil, esta também tem sido uma preocupação presente desde a década de noventa do século passado, e na atualidade. Impõem a todos nós – pais, mães, avós – uma preocupação muito grande e uma responsabilidade na busca de soluções.
Os jovens mostram-se fortemente afetados pelas mudanças ocorridas no sistema produtivo, no mercado de trabalho, pela crise das instituições públicas e sociais que tradicionalmente mediatizavam seus mecanismos de integração na vida adulta; encontram-se acossados por baixos níveis educacionais e por exigências crescentes de qualificação e experiência para alcançar a porta de entrada do mercado de trabalho.
Para tentar conter e reverter o quadro negativo de desemprego e pobreza juvenil, os Governos têm tomado iniciativas importantes – porém ainda limitadas em cobertura – na esperança de uma melhoria rápida da conjuntura econômica. O Brasil vem envidando esforços para melhorar o quadro de integração dos jovens. Dentre as principais providências tomadas pelo Governo Federal, têm-se destacado medidas de estabilização da moeda, o que vem permitindo melhorar o planejamento com o objetivo de atrair investimentos, executar medidas pragmáticas de combate ao desemprego, apoiadas em programas de formação profissional (PLANFOR do Ministério do Trabalho e Emprego e outras iniciativas).
Por exemplo, o Programa Nacional de Informática na Educação visa a equipar escolas públicas e a difundir as tecnologias de informação e comunicação enquanto ferramentas de apoio ao ensino, a aprendizagem e à “inclusão digital”. Foi criado pela Portaria 522 de 9/4/1997, é coordenado pela Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação e desenvolvido em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Educação. As novas tecnologias, ao mesmo tempo em que excluem os jovens do mercado de trabalho, abrem-lhes novas portas com a democratização e globalização do conhecimento.
Estudo desenvolvido por CRUZ(2007-2008) acerca das “Trajetórias identitárias de formação de alunos de nível médio de escolas públicas de Aracaju, construídas a partir da categoria trabalho”, informa tendências, desafios, oportunidades de educação, formação profissional e empregabilidade. O êxodo das famílias desses jovens ocorreu da zona rural (campo) para a zona urbana (cidade) em busca de empregos com melhor remuneração, qualidade de ensino, infra-estrutura e acesso a serviços (hospitais, transportes, educação, etc.). Entre 32 entrevistados com idade na faixa de 16 a 25 anos, os conteúdos aprendidos na escola relacionam-se com o trabalho, formas de comunicação, treinamento em matemática, elaboração de contas, acordos de pagamento, leitura de documentos variados, etc. Os empregos por eles obtidos são considerados, precários e concentrados no mercado de trabalho informal. O sentido do trabalho está associado à satisfação das necessidades básicas, possibilidade de independência econômica e autonomia em relação aos seus pais. Nesse sentido, a ampliação da escolaridade formal constitui um meio de mobilidade social e de ampliação da cidadania.
É imprescindível perseguir o ideal de criar mais e melhores empregos para os jovens, de acordo com os princípios fundamentais defendidos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2001), e embutidos numa agenda internacional de promoção de trabalho decente. Considerando-se as dificuldades inerentes à atual conjuntura econômica mundial e nacional, faz-se necessário, no curto prazo, identificar e oferecer aos jovens diversas alternativas de oportunidades de emprego, mesmo que algumas delas sejam de qualidade inferior ao ideal esperado, em condições conjunturais mais favoráveis. No médio prazo, por muito polêmico que isso pareça, haverá necessidade de aumentar a empregabilidade dos jovens, ou seja, a aquisição de competências que o mercado de trabalho requer. Haverá provavelmente necessidade de mais investimento em programas especiais de emprego e, programas de renda mínima, de preferência vinculados a programas de educação e/ou de emprego.
Maria Helena Santana Cruz é Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Coordenadora dos Cursos de Doutorado e Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe.
Saber Ciência é uma coluna semanal de divulgação científica publicada no CINFORM. É uma atividade da Agência UFS de Divulgação Científica, sob coordenação do Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra, e com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe - Fapitec.
Maria Helena Santana Cruz é Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia, Coordenadora dos Cursos de Doutorado e Mestrado em Educação da Universidade Federal de Sergipe.