Seg, 26 de setembro de 2011, 14:13

Sobre uma usina nuclear (I)
Sobre uma usina nuclear (I)

Saber Ciência / Mário Everaldo de Souza e Susana de Souza Lalic



08/06/2010


As usinas nucleares têm sido amplamente utilizadas para gerar eletricidade em diversos países do mundo. Na França, atualmente, quase 80% da eletricidade tem origem nas usinas nucleares e, na Europa como um todo, o percentual chega a algo em torno de 30%. Nos Estados Unidos o percentual é cerca de 20%, e 15% é a média mundial atual. Tendo em vista que a energia nuclear é uma energia limpa (e cada vez mais segura) e considerando-se os vários acordos internacionais para a redução do aquecimento global causado pelo efeito estufa, certamente haverá aumento do uso da energia nuclear nos anos vindouros.


Deve-se ter em mente que normalmente os operadores de uma usina nuclear nunca entram em contato direto com o combustível nuclear. Muitas operações são efetuadas mecanicamente, isto é, robotizadas. E hoje em dia, há muitos sensores e controles de segurança em todos os lugares de uma usina nuclear. Quando ocorre algum problema, a usina é desligada imediatamente. Isto é o que se chama, no jargão técnico, de incidente nuclear. Por exemplo, algum braço mecânico, ao manipular uma barra de combustível, pode não funcionar, deixando a barra presa ou mal colocada.
Há mais de 20 anos, não tem acontecido nenhum acidente nuclear sério em todo o mundo. Em se tratando de acidentes ou incidentes nucleares, existe uma escala para se medir o seu impacto, baseada na escala Richter usada para terremotos. É a escala INES (International Nuclear Event Scale) que é literalmente a escala internacional de eventos nucleares. Ela registra e classifica todos os acidentes, incidentes ou anomalias nucleares de todo o mundo, em usinas nucleares, em reatores nucleares civis e militares e até mesmo em acidentes nucleares que ocorrem em outras circunstâncias, como no caso do acidente com o manuseio de césio radioativo em Goiânia, em 1987. Alias, acidente que não teve nada a ver com usinas nucleares. Ocorreu pelo abandono de uma fonte radioativa usada em hospitais para tratamento de doentes. A fonte teve seu lacre rompido e o material radioativo que ela continha foi espalhado, causando muitos danos.
Na escala INES o acidente mais grave tem nível 7. O único acidente de nível 7 ocorrido foi o de Chernobyl, numa província da ex-União Soviética (hoje, Ucrânia), em 1986. Nesse caso gravíssimo, houve uma explosão no reator com a liberação de material radioativo para o meio ambiente. O reator era muito antigo, da década de 1950, e não tinha a contenção de concreto, que nossas usinas possuem. Além disso, os sistemas de controle que capturam os nêutrons foram desligados, e o reator foi operado até aquecer demais e explodir, como ocorreria em uma panela de pressão com o pino de vapor entupido. Isso não ocorre mais, pois graças ao aperfeiçoamento da segurança, já não é possível desligar o sistema de controle.
O único acidente de nível 6 foi o ocorrido em Mayak, também na ex-União Soviética (hoje, Rússia), em 1957. Nesse caso não foi em uma usina nuclear, mas em uma planta de reprocessamento de combustível nuclear. O reator era de tecnologia muito antiga e não tinha dispositivos de segurança adequados.
Desde 1990 até os dias de hoje todos os acidentes mais sérios foram de nível 4 ou 3 na escala INES. Dois acidentes de nível 4 ocorreram, um em 6 de abril de 1993 em Tomsk, Rússia, e o outro em 30 de setembro de 1999 em Tokai-mura, Japão. De acordo com a escala INES, um acidente de nível 4 é aquele com efeitos restritos ao interior da usina nuclear e sem consequências para a população local ou para o meio ambiente. No acidente de Tokai-mura, por exemplo, houve o falecimento de 2 operadores da usina nuclear. Entretanto, podemos comparar com acidentes que ocorrem, por exemplo, em usinas a carvão. A mineração do carvão provoca inúmeras mortes pelo mundo.
Entre 2000 e hoje houve apenas 6 incidentes nucleares sendo dois de nível 3, dois de nível 1 e dois sem níveis definidos. Na escala INES incidentes com nível 3 são incidentes sérios, mas sem danos à saúde da população local ou dos operadores da usina. Os dois incidentes de nível 1 acima mencionados ocorreram na França em 2008 em duas usinas diferentes. De acordo com a escala INES um evento de nível 1 é apenas uma anomalia, sem nenhum dano sério.
Na semana que vem, abordaremos o funcionamento de uma usina nuclear, e explicaremos porque a energia nuclear é chamada de “energia limpa”.


Currículo
Mário Everaldo é professor do Departamento de Física da UFS desde 1990, Mário Everaldo de Souza se doutorou em Física em 1990 pela University Of Illinois At Chicago (UIC), Estados com Unidos e possui Especialização em Engenharia Nuclear.

Susana de Souza Lalic se doutorou em Física em 2002 pela Universidade de São Paulo (USP). Professora do Departamento de Física da UFS desde 2004, ela tem orientado diversos projetos de mestrado e doutorado na proteção radiológica e energia nuclear.


Atualizado em: Seg, 26 de setembro de 2011, 14:14
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