Saber Ciência / Luiz Amaro Ribeiro
08/06/2010
Prestes a comemorar seu aniversário de debutante, o jornalismo online no Brasil alcança hoje uma audiência diária contada aos milhões - volume comparável ao telejornalismo, muito longe do seu congênere impresso. Tomada pelos jornais em meados da década de 90, a internet já chega a 62,3 milhões de brasileiros, informa pesquisa do Ibope Nielsen Online divulgada em junho passado. Somente nas residências há 38,2 milhões pessoas com acesso.
Claro que ainda torna-se pouco ao confrontar com a população total de 190 milhões. Mas sugestivo, pois é compatível com uma Inglaterra ou uma França. Mesmo que nem todos saibam ou tenham acesso à grande rede, o "bater no computador" transformou-se na maneira mais fácil e democrática na busca por informação, serviço ou simplesmente passatempo.
Uma notícia na internet chega a ser encantadora, a depender do tema. Pode vir ilustrada não apenas com fotos, mas com uma gama maior de apetrechos: vídeo, áudio, infográfico, hipertexto. Essa convergência traz consigo ainda a oportunidade de o leitor/receptor interagir com o que é noticiado, seja através de grupos de discussão seja através de bate papos (chat) com especialistas.
"A novidade introduzida pela informática está justamente na possibilidade que ela abre de fundir num único meio e num único suporte todos os outros meios e de invocar todos os sentidos (ou, por enquanto pelo menos, os mais desenvolvidos do homem)", diz Arlindo Machado (“Hipermídia: o labirinto como metáfora”, 1997).
As características do jornalismo online encontram observações em diversos estudos. O pesquisador Marcos Palácios e outros pesquisadores ligados a Universidade Federal da Bahia, em “Um mapeamento de características e tendências no jornalismo online brasileiro e português”, 2005, enumeram, dentre outros, a atualização contínua da notícia e a memória. Neste caso, eles afirmam que "o acúmulo das informações é mais viável técnica e economicamente do que em outras mídias. Sem as limitações anteriores de tempo e espaço, o jornalismo tem a sua primeira forma de memória múltipla, instantânea e cumulativa".
Neste mapa de caracterização do webjornalismo, J.B. Pinho, em “Jornalismo na internet”, 2003, traz duas colocações, dentre outras, para confrontar com o jornalismo impresso: não-linearidade da informação e fisiologia. No primeiro caso, ele expõe que “na internet o leitor tem a possibilidade de ler em blocos que devem ser curtos e completos para permitir uma leitura em camadas de aprofundamento”; no segundo, o estudioso diz que “a leitura na tela causa maior fadiga visual do que a leitura no papel, daí a necessidade de se adequar os conteúdos ao meio”.
De um processo que se iniciou apenas com a transposição da versão impressa para a internet - tendo como primeiro exemplo o Jornal do Brasil, que em 1995 lançou edição jornalística completa -, o jornalismo online debate não apenas sua linguagem, mas também sua rentabilidade. Como sustentar uma empresa que tenha como base apenas a publicidade num campo altamente competitivo?
Cobrar pelo conteúdo pode ser uma saída. Mas como fazê-lo se a própria grande rede distribui um campo gigantesco (e gratuito) de informação? Buscar novos públicos pode ser outro caminho, como informativos para moradores de um bairro, gays etc. Um caso de sucesso constitui-se da aliança entre o portal UOL e a Folha de S.Paulo. Como o portal presta um serviço mais abrangente, e muitas vezes cobra assinatura por alguns deles, isso acaba sendo um dos canais de receita do jornal. Mas, nesta questão de obtenção de recursos, o campo é amplo e encontra-se ainda aberto à criatividade.
Debates à parte, um dado importante a se destacar no webjornalismo trata-se da hora e da vez do público. O jornalismo online é feito, agora, a quatro mãos. O leitor, em muitas ocasiões, faz as vezes de “jornalista” (vide espaços “Eu repórter”). E é aí onde se desenvolve o perigo. A checagem, apesar de toda rapidez solicitada pela internet, torna-se um atributo cada vez mais indissociável do bom jornalismo. Mas este assunto vai longe e pode ser tema de um outro artigo.
Jornalista da Ascom/UFS. O presente artigo foi escrito como exigência parcial para a disciplina “Linguagem do texto digital”, ministrada em 2009 pela Profa. Dra. Lilian França, junto ao Mestrado em Letras/UFS.