Seg, 26 de setembro de 2011, 14:42

Produção e cópia: por uma tipologia do plagiador
Produção e cópia: por uma tipologia do plagiador

Saber Ciência / Lilian França


08/06/2010


Este artigo é antes de tudo uma tentativa de dicutir a questão do plágio e quem sabe inibir certo tipo de ação que vem ocorrendo cada vez mais frequentemente na academia e também fora dela. Imaginem se um de nós apresentássemos como abertura de uma cerimônia, festa ou evento a conhecida “Aquarela do Brasil”; mas antes de começar a tocar a música anunciássemos a todos que iriam ouvir uma composição nossa. Seria ridículo, um absurdo, afinal mesmo quem não sabe quem é o autor sabe que não foi nenhum de nós.


Nos meios acadêmicos tem muita gente posando de Ary Barroso (o autor de “Aquarela do Brasil”, 1939) e esquecendo de dar créditos aos autores. Esse tipo de cópia sempre existiu, mas com a Internet a facilidade de buscar o texto e imediatamente transpô-lo para um outro contexto tem feito com que muitas pessoas percam os limites do bom senso. Um trabalho acadêmico deve ser sustentado pelo pensamento de vários autores, o que não se pode fazer, de modo algum, é deixar de citar o autor.
Chocada com os casos cada vez mais freqüentes de plágio em trabalhos universitários, e com a completa indiferença pelas normas éticas e legais (plágio é crime) que levam várias pessoas a lançar mão da cópia indevida, comentei o assunto com alunos e colegas e decidi apresentar uma primeira tipologia do plagiador, mais a título de desabafo pessoal e na esperança de desincentivar as pessoas de agirem dessa forma. Então vamos a uma primeira tipologia.
O primeiro tipo é o “Plagiador Ctrl C+Ctrl V”, sem escrúpulos copia e cola qualquer coisa de qualquer lugar e deixa como sendo texto de sua autoria. Desse tipo de plagiador já encontrei citações de filósofos (pobre Aristóteles), antropólogos (o recém morto Lévi-Strauss teve seus “Tristes Trópicos” retalhado) e até, pasmem, da Bíblia. Na linha “Ctrl C+Crl V” é inesquecível o texto copiado sem citação de um atlas anatômico!
O Segundo tipo é o “Plagiador Ah, Esqueci”, ele não copia tudo igualzinho, como seu colega do primeiro tipo, mas copia um pedaço daqui, outro dali e o texto fica meio “sem pé nem cabeça” e quando o professor pergunta se o texto é dele mesmo imediatamente responde “Ah, esqueci de colocar a fonte, sabe como é, a correria...”.
O Terceiro tipo é o “Plagiador Reformulador”. Esse dá um pouco mais de trabalho para identificar, pois ele troca as palavras, os termos mais chamativos – tive uma aluno que trocou “socioeconômico” por “social e econômico” (sic) – por palavras mais simples e corriqueiras, mas como para bom leitor meia palavra basta, em cinco minutos dá para saber que o texto não é dele.
O Quarto tipo é o “Plagiador Bilíngüe”, aquele que ou domina outro idioma e traduz direto como se o texto fosse seu (e nesse caso temos exemplos como os dos físicos da USP, acusados de plagio internacional) ou usa um programa tradutor para verter o texto para o português.
O Quinto tipo é o “Plagiador Preguiçoso”, que paga alguém para plagiar para ele, nem quer saber de fazer nada e vai logo pagando pelo plágio. Ou será que alguém acha que trabalho comprado pronto é inédito? Será?
O Sexto e último tipo, pois jurei que só iria colocar seis, até para não divulgar as técnicas mais recentes de plagio que descobri, é o “Plagiador Empresário”, aquele que ganha dinheiro plagiando. Um dia desses, desconfiada de um trabalho muito bom que surgiu 'do nada”, fui sabatinar o aluno e disse que sinceramente pensei que o trabalho não tivesse sido feito por ele, ao que ele me respondeu: “Professora, imagina, sou eu que faço trabalho para todos os cursos e preparo para a defesa também!”(sic).
Acho importante destacar pelo menos dois pontos: primeiro, a Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998, regula os direitos autorais e prevê as sanções por cópia, plágio e uso indevido; segundo, já existem vários mecanismos analisadores de texto que ajudam a identificar o plagio, na forma de farejadores e rastreadores. Mas, de verdade, a experiência do professor ainda é a melhor forma de coibir esse tipo de abuso, pois em geral, reconhecemos rapidamente os “Arys Barrosos”.


Currículo
Pós-doutora pela Unicamp, professora do DAC/UFS e professora colaboradora do Mestrado em Comunicação e Artes Visuais da Universidade do Algarve - Portugal.


Atualizado em: Seg, 26 de setembro de 2011, 14:43
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