Saber Ciência / Zélia Soares Macedo
08/06/2010
Você pode pensar nesta máquina como o maior e mais potente microscópio da história da Ciência. O Grande Colisor de Hádrons (LHC) foi construído, na fronteira entre a França e a Suíça, por uma equipe de cientistas de várias nacionalidades, inclusive brasileiros. Os físicos do LHC esperam estar começando uma nova era nas pesquisas em Física de partículas, reproduzindo as condições do Big Bang que criou o Universo.
A máquina foi inaugurada no final do ano passado, entrou em manutenção apenas 10 dias após a sua inauguração, mas deverá voltar à ativa dentro de mais dois meses. Cientistas do mundo todo já estão ansiosos para obter os primeiros resultados das colisões. A equipe do LHC é composta por 181 institutos de pesquisas de diversos países. A participação brasileira envolve pesquisadores, professores, estudantes de universidades e institutos de pesquisa, que são apoiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Devido à grandiosidade da obra, desde a inauguração o LHC já chamou a atenção do público do mundo todo. Como era de se esperar, espalharam-se falsas notícias de que o experimento pode criar milhares de pequenos buracos negros que poderiam se juntar em um só. O buraco negro resultante dessa fusão começaria a sugar a matéria a sua volta e a crescer, iniciando um processo em cadeia que acabaria por engolir a Terra. Em seu livro de ficção Anjos e Demônios, o escritor Dan Brown descreve também a criação de anti-matéria no LHC, em quantidade suficiente para produzir uma grande explosão.
O CERN, no entanto, garante que as notícias sensacionalistas são infundadas e que a ficção de Dan Brown não corresponde à realidade. Os cientistas do CERN não descartam a possibilidade de anti-matéria e buracos negros se formarem após as colisões de prótons dentro do LHC, mas afirmam que eles não teriam energia suficiente para se manter. Em frações de segundo se desintegrariam em partículas inofensivas. Os físicos do laboratório europeu argumentam ainda que raios cósmicos, com energia muito maior que a dos feixes de prótons usados no acelerador, colidem o tempo todo com a Lua há 4,5 bilhões de anos e o astro permanece intacto.
O medo de que a ciência pode destruir o mundo é recorrente na civilização moderna. Antes dos primeiros testes com bombas de hidrogênio, nos anos 50, havia boatos de que a explosão desses artefatos iria incendiar os gases da atmosfera. Evidentemente, isto não aconteceu. A utilização de usinas nucleares para abastecimento energético enfrenta atualmente o preconceito de pessoas que pensam que a existência destas usinas envenenaria a Terra, o que também não é real. É muito difícil, até mesmo para cientistas treinados, entender os mecanismos envolvidos na colisão de partículas. Como o homem teme aquilo que não entende, não é raro encontrar gente que enxergue efeitos nocivos nas pesquisas com o LHC. Felizmente, porém, a curiosidade científica é uma alavanca poderosa, que supera os preconceitos e nos mantém na busca por novas tecnologias, mais qualidade de vida e um melhor entendimento da natureza através da Física.
Professora do Departamento e do Núcleo de Pós-Graduação em Física. Doutora em Física pela Universidade de São Paulo.