Josué Modesto dos Passos Subrinho
29/03/2011
Com a solenidade de colação de grau das primeiras turmas dos cursos de graduação do Campus de Laranjeiras, ocorrida em 19 de fevereiro, marcamos uma importante etapa no processo de consolidação dessa unidade da Universidade Federal de Sergipe e do seu processo recente de expansão.
Pouco antes daquela solenidade, tivemos a grata satisfação de recebermos a aprovação pela CAPES, agência oficial do Ministério da Educação para avaliação e fomento da pós-graduação, da aprovação do primeiro mestrado da UFS localizado em Campus do interior, o Mestrado em Arqueologia, o qual recebeu o conceito 4, habilitando-o, portanto, a pleitear a implantação de um doutorado.
Gostaria de reconstituir alguns aspectos da implantação do Campus de Laranjeiras, visto que por vezes se acusou a Universidade Federal de Sergipe de total irresponsabilidade na aceitação do desafio de construir um novo campus, um semestre após o início da construção do primeiro campus do interior, o de Itabaiana.
Ao assumir, no ano de 2004, a direção da Universidade Federal de Sergipe, nos imbuímos no firme propósito de não deixarmos passar oportunidades para o crescimento da UFS, visto termos uma percepção de que nossa universidade perdera, em algumas ocasiões, o momento oportuno para expansão e qualificação.
Devemos confessar que tivemos ao menos duas chances para decidir pela construção deste Campus. A primeira foi apresentada por técnicos da unidade local do Projeto Monumenta à procura de instituições de ensino superior dispostas a aproveitar o espaço de prédios que seriam restaurados no sítio histórico de Laranjeiras para o funcionamento de cursos que fixasse uma população estudantil na sede deste velho município propiciando uma troca de culturas e de bens materiais capazes de dar novo elam econômico social a uma população que aparentemente estava fadada a assistir a vibração do mundo capitalista em expansão e, ocasionalmente, se envergonhar de sua rica herança cultural associando-a a presente prostração econômica.
Devo dizer, que não obstante o apelo que a proposta tinha, ela não se coadunava com as diretrizes que o Ministério da Educação então fixara para a expansão das Universidades Federais. A palavra chave era interiorização e para esta, a posição de Laranjeiras era desfavorável, sendo praticamente arrabalde da Capital, não poderia rivalizar com Estância, Propriá, Nossa Senhora da Glória, Itabaiana ou Lagarto, cidades-pólo de regiões e relativamente distantes de Aracaju.
A segunda chance foi apresentada pelo Presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Luiz Fernando Almeida ao nos expor um modelo de nova abordagem da expansão das universidades federais, negociada com o MEC, que combinava expansão, não necessariamente interiorização, com a oferta de cursos de interesse para o desenvolvimento cultural do Brasil que, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, não eram ofertados quer pela rede pública de ensino, quer pela rede privada. Voltei de Brasília fascinado pela proposta.
A oportunidade de ofertar os cursos de Teatro, Dança, Museologia, Arqueologia e, Arquitetura e Urbanismo, todos com a exceção do último, inéditos em terras sergipanas me parecia imperdível. Evidentemente não tínhamos ilusões quanto aos possíveis percalços, quanto às conhecidas lentidões e descontinuidades das obras de restauração do patrimônio histórico e artístico, quanto à indigesta combinação dos ritos legais e burocráticos brasileiros com as checagens dos organismos internacionais co-financiadores do programa. Tudo pesado, decidimos pela imediata adesão ao programa.
Seria absolutamente desnecessário relatarmos as alegrias e sofrimentos na construção deste Campus Universitário, o que importa, neste momento é celebrarmos a conquista dos estudantes, professores e técnicos que não desistiram do sonho que ousaram desafiar todos os revezes e persistiram na luta e, especialmente, agradecer aos pioneiros na implantação deste Campus, dentre os quais destacaria: os professores José Airto Batista, Marcelo Maciel, Adriana Dantas Nogueira, Genésio José dos Santos, Cleonice Vergne, Verônica Menezes e José Raimundo Galvão. Destacando o senhor Josa, homenageio todos os colegas técnicos-administrativos que lutam pela consolidação dos cursos do Campus de Laranjeiras.
Será que a Odisséia aqui omitida, mas por todos imaginada ou conhecida, nos autoriza a esperar uma tranqüila e permanente colheita de louros?
Acredito que não. Nem mesmo Ulisses, tendo superado todos os obstáculos urdidos pelos homens e divindades, pôde sossegar ao retornar ao lar, em Ítaca.
Seria oportuno recapitular as palavras finais da Professora Emérita Beatriz Góis Dantas, maior estudiosa das manifestações da cultura popular em Laranjeiras, em sua aula inaugural deste Campus:
“Louvores também à Universidade Federal de Sergipe, pela instalação do Campus em Laranjeiras e pelo elenco de cursos escolhidos em consonância com o ethos local, acentuando que o espaço destinado a sediar a instituição é carregado de simbolismo. Repousa em alicerces que se aprofundam em raízes embebidas na história desta cidade. Os velhos trapiches que, no passado, armazenavam o açúcar para exportação gerando a riqueza de Laranjeiras, ganharão novos usos e significados. Ao abrigar salas de aula e laboratórios, vão se transformar em lócus de produção e transmissão do saber, pólos armazenadores e difusores das riquezas do espírito. Mas não um saber diletante, simples adorno, mas um saber voltado para a prática das atividades profissionais, de encaminhamento das novas gerações.”
Esperamos poder atender às expectativas de nossa grande mestra.
Currículo
Reitor da UFS.