Seg, 02 de janeiro de 2012, 14:36

Professora de Itabaiana recebe prêmio nacional
Professora de Itabaiana recebe prêmio nacional
Professora Lívia de Rezende Cardoso [Foto: Arquivo pessoal].
Professora Lívia de Rezende Cardoso [Foto: Arquivo pessoal].

A solenidade de entrega do prêmio ocorrerá em Brasília até abril de 2012


O 7º Prêmio “Construindo a igualdade de gênero” laureou, na categoria estudantes de doutorado, o artigo da professora do campus de Itabaiana da Universidade Federal de Sergipe Lívia de Rezende Cardoso. Com o título “Conflitos de uma bruta flor: governo e quereres de gênero e sexualidade no currículo do fazer experimental”, o artigo foi orientado pela professora Marlucy Alves Paraíso, da Federal de Minas Gerais, onde Lívia faz seu doutorado. A solenidade de entrega do prêmio ocorrerá em Brasília até abril de 2012.


#IMG#O objetivo do prêmio - que é um concurso de redações, artigos e projetos pedagógicos - é estimular a reflexão e a pesquisa sobre as desigualdades que existem entre homens e mulheres e como isso também engloba questões de raça, classe social e sexualidade. Espera-se, também, sensibilizar a sociedade sobre essas questões.


O artigo de Lívia é parte de sua tese de doutorado, que será defendida em agosto de 2012 na UFMG. Lá, ela integra o Grupo de Estudos e Pesquisas em Currículos e Culturas (GECC). Na UFS, é professora efetiva do Departamento de Educação de Itabaiana (DEDI) e leciona as disciplinas de Ensino de Ciências, Educação Ambiental e Educação e Corporeidade.


A bruta flor


O título do artigo da professora da UFS faz menção à letra da música “O quereres”, composta e interpretada por Caetano Veloso no disco “Velô”, de 1984. Lívia conta que, por usar de teorias pós-críticas, tem maior liberdade para buscar em artefatos culturais formas de expressão. No linguajar de sua pesquisa, o termo “quereres” é usado para denominar um conjunto de idéias, valores e poderes que determinam os padrões de comportamento e de formação de sujeitos, neste caso, em sala de aula.


Durante um ano, ela observou as aulas experimentais de Ciências numa escola pública de Belo Horizonte (MG) e fez um diário de campo para sua pesquisa de doutorado. A tese observa os modos de construção de sujeitos em aulas experimentais. Dentro disso, existem as questões de gênero, que foram exploradas nesse artigo, feito para o concurso.


“O currículo trabalha sexualidade como extensão do sexo: gênero igual a sexo”, diz Lívia. Segundo ela, o sexo é uma característica biológica, enquanto que o gênero e a sexualidade são construções culturais. O currículo estudado por ela estabelece dois gêneros, masculino e feminino, e duas formas específicas de como os integrantes de cada gênero devem proceder. Isso recebe o nome de “heteronormatividade”, e Lívia explica quem não tem a ver com orientação sexual: muitos meninos homossexuais, por exemplo, se esforçam para se comportar de acordo com o que se espera do gênero feminino, e isso é agir de forma heteronormativa.


Na pesquisa, Lívia percebeu que os professores conduzem suas aulas e usam determinados termos de modo a ensinar como os pertencentes de cada gênero devem se comportar, visando também “produzi-los” para futuras funções sociais, e sempre tendo em mente que o sexo biológico deve determinar o gênero cultural. As meninas são condicionadas a serem meigas, quietas, preocupadas com a beleza, e no artigo são chamados de “florzinhas”. Já os meninos são ensinados a serem fortes, competitivos, resistentes, e no artigo são chamados de “espinhos”.


A aluna que Lívia chama de “bruta flor” é aquela que se mostra entre as duas idéias de gêneros. Ela é considerada a mais inteligente, e não aceita ficar apenas realizando experiências como as outras meninas, enquanto só os meninos são convidados a refletir sobre elas. Entendendo a pesquisa, a bruta flor não incomodaria tanto nem se fosse igual aos meninos, mas incomoda colegas e professores, pois não está dentro do padrão de nenhum dos dois gêneros.


“Não fiz uma análise de guerra entre os gêneros, quis mostrar como eles são construídos”, diz Lívia. Segundo ela, meninos e meninas, independentemente da orientação sexual, sofrem com tantas exigências de comportamento dentro da própria escola. “Tudo isso mostra o quanto gênero é uma construção cultural”, conclui.


Sobre o prêmio


O concurso de redações, artigos e projetos pedagógicos é realizado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela entidade das Nações Unidas ONU Mulheres, pelos ministérios da Educação e Ciência e Tecnologia e pela Secretaria de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal.


A premiação é dividida por categorias: mestres e estudantes de doutorado (como Lívia Cardoso); graduado, especialista e estudante de mestrado; estudante de graduação; estudante de ensino médio; escola promotora de igualdade de gênero. Os estudantes do ensino médio concorrem com redações, as escolas promotoras concorrem que projetos pedagógicos de combate as desigualdades e discriminações, e os alunos e pesquisadores de nível superior concorrem com artigos científicos.


Na edição de 2011, houve 3.965 inscritos, e em sua categoria Lívia concorreu com mais 121 doutorandos de todo país. Nas premiações serão distribuídos computadores, bolsas do CNPq, assinaturas da Revista Estudos Feministas e Cadernos PAGU.


Os trabalhos foram avaliados por duas comissões julgadoras, uma para trabalhos de nível médio, e outra para trabalhos de nível superior. O prêmio foi criado em 2005, e faz parte do programa Mulher e Ciência da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal.


Ascom


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Atualizado em: Ter, 03 de janeiro de 2012, 14:52
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