Josafá Neto | Rádio UFS - A zona leste lidera a incidência de casos da covid-19 em Aracaju, mas as maiores taxas de mortalidade e letalidade da doença na capital estão na zona norte. É o que revela o estudo epidemiológico divulgado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), nesta quinta-feira, 18, no âmbito do projeto EpiSergipe.
A análise foi feita com base nos dados epidemiológicos do município até o dia 16 de junho deste ano. Com 9.849 casos confirmados até o fechamento do estudo, a capital concentrava 60,5% dos registros da doença em todo o estado de Sergipe. Neste contexto, tendo uma população estimada, segundo o IBGE, em 657.013 habitantes, a taxa de incidência do novo coronavírus é de 150 casos para cada 10 mil habitantes.
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"Estamos sugerindo um acompanhamento de pelo menos mais duas semanas para que se tenha uma noção mais tangível do comportamento da covid-19 em Aracaju em termos de mortalidade. Além disso, a investigação da evolução dos óbitos por zonas urbanas poderá contribuir para o planejamento estratégico do município no enfrentamento da epidemia. O projeto EpiSergipe da UFS continuará com o monitoramento da evolução dos óbitos por covid-19 e fará a emissão periódica de novas notas técnicas com os resultados destas avaliações," destaca o coordenador do laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Ricardo Martins Filho.
O estudo epidemiológico desenvolvido pela universidade foi apresentado, por videoconferência, ao prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, nesta quarta-feira, na ocasião da reunião do Comitê de Operações Emergenciais (COE) do município.
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Incidência de casos por zonas
Considerando a incidência da doença para cada 10 mil habitantes, a maior taxa tem sido registrada na zona leste com 201,6 casos. A zona oeste aparece com 154,9 casos para cada 10 mil habitantes, seguida da zona sul com 119,6 casos, e norte com 107,9.
Já os cinco bairros da capital sergipana com as maiores taxas de incidência de casos confirmados de coronavírus para cada 10 mil habitantes são: Jardins (301,6 casos), Centro (292,1), Jabotiana (286,7), Salgado Filho (250,3) e Treze de Julho (244,0).
Mortalidade e letalidade por zonas
A zona norte apresenta a maior taxa de letalidade da doença no município, com 1,8% de óbitos do total de casos confirmados na região. A maior taxa de mortalidade também tem sido observada nessa zona com 2,0 mortes para cada 10 mil habitantes. Em seguida, estão as zonas leste com taxa de 1,9 óbitos, oeste com 1,7, e sul com 0,8. Ao todo, Aracaju tem registrado aproximadamente 2,5 óbitos para cada 10 mil habitantes.
Neste cenário, 11 bairros da capital sergipana tem taxas de mortalidade superiores a 2,5 óbitos para cada 10 mil habitantes. São eles: Cidade Nova, Industrial, Santos Dumont e Soledade (zona norte); Novo Paraíso e Siqueira Campos (zona oeste) e; Centro, Getúlio Vargas, Salgado Filho e Suissa (zona leste); e Atalaia (zona sul).
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Incidência na população idosa
O estudo mostra ainda que, até o dia 16 de junho, 1.089 casos foram registrados em pessoas acima dos 60 anos de idade. Isso representa 11,1% do total de casos de covid-19 em Aracaju. Nesta faixa etária, a capital tem uma taxa de incidência de 122,2 casos para cada 10 mil idosos. Os maiores coeficientes estão no Centro (530,5), Jardins (195,6), Treze de Julho (182,8), Atalaia (177,6) e Salgado Filho (170,7).
Outro dado que chama a atenção é o aumento significativo do número de internamentos por covid-19 no município, seja em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) ou em leitos clínicos. Metade destes internamentos, segundo a pesquisa, são de pessoas acima dos 60 anos, a maioria tendo apresentando algum tipo de comorbidade.
Taxa de mortalidade em idosos
Aracaju já contabilizou 160 mortes por causa de complicações pelo novo coronavírus. Desses óbitos, 103 (64,5%) foram de pacientes com mais de 60 anos de idade. São 11,5 mortes para cada 10 mil idosos na capital sergipana, sendo que a maior taxa de mortalidade na população idosa do município também é observada na zona norte com 10,3 óbitos, seguida da zona oeste (8,7), zona leste (6,8), e zona sul (5,9).
"Um dos resultados mais importantes desse estudo epidemiológico demonstra que as maiores taxas de mortalidade e letalidade, em Aracaju, ocorrem em zonas e bairros mais pobres, mostrando como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) acaba impactando no número de óbitos pela doença. Este é um fenômeno que também tem sido observado em outras regiões do país," ressalta o professor Paulo Martins Filho.
Tempo médio de sobrevida
Os pesquisadores também analisaram os dados completos de 76 pacientes que foram a óbito por covid-19 na capital sergipana. A conclusão é que o tempo médio de sobrevida foi de aproximadamente 15 dias, a partir do início dos primeiros sintomas da doença. Neste caso, 25% dos pacientes sobreviveram somente até 8 dias após o aparecimento de sintomas, 50% entre 9 e 19 dias, e os demais entre 20 e 69 dias. Já em relação a idade e sexo, não foram observadas diferenças no tempo de sobrevida.
Aumento de casos acumulados
Nos últimos 30 dias, o aumento de casos acumulados foi de 700% na capital do estado. Além disso, a décima primeira semana epidemiológica, entre os dias 10 e 16 de junho, registrou um crescimento de 38% no número de óbitos em relação a semana anterior.
Além de Paulo Ricardo Martins Filho, a nota técnica é assinada pelos professores Lucindo Quintans Júnior e Adriano Antunes Araújo, do departamento de Farmácia e dos programas de pós-graduação em Ciências da Saúde e em Ciências Farmacêuticas da UFS, e Victor Santana, do Centro de Epidemiologia e Saúde Pública da UFAL.
Projeto EpiSergipe
A Universidade Federal de Sergipe firmou uma parceria com o Governo de Sergipe para o desenvolvimento de um projeto que visa acompanhar o grau de contaminação e os impactos do novo coronarívurs em Sergipe. O investimento será de R$4.160.000,00 através de emenda parlamentar. Subdividido em três vertentes, o projeto terá duração de um ano e consiste em monitorar o nível de infecção por covid-19, identificando-se a prevalência em quinze municípios, estimar os impactos socioeconômicos da pandemia no estado e acompanhar os impactos sociais da pandemia em populações vulneráveis.
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