Ter, 24 de novembro de 2020, 15:37

Aplicativo desenvolvido na UFS auxilia neurocirurgias minimamente invasivas
Tecnologia permite localização de tumores cerebrais em pacientes oncológicos
Tecnologia busca auxiliar procedimentos neurocirúgicos. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS
Tecnologia busca auxiliar procedimentos neurocirúgicos. Foto: Josafá Neto/Rádio UFS

Abel Victor e Josafá Neto | Rádio UFS - O neurocirurgião Bruno Fernandes encontrou na tecnologia uma fonte de inspiração para desenvolver um aplicativo, cuja finalidade é auxiliar equipes médicas em procedimentos neurocirúrgicos. O Neurokeypoint AR, como foi denominado o app, permite a localização de tumores intracranianos, de forma precisa, a partir do reconhecimento automático de marcadores colocados na cabeça do paciente com o uso do aparelho celular.

Doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o médico se debruça sobre a tecnologia há cerca de dois anos. O intuito é possibilitar a realização de neurocirurgias minimamente invasivas.

“Inicialmente, a gente desenvolveu um outro aplicativo que não utilizava recurso de cirurgia guiada por imagem. A gente já tem mais de 80 casos feitos por esse outro aplicativo, que, na verdade, utilizava um compasso. A evolução desse aplicativo que utilizava um compasso, justamente, é esse que utiliza recursos de realidade aumentada para poder conseguir essa precisão na execução de neurocirurgias”, explica.

Bruno Fernandes destaca que a ferramenta inovadora permite a realização de cirurgias menos agressivas e com menor margem de erro com relação à identificação das lesões. “Se eu tenho um dispositivo que me permite a localização precisa da lesão , eu consigo fazer uma cirurgia menor, abrir menos o paciente, fazer uma craniometria menor, menor lesão, e presumidamente, um melhor resultado do procedimento.”

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Bruno Fernandes é o idealizador da ferramenta inovadora para neurocirurgias
Bruno Fernandes é o idealizador da ferramenta inovadora para neurocirurgias

O estudante do segundo período do curso de Medicina da UFS, Guilherme Almeida, atuou no desenvolvimento da programação do aplicativo. Ele conta que o interesse pela pesquisa surgiu diante do desafio de estudar a fronteira do conhecimento entre a computação e a medicina. “Eu basicamente peguei da programação o conhecimento de álgebra linear, a linguagem swift da Apple, a biblioteca da Apple. E eu juntei tudo isso com os princípios neurocirúrgicos já existentes para desenvolver esse aplicativo.”

O app busca facilitar o acesso de pacientes às neurocirurgias diante do custo elevado desse tipo de procedimento. “Não estamos falando de baratear a percentagem de 30%, mas sim de utilizar um recurso de celular, ou seja, não há recurso adicional despendido. Então, fica difícil fazer a comparação de R$ 300 mil, R$ 400 mil, R$ 500 mil, versus nada. A vantagem, quanto ao custo, é absurdamente alta”, diz Fernandes.

Bruno ainda pontua que o app não substitui completamente o neuronavegador. “O neuronavegador vai ser utilizado em outras situações onde o aplicativo não está preparado ainda para auxiliar Mas o que a gente pode dizer: em grande parte das situações, em grande parte às funções do neuronavegador, que seriam de localizar a região onde a gente vai fazer a craniometria, o aplicativo consegue ajudar nisso.”

Os pesquisadores utilizaram a ferramenta, pela primeira vez, há cerca de um mês, para retirada de um tumor de um paciente do Hospital de Cirurgia, em Aracaju, onde Bruno realiza a pesquisa em parceria com o Grupo de Neurocirurgia Oncológica. “Você tem uma ferramenta que permite uma localização, planejamento cirúrgico muito mais fino no contexto, inclusive no Sistema Único de Saúde, o SUS,” aponta Guilherme Almeida.

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Guilherme Almeida atua na pesquisa na fronteira entre computação e medicina
Guilherme Almeida atua na pesquisa na fronteira entre computação e medicina

“A gente quer testar qual é a performance dele em outros ambientes de luminosidade, em outros aparelhos. Como a gente sabe, a gente tem diversos tipos de aparelhos com hardware diverso. Então, a gente quer ver como o aplicativo vai se comportando nesses diferentes aparelhos, para quando a gente tiver segurança da consistência de funcionamento dele em várias situações, liberar com segurança para outros profissionais também fora do ambiente institucional”, ressalta Bruno Fernandes.

Câncer do SNC

Os tumores do Sistema Nervoso Cerebral (SNC), formado por médula espinhal e cérebro, “devem-se ao crescimento de células anormais nos tecidos” e representam “de 1,4 a 1,8% de todos tumores malignos no mundo”, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Cerca de 88% dos tumores de SNC acometem o cérebro.

As causas do câncer de SNC ainda são investigadas, mas, atualmente, há o entendimento de que a doença é provocada pela soma de diversas alterações genéticas. Os fatores, aponta o Inca, que aumentam o risco de desenvolver a doença são: exposição à radiação ionizante e deficiência do sistema imunológico.

Os principais sinais e sintomas são: dor de cabeça com alarmes, ou seja, com aumento de frequência e piora da intensidade, por exemplo, epilepsia e outras crises convulsivas e perda de funções neurológicas. Para diagnóstico, é preciso que o indivíduo relate os sintomas ao médico para realização de exames físicos e neurológicos.

Segundo o Inca, cerca de 11 mil pessoas devem ser diagnosticadas com tumores do SNC para cada ano do triênio 2020-2022 no Brasil, sendo 5.870 homens e 5.230 mulheres. No estado de Sergipe, são estimados, ao longo deste período, 270 casos.

Veja no vídeo abaixo como funciona o aplicativo:


Atualizado em: Ter, 24 de novembro de 2020, 15:38

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