Um projeto iniciado na Universidade do Novo México (UNM), nos Estados Unidos, está sendo expandido para a América Latina, com o objetivo de compartilhar conhecimentos em saúde em áreas remotas. Denominado Projeto Echo - cuja sigla corresponde a Extensão para Resultados de Saúde Comunitária, em tradução literal -, a iniciativa está sendo implantada na Universidade Federal de Sergipe em parceria com a instituição americana.
A ideia é formar uma rede permanente de prática orientada, unindo especialistas de universidades e hospitais a profissionais de atendimento básico à saúde longe dos grandes centros.
“O projeto Echo é uma rede de compartilhamento de conhecimentos que geralmente é liderada por equipes de especialistas da área da saúde, que utilizam a videoconferência para conduzir sessões virtuais, junto com profissionais de saúde, que atuam na atenção primária, geralmente em locais remotos onde o acesso aos especialistas por parte do paciente é extremamente difícil”, explica Liudmila Miyar Otero, professora e diretora do Echo-UFS.
Para instalar os equipamentos necessários ao projeto, a UNM destinou um aporte de aproximadamente 10,5 mil dólares ao núcleo de Sergipe, chamado de Hub. O valor equivale a cerca de R$ 57 mil, em cotação de 26 de abril. Uma sala foi disponibilizada pela UFS no Campus de São Cristóvão, e outra está sendo firmada para o campus de Lagarto.
“O projeto é uma instituição filantrópica da Universidade [do Novo México], então não existe nenhum custo para essa colaboração, esse convênio, que a gente faz com as organizações”, ressalta Ana Carolina Romero, brasileira, Especialista em Operações do Projeto Echo na instituição americana.
Echo em Sergipe
O Echo-UFS prevê três programas iniciais: Echo Covid 19 - Prevenção e controle de infecções; Echo - Segurança do paciente e profissional associado ao cuidado em saúde; e o Echo - Diabetes Mellitus. O primeiro deles já está funcionando, mesmo não havendo ainda a disponibilidade tecnológica na UFS. Neste caso, o suporte das teleconferências está sendo dado pela própria Universidade do Novo México.
Os outros programas aguardam a instalação da estrutura para progredirem. Um deles, por exemplo, está com o planejamento definido, pronto para execução. É o “Echo - Segurança do paciente”, do qual uma das coordenadoras é a docente da UFS Eliana Ofélia Llapa Rodriguez.
“Esse programa a gente propôs, já que trabalhamos na parte de pesquisa e temos vários contatos e profissionais que trabalham nessa mesma temática. Conseguimos profissionais do Hospital São José, do Hospital Primavera, do Hospital de Urgência de Sergipe, e temos também alguns professores da Universidade Federal do Amazonas”, descreve a professora.
Um dos desdobramentos do projeto Echo é a integração entre a prática orientada e a pesquisa científica. É o caso do programa descrito pela professora Eliana, que partiu do tema que já era foco de pesquisas. A troca de informações e experiências permitirá, inclusive, a produção de dados por parte dos profissionais de saúde locais. Esses dados subsidiarão não apenas a assistência por parte dos especialistas, mas também as pesquisas nas universidades envolvidas.
O responsável por reunir e organizar esses dados é o professor do Departamento de Computação da UFS Carlos Alberto Estombelo Montesco.
“Como devemos saber, a área de saúde gera a cada ano uma quantidade enorme de dados. Então, nosso propósito é, através da tecnologia, poder gerenciar, controlar, armazenar esses dados, para que possivelmente consigamos transformá-los em informação e, na sequência, aquilo gere conhecimento, e esse conhecimento esteja sempre disponível”, explica Carlos.
Um dos objetivos do Echo é justamente a reprodução de um ciclo onde a experiência de profissionais de atendimento básico à saúde forneça dados da população local, estes sejam estudados e analisados por cientistas e especialistas, para que a melhor prática possa ser implementada no atendimento àqueles pacientes.
A melhor prática será definida pelo progresso do atendimento dos profissionais de saúde locais, de acordo com as informações por eles compartilhadas. É o que aponta Glebson Moura Silva, professor do Departamento de Enfermagem do Campus de Lagarto.
“O que a gente está vendo ao longo do tempo é se a situação de saúde está mudando, se está tendo impacto em cima da situação de saúde para os pacientes, se tem alterações em nível de habilidades e competências por parte dos profissionais de saúde e se o modelo, tanto de atendimento quanto de gestão, está sofrendo alteração ou não nesse processo de teleclínicas propostas pelo Echo”, projeta Glebson.
Prática continuada
O projeto Echo surgiu no estado do Novo México, nos Estados Unidos, quando um médico do hospital da UNM, que atendia pacientes com hepatite, sentiu-se incomodado com a fila de espera do próprio consultório - o atendimento podia demorar até oito meses! O estado é um dos maiores do país, mas pouco povoado, com muita gente vivendo em áreas rurais e remotas. O médico decidiu então criar um projeto através do qual ele e outros especialistas auxiliariam os profissionais de saúde locais no tratamento de seus pacientes.
A organização do projeto, no entanto, enfatiza que não se trata da já conhecida telemedicina. No caso desta, há uma relação individual, em que um paciente tem seu atendimento ampliado com o contato via teleconferência entre o profissional de saúde que o atende e um especialista da área específica.
O Echo, por sua vez, forma uma rede de prática continuada, multidisciplinar, como explica o professor Flávio Henrique Ferreira Barbosa, do Departamento de Morfologia da UFS.
“Ele não é uma interconsulta entre colegas, porque ele segue um protocolo específico, um mecanismo específico, ele não se baseia no conhecimento pessoal entre dois colegas apenas, e - é importante enfatizar - não somente profissionais da mesma área. Ele abre realmente para profissionais da área da saúde como um todo. Então eu posso ter médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, enfim, toda a gama de profissionais da saúde trabalhando em conjunto e acompanhando a solução e as possibilidades de resolução desses casos em conjunto”, destaca Flávio.
Após a aquisição e instalação dos equipamentos necessários às sessões virtuais, o próximo passo do Echo será o contato com prefeituras do interior de Sergipe para firmar convênios que permitirão o avanço do projeto junto às equipes de atenção básica à saúde dos municípios. Na prática, os profissionais de saúde serão convidados, por meio das secretarias municipais, a participar dos diferentes programas do Echo, de acordo com as necessidades que eles tenham em suas localidades.
Marcilio Costa
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