Fincada no meio do mapa do estado, por trás da serra que leva seu nome, Itabaiana é uma das cidades mais populosas de Sergipe, distando 54 km da capital. Foi ali que, em 14 de agosto de 2006, a Universidade Federal de Sergipe instalou a primeira base de seu processo de interiorização do ensino superior.
“Foi o primeiro caso de um processo muito exitoso, e do qual o estado de Sergipe como um todo hoje colhe frutos. O campus se tornou uma peça central no desenvolvimento de toda uma microrregião, trazendo inclusão e novas perspectivas para milhares de pessoas”, avalia o reitor da UFS, professor Valter Santana.
Ao longo de seus 15 anos, o Campus Universitário Professor Alberto Carvalho tem servido não só à cidade, mas a outros municípios, acolhendo estudantes de muitas partes do estado, como relata Aislan Leal Fontes, aluno da segunda turma de Licenciatura em Matemática, ainda em 2007, e hoje professor do campus em que se formou.
“Sou natural de Lagarto, e fiz a graduação inteira, todos os dias, indo e vindo para a cidade de Itabaiana. Era algo desgastante, mas muito gratificante. Se vamos comparar com Aracaju, esse percurso seria dobrado. Então, o campus também teve esse fato positivo, de encurtar distâncias até para os de fora do município”, pontua.
A secretária de Educação de Itabaiana, Mércia Maria Santos Felix, destaca que ele “foi um marco na história da educação do município, porque veio trazer, dentre tantos benefícios, o de estimular muitos que, de outro modo, não ingressariam no nível superior, e acabaram por receber essa formação e tornaram-se grandes profissionais.”
Atualmente, o campus de Itabaiana possui 1.501 alunos ativos na graduação e 95 na pós-graduação. Conta com 118 docentes efetivos, 8 substitutos, 50 técnicos administrativos e 44 funcionários terceirizados.
Interiorização
O sucesso da iniciativa de trazer o campus ao município de Itabaiana, possibilitada pelo programa do Governo Federal para expansão das universidades públicas, pode ser atribuído, segundo o primeiro diretor do campus, professor Sandro Holanda, a dois elementos: à união política e ao acolhimento e participação da comunidade.
“Aconteceu que os líderes de Itabaiana, e outras lideranças políticas em Sergipe, de forma suprapartidária, abraçaram essa ideia, e mobilizaram a sociedade, conseguindo trazer o campus para aquela região. Houve uma conjunção de situações e de fatores positivos que criou essa facilidade”, destaca.
Selando um dos anos mais importantes da história recente da instituição, o processo seria repetido, ainda em 2006, em Laranjeiras, cinco anos depois em Lagarto, e mais recentemente na criação do campus do Sertão, na cidade de Nossa Senhora da Glória, espalhando, junto com dezenas de polos presenciais de ensino a distância, novas bases da Universidade Federal de Sergipe pelo interior do estado.
Licenciaturas
O grande foco do Campus Universitário Prof. Alberto Carvalho é a formação de professores, contando assim com sete licenciaturas: Biologia, Física, Geografia, Letras, Matemática, Pedagogia e Química.
Essa atenção às licenciaturas já era oferecida pela UFS, desde o final dos anos 1990, por meio do extinto Programa de Qualificação Docente (PQD), parceria da UFS com o Governo do Estado de Sergipe, “por meio da qual se qualificavam professores em atuação que ainda não possuíam formação na área. Mas se tratou de uma iniciativa pontual, não havia uma presença de fato”, explica Holanda.
Com a vinda do campus, muitas novas oportunidades e muitas histórias surgiram, semelhantes à da egressa Tassiana Alves Maciel Melo. “Biologia não era o curso que eu pretendia, mas resolvi cursar, e acabei me encontrando ali, foi algo que abracei de corpo e alma, e é o que eu exerço. Essa formação me abriu portas para ensinar em escolas aqui na cidade, e além disso, faço trabalho de reforço escolar. Ensinar é algo que me traz uma satisfação enorme, e esse curso considero um presente para a minha vida”, relata.
Bacharelados
Afinando-se à vocação do município, conhecido por seus cidadãos com espírito empreendedor e por seu comércio pujante, o campus de Itabaiana também oferece os bacharelados em Administração, Ciências Contábeis e Sistemas de Informação.
O atual diretor do campus, professor Victor Sarmento, explica: “É grande a repercussão da universidade no município. Formamos recursos humanos qualificados para atuar na rede pública, nas escolas de ensino médio e fundamental; e também, por meio dos bacharelados, que alimentam a rede produtiva, empresas etc”.
“Para mim, e sei que para os meus colegas, foi um tempo muito bom, de muito aprendizado. Tínhamos um corpo docente de excelência em nosso campus, realmente preocupado com os alunos e em transmitir o ensino. É algo que eu levo para a minha vida, em tudo o que eu faço”, testemunha o agricultor autônomo Uriel Meneses Machado, aluno da terceira turma de Administração.
Pós-graduação
Além das licenciaturas e bacharelados, a UFS oferece no campus Itabaiana três cursos de pós-graduação: o mestrado acadêmico interdisciplinar em Ciências Naturais (PPGCN), e dois mestrados profissionais: Letras (Profletras) e Matemática (Profmat).
Infraestrutura
O prédio em que hoje funciona o campus de Itabaiana era anteriormente um Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC), que foi doado pela prefeitura à universidade. O espaço foi reformado e é composto por salas de aulas, laboratórios, biblioteca, auditório, área de vivência, salas dos departamentos, dos professores e dos setores administrativos. Em 2020, foi inaugurado o refeitório do campus, com capacidade de distribuição de 1.120 refeições por dia e 96 lugares.
Desafios da pandemia
Como todo o mundo, o campus de Itabaiana enfrenta os desafios trazidos pela pandemia do novo coronavírus, que gerou a necessidade de suspensão das aulas presenciais na UFS ainda em março de 2020.
“Estudar remotamente envolve motivação e o seu comprometimento nas aulas, querer estar presente todos os dias. No período remoto, isso é um grande desafio, especialmente para alunos que sofrem com depressão e ansiedade. Uma coisa boa é a possibilidade de pegar disciplinas diferentes de outros campi, fica bem mais fácil. E sentimos os professores mais presentes na pandemia, ajudando sempre”, relata a estudante Annita Ingrid Alves Silva, de Ciências Biológicas.
A professora Edjane Maria Oliveira da Silva, de Ciências Contábeis, conta que a pandemia trouxe para ela o desafio de resolver problemas tecnológicos de longe e ter de estar quase sempre online para ajudar os alunos.
“Eu tenho disciplinas de laboratório, práticas, onde fazemos uma tentativa de simulação de um escritório de contabilidade, vendo práticas contábeis, rotinas fiscais e rotinas de pessoal. É um desafio, mas as aulas continuam. Tenho buscado fazer metade assíncrona e metade síncrona, e atendendo sempre que os alunos precisam, estando bastante tempo online”.
Residindo em Itabaiana há mais de dez anos, ela relata ser perceptível o impacto da universidade no município. “Os meus alunos experimentam um crescimento profissional. Os da minha primeira turma já têm escritórios, e nem imaginavam que iriam sair de onde estavam. A universidade tem tido uma participação efetiva no crescimento de Itabaiana nesses últimos quinze anos. A gente vê a mudança social acontecendo”, conclui a docente.
“Que cada vez mais Itabaiana e região possam se desenvolver tendo como motor propulsor o campus Prof. Alberto Carvalho”, declarou o reitor Valter Santana. Enquanto aguarda o momento adequado e seguro para a retomada das atividades acadêmicas presenciais, o campus segue em sua missão formadora.
Márcio Santana Sobrinho
comunica@academico.ufs.br
Você sabia? (1)
O itabaianense Alberto Carvalho, de quem o campus recebe o nome, foi um escritor, poeta e crítico de arte nascido em 3 de novembro de 1932. Formou-se em Contabilidade e em Direito, e foi autor de oito livros. Falecido em 2002, o intelectual é o patrono da cadeira n.º 1 da Associação Itabaianense de Letras.
Você sabia? (2)
No ano de 2010, o campus de Itabaiana formou suas primeiras turmas. Noventa e um alunos das licenciaturas em Matemática (6), Geografia (31), Letras (24), Química (15) e Biologia (15) encerraram o seu ciclo de estudos. De lá para cá, quase 2.500 profissionais puderam concluir ali a graduação, e 91 estudantes receberem o título de mestre.
Você sabia? (3)
Na pandemia, alguns professores, alunos e técnicos se engajaram na missão de produzir álcool gel e glicerinado para ajudar na prevenção de infecções pelo coronavírus. A ação beneficiou quatro municípios da região, num momento em que o insumo se tornou escasso. Por meio da ação integrada, foram produzidos no campus mais de 1.200 litros de álcool gel e glicerinado.