O desenvolvimento de uma ferramenta que auxilia a localização de tumores intracranianos rendeu o Prêmio Mentes da Inovação 2021 a três pesquisadores de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS). O Neurokeypoint AR, como é chamado o app para cirurgias minimamente invasivas, foi premiado na categoria Saúde. O anúncio dos vencedores aconteceu durante cerimônia virtual nesta quarta-feira, 24.
O app que permite o reconhecimento automático de marcadores colocados na cabeça do paciente com o uso do aparelho celular foi desenvolvido pelo médico neurocirurgião Bruno Fernandes no doutorado em Ciências da Saúde da UFS (PPGCS). Ele liderou a pesquisa com o graduando do quarto período do curso de Medicina, Guilherme Almeida, sob orientação da professora Joselina Luzia Menezes Oliveira.
“Inicialmente, desenvolvemos um outro aplicativo que não utilizava recurso de cirurgia guiada por imagem que, na verdade, utilizava um compasso. A evolução desse primeiro aplicativo é esse que utiliza recursos de realidade aumentada para poder conseguir essa precisão na execução de neurocirurgias”, conta Bruno Fernandes.
O pesquisador ainda pontua que a ferramenta inovadora permite a realização de cirurgias menos agressivas e com menor margem de erro com relação à identificação das lesões, aumentando a precisão do procedimento cirúrgico na região craniana.
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A ferramenta foi utilizada pela primeira vez em outubro de 2020 para retirada de um tumor em um paciente do Hospital de Cirurgia, em Aracaju, onde o médico integra o Grupo de Neurocirurgia Oncológica. Em um ano de uso, o Neurokeypoint AR já auxiliou o procedimento neurocirúrgico de 25 pacientes oncológicos.
“Se eu tenho um dispositivo que me permite a localização precisa da lesão, eu consigo fazer uma cirurgia menor, abrir menos o paciente, fazer uma craniometria menor, menor lesão, e presumidamente, um melhor resultado do procedimento”, pondera o neurocirurgião.
O app busca facilitar o acesso de pacientes às neurocirurgias diante do custo elevado desse tipo de procedimento. “Estamos falando de baratear a percentagem de 30%, mas sim de utilizar um recurso de celular, ou seja, não há recurso adicional despendido. Então, fica difícil fazer a comparação de R$ 300 mil, R$ 400 mil, R$ 500 mil, versus nada. A vantagem, quanto ao custo, é absurdamente alta”, destaca Bruno Fernandes.
Ele ainda pontua que o app não substitui completamente o neuronavegador. “O neuronavegador vai ser utilizado em outras situações onde o aplicativo não está preparado ainda para auxiliar. Mas podemos dizer que em grande parte das situações, em grande parte às funções do neuronavegador, que seriam de localizar a região onde a gente vai fazer a craniometria, o aplicativo consegue ajudar nisso”, enfatiza o médico.
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Guilherme Almeida atuou no desenvolvimento da programação do aplicativo. O estudante revela que o interesse pela pesquisa tecnológica surgiu diante do desafio de estudar a fronteira do conhecimento da computação aplicada à medicina.
“Basicamente, peguei da programação o conhecimento de álgebra linear, a linguagem swift da Apple, a biblioteca da Apple. Juntei tudo isso com os princípios neurocirúrgicos já existentes para desenvolver esse aplicativo”, explica Almeida.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 11 mil pessoas devem ser diagnosticadas com tumores do SNC para cada ano do triênio 2020-2022 no Brasil, sendo 5.870 homens e 5.230 mulheres. Em Sergipe, estimam-se 270 casos no período.
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Prêmio Mentes da Inovação
Criado pela multinacional alemã Bayer, o Prêmio Mentes da Inovação busca impulsionar a ciência no Brasil por meio do reconhecimento de projetos inovadores de ciência aplicada nas categorias de Saúde e Agricultura, voltados para a criação de produtos e soluções ou novos modelos de negócio que gerem desenvolvimento, inovação, valor econômico e social.
“É um reconhecimento do trabalho e leva o nome da Universidade ao cenário nacional. A premiação vai nos ajudar a adquirir equipamentos necessários para prosseguir com o desenvolvimento. Estávamos limitados de financiamento para progredir com o projeto, precisando de equipamentos novos e com a nova arquitetura para o app. Esse recurso vai ajudar a adquirir esses equipamentos,” projeta Bruno Fernandes.
A primeira edição do concurso nacional voltado à inovação em Saúde e Agricultura premiou três projetos por categoria. Cada um vai receber uma premiação de R$ 30 mil, além do apoio do LifeHub São Paulo para acelerar as soluções desenvolvidas nas duas áreas de pesquisa.
Abel Serafim e Josafá Neto
comunica@academico.ufs.br
Matéria sobre o app exibida na TV UFS em 24/11/2020