Daniel Moura é professor da Universidade Federal de Sergipe há três anos, nascido em Salvador, Bahia, e estuda dança flamenca há mais de 20 anos. Inquieto com a relação entre a identidade associada à região onde nasceu e sua própria vivência, Daniel decidiu usar seu doutorado (na Universidade Federal da Bahia) para discutir o “corpo transculturado” como um “processo de tensões entre os imaginários de masculinidade do cabra macho nordestino e do dançarino de flamenco”.
Como fruto da tese, Daniel publicou o livro “Cabra macho e flamenco transculturados: a dança como embaralhamento de subjetividades”. No mestrado, Daniel já havia tratado de identidade cultural, cultura nordestina, dança flamenca e transculturação. Foi uma análise estética, que serviu de base para a discussão sobre o corpo, o que ele faz agora no livro.
“O imaginário de masculinidade no meu universo como homem gay, sempre foi impregnado de interdições. Ou seja, a masculinidade com a qual sempre tive contato, é aquela da repreensão normativa. Então eu fui uma criança, um adolescente e um jovem constantemente pressionado pelos códigos de conduta da construção social do que se entende ser homem, ou mais um pouco, um homem nordestino”.
O conceito “transculturação” usado por Daniel conota “relações de movimento, de trânsito, servindo também para pensar os fluxos entre os gêneros”, diz o autor em seu livro e sua tese.
“Cabra macho e flamenco transculturados” foi escrito na forma de texto teatral, a partir de uma fábula contada por personagens vindos das cartas de baralho, segundo o autor, para traduzir um grande caos que ele traduz por embaralhamento. “Essa ideia de embaralhamento surge da minha percepção de que, para mim, os fatos, as descobertas, pensamentos e experiências de toda ordem não acontecem de forma ordenada ou sucessiva”, diz o professor.
A docência no Departamento de Dança da UFS não é inseparável da atuação de Daniel na dança e de sua produção literária e acadêmica. “Minha história com a dança flamenca me ajuda a entender o corpo, o modo pelo qual o ensino da dança é atravessado e totalmente imbricado com as produções de subjetividades”, explica o docente.
“Quando eu me reconheço e me entendo como alguém que construiu uma história com e a partir da dança, eu lido de forma mais aproximada com todas as histórias que me atravessam em sala de aula, assim eu olho para as experiências tentando perceber o que delas também me constitui, ainda que essas experiências sejam danças aparentemente distantes das quais tenho mais afinidade, é sempre possível identificar no movimento algo liga, aproxima e contamina”, conclui Daniel.
O livro
“Cabra macho e flamenco transculturados” foi publicado pela editora Devires e pode ser adquirido em diversas livrarias, como na Queer Livros. A tese de Daniel Moura pode ser acessada no repositório da UFBA.
Ascom
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