As peças de um museu não se remetem a "objetos do século passado", como muito pressupõe o senso comum. Antes de serem expostas, elas passam por critérios rigorosos de relevância social, cultural, artística, histórica e humanitária, obedecendo procedimentos de pesquisa, levantamento, documentação, catalogação, higienização e verificação em instituições de todo o mundo.
Dessa forma, para que o acervo de um museu cumpra sua função social de resgatar salvaguardar identidades e seja exposto para visitação ao público, são necesssários trabalhos diversos na Museologia e não seria diferente com o Museu do Homem Sergipano (MUHSE).
Construído em 1976 com o nome de Museu de Antropologia para promover a divulgação das atividades de pesquisa, ensino e extensão no âmbito da Universidade Federal de Sergipe, ganhou a nomenclatura de MUHSE em 2000 e, devido a constantes reformas de suas sedes nos últimos anos, atualmente tem seu acervo distribuído entre o Departamento de Museologia da UFS - no campus de Laranjeiras - e o Museu Histórico de Sergipe (MHS).

Esse deslocamento dos acervos fez com que a professora Priscila Maria de Jesus sentisse a necessidade de desenvolver o projeto de extensão Conservação Preventiva e Estudo do acervo museológico do Museu do Homem Sergipano.
"O MUHSE surgiu da necessidade de registrar as produções acadêmicas da área, tanto em ensino como em pesquisa e, sobretudo, extensão. Assim, não se pode perder de vista aquilo que chamamos de 'ser sergipano'. A história do povo, das suas artes, cultura, produções artísticas, dos que de alguma forma deixaram suas obras para que pudéssemos nos reconhecer em parte delas. Com a interdição do prédio em 2013 e a divisão dos acervos, havia um risco muito grande de perdas das peças e dos trabalhos museológicos, então havia uma necessidade para além do guardar. Era necessário preservar toda uma identidade e, assim, iniciamos o projeto de conservação, documentação e digitalização desses materiais", diz a professora do departamenro de Museologia da UFS.
Ela explica ainda que, por meio de procedimentos de documentação museológica, tais como arrolamento, catalogação e pesquisa, foi obtida a extroversão dessas informações sobre o acervo do MUHSE, que apresenta coleções de importância significativa para toda a comunidade.

"Existe uma parte do acervo do MUHSE em exposição de curta duração e na Reserva Técnica do Museu Histórico de Sergipe. Ali, estão os objetos relacionados ao modo de vida e a produção do homem sergipano entre os séculos XIX e XX, pertencentes a atividades agropecuárias e produtivas ligadas ao homem do campo, além de mobiliários, obras artísticas e culturais produzidas por pesquisadores artistas da época, O MUHSE é um museu universitário e, assim, promove a associação de saberes, reafirmando seus compromissos de comunicação com a sociedade sergipana", salienta Priscila Maria.
Para a estudante de Museologia Keyle Jaine Nascimento, que está trabalhando na higienização e catalogação do acervo presente no laboratório de Expografia do campus de Laranjeiras da UFS, o projeto de extensão é uma oportunidade de desenvolvimento profissional e de entender as relações da Museologia com a comunidade.
"Além de estar ampliando meus conhecimentos e visualizando um aprendizado sobre a área que irei seguir, vejo que, para a sociedade, esse projeto serve como um complemento dos conteúdos aprendidos nos cursos superiores, abrangendo e incluindo os estudantes que já cursaram ou estão cursando o ensino superior e até mesmo aqueles que estão pleiteando entrar numa universidade. É uma forma de manter um contato com a produção acadêmica", diz a estudante.

Também atuando como bolsista do projeto, a estudante de museologia Débora Maria Silva Santos acredita que a conservação preventiva dos acervos do MUHSE possibilitará uma maior inserção do povo sergipano frente à sua própria história.
"No início do mês, foi realizada uma exposição com os objetos já higienizados e catalogados aqui no campus de Laranjeiras e era nítido o interesse da população pelo que estava sendo exposto. Então eu acredito que o projeto, além de garantir a preservação dos acervos, acaba trazendo uma maior conscientização de identidade , tirando o conceito de que tudo que está em museus é velho ou desinteressante", destaca Débora.
Para a professora Priscila Maria de Jesus, a participação dos estudantes no projeto proporciona impactos positivos não apenas no âmbito acadêmico, mas no reconhecimento do papel do museólogo para além dos museus.
"É incrível perceber a motivação dos estudantes para com o projeto e o entendimento de que ele ultrapassa os muros da universidade e até dos museus. O trabalho conjunto leva conhecimento, informação e reflexão a todos que querem conhecer um pouco mais sobre as origens de suas culturas, seus povos, suas artes e isso é grandioso. Pensar a musealização do acervo do MUHSE é pensar uma preservação da identidade e da memória sergipanas", finaliza a coordenadora do projeto.
Jéssica Vieira – Ascom UFS
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