A explosão de casos de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti nos primeiros seis meses de 2022, no Brasil, reacendeu o alerta para o controle vetorial como uma prioridade em saúde pública, após a incidência de dengue, zika e chikungunya cair durante a pandemia da covid-19.
Entre janeiro e junho deste ano, o país sofreu um aumento de 196%, 124% e 92% nos registros das três arboviroses, respectivamente, em comparação ao ano inteiro de 2021, de acordo com dados da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
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Além dos métodos de controle mecânico – por meio da retirada de criadouros – e biológico – através da eliminação de larvas – a aplicação de produtos químicos no ambiente ou no próprio corpo humano é uma estratégia complementar. No entanto, a possibilidade do mosquito ficar resistente ao uso de inseticidas e repelentes ainda é uma questão cercada de dúvidas.
Pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e da Universidade de São Paulo (USP) estão buscando respostas para a hipótese da resistência do Aedes aegypti a inseticidas afetar a sensibilidade do mosquito ao DEET, como é chamado o composto químico (N, N- dietilmetilbenzamida), utilizado para repelir insetos, a exemplo do agente transmissor das arboviroses.
O trabalho é realizado pela doutoranda em Medicina Tropical da USP, Pollyana Maia, sob orientação da professora Tamara Nunes. Egressa do curso de Biologia da UFS, Pollyana trabalha com mosquitos desde a graduação, na qual realizou um levantamento com estudantes de uma escola pública do município de São Cristóvão/SE para identificar o conhecimento deles sobre arboviroses no estado. Já no mestrado, no Instituto de Medicina Tropical da USP, ela investigou o comportamento de tolerância ao DEET.
“Se a hipótese for confirmada, com mosquitos resistentes a inseticidas tendo uma alteração na resposta ao DEET, isso pode trazer prejuízos para a sociedade, porque o tempo de resposta do repelente pode ser alterado, ou seja, você passa o produto que era para durar uma hora, mas acaba diminuindo esse tempo ou tendo que haver um aumento na concentração do produto no uso pessoal,” destaca Pollyana.
Amostras de municípios sergipanos
Na pesquisa de campo, foram coletados ovos do Aedes aegypti em oito cidades sergipanas. São elas: Capela, Canindé de São Francisco, Neópolis, Pinhão, Simão Dias, Siriri e Umbaúba. A coleta foi feita por meio de armadilhas instaladas em residências com o auxílio de agentes de endemias dos municípios.
Em seguida, as palhetas com os ovos passaram pelo processo de eclosão no Laboratório de Entomologia e Parasitologia Tropical da UFS (Lepat), onde foi possível ampliar a população de mosquitos com a criação de colônias em um insetário, distribuindo as amostras por município.
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No momento, segundo a pesquisadora, estão sendo realizados testes para confirmação da resistência aos inseticidas e testes de repelência. Além disso, as populações de mosquitos expostas a quatro tipos de repelentes, com níveis de sensibilidade diferentes, serão submetidas a mapeamento genético.
“O objetivo do trabalho é descrever a relação existente entre a sensibilidade ao DEET e a resistência a diversas classes de inseticidas, bem como os genes implicados nesse fenômeno,” complementa Pollyana Maia.
Co-orientadora da pesquisa de doutorado, a professora do Departamento de Morfologia da UFS, Roseli La Corte, tem larga experiência em entomologia, que é o campo de estudo das características físicas, comportamentais e reprodutivas dos insetos. La Corte trabalha com controle e ecologia de vetores, com foco em ecologia de culicidae, malaria e arboviroses.
“O aumento da exposição a inseticidas pode resultar na seleção de populações resistentes de mosquitos. Essa resistência a produtos químicos pode ocorrer como resposta a fatores operacionais que podem ser caracterizados pela pressão seletiva ou por imperícia dos métodos de controle,” pontua a professora.
Ela acrescenta que experimentos pioneiros já demonstraram que a exposição do Aedes aegypti ao repelente pode provocar a redução do efeito de repelência, diminuindo apenas a intensidade da abordagem da fêmea do mosquito. Isso não impede o chamado repasto sanguíneo, prejudicando uma das formas mais eficazes de proteção individual.
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Lepat
Criado no ano de 2006, o Laboratório de Entomologia e Parasitologia Tropical da UFS concentra pesquisas em quatro grandes linhas: ecologia e controle de vetores; epidemiologia e controle de doenças endêmicas do Nordeste; novos produtos para o controle de vetores; e biologia molecular de parasitos e vetores.
Josafá Neto
comunica@academico.ufs.br