O afundamento de navios no litoral sergipano, que levou o Brasil a entrar na Segunda Guerra Mundial, está completando 80 anos, e uma exposição foi montada para rememorar o episódio. A mostra, inaugurada na noite do dia 17 de agosto, está instalada no Centro Cultural de Aracaju, localizado na praça General Valadão, no Centro, e estará aberta até o dia 17 de outubro. A entrada é gratuita.
A exposição é uma parceria da Universidade Federal de Sergipe (UFS), através do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET), com a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), da Prefeitura Municipal.
Entre os dias 15 e 16 de agosto de 1942, três navios foram atingidos por torpedos disparados por um submarino alemão, na costa de Sergipe. Cerca de 600 pessoas morreram, muitos desses corpos foram levados pelo mar às praias do litoral do estado, desde Estância até a capital. Outros dois navios foram atacados no dia 17, no litoral da Bahia, pelo mesmo submarino.
A Segunda Guerra Mundial estava em seu auge, mas o Brasil permanecia neutro, apesar de já terem havido outros ataques contra embarcações nacionais. No entanto, diferente dos demais, que ocorreram em alto mar, os ataques de 15 a 17 de agosto, tão próximo à costa, causaram tristeza e furor na população, o que levou o país a declarar guerra ao Eixo – grupo liderado por Alemanha, Itália e Japão –, ainda no dia 22 daquele mês.
O mar trouxe corpos e sobreviventes feridos para cidades das costas sergipanas e baianas. No entanto, os feridos que chegaram desde a cidade de Estância foram atendidos em hospitais de Aracaju, o que causou um impacto profundo na capital.
“Os torpedeamentos e toda a destruição e morte que os envolve impactam na vida da cidade porque, primeiro, ele acaba materializando uma guerra que parecia distante para o sergipano; segundo, morreram sergipanos, foram afundados embarcações que frequentemente estavam aportando em Sergipe, então se instala um clima de apreensão”, explica Dilton Maynard, professor do Departamento de História da UFS e um dos organizadores da exposição, como membro do GET.
Os reflexos dos ataques no cotidiano da população da capital são o gancho para a exposição. Segundo Andreza Maynard, professora do Colégio de Aplicação da UFS e também integrante do GET e organizadora da mostra, os frequentadores terão contato com diversos aspectos dos aracajuanos naquele cenário.
“Estamos falando do cotidiano, do dia-a-dia, do funcionamento dos bondes na cidade, dos cinemas, da rádio (a Aperipê, né, a PRJ-6), de como as notícias da guerra chegavam em Aracaju… Como os navios torpedeados vão impactar a vida das pessoas? No sentido de ter mais notícias sobre isso, é claro que há um impacto muito grande sobre a cidade por ter mais de 600 mortos em três dias, foi um algo realmente marcante”, diz Andreza.
A pesquisadora recorda que os aracajuanos ficaram receosos de novos ataques, inclusive em terra. “A guerra chegou a Sergipe, chegou a Aracaju… ‘agora nós temos que nos preocupar em nos defender, inclusive de novos ataques’... que não chegaram a acontecer, mas a cidade se mobilizou, se preparou para possíveis ataques aéreos, por exemplo, novos ataques na costa”, contextualiza.
Para todos os públicos
Com entrada livre, a exposição é voltada para todas as idades, como explica Andreza Maynard: “A exposição é pensada para todos os públicos, inclusive o público juvenil, escolar. Pensada de uma forma bastante didática, explicando o que foi a guerra, quais eram os os lados – a gente tinha basicamente o Eixo e os Aliados, com quem o Brasil se posicionou – e, dentro disso, como é que a guerra vai chegando a Aracaju a partir das notícias”, explica a professora.
“É uma exposição que possui material original, mas também possui réplicas adquiridas em museus de referência, para que as pessoas tenham noção de algumas coisas que eram usadas na época”, completa Dilton.
Tempo Presente
Dilton Maynard explica que a exposição foi pensada para acontecer na UFS, dentro da programação da quinta edição do seminário Visões do Mundo Contemporâneo, cujo tema foram os “80 anos do Brasil na II Guerra”. Realizado na universidade, o evento foi organizado pelo Grupo de Estudos do Tempo Presente.
“A exposição já estava planejada no grupo de pesquisa, mas a prefeitura de Aracaju criou uma comissão em julho [para organizar eventos para rememorar os torpedeamentos] e propôs a inclusão da exposição na programação, transferindo da UFS para o Centro Cultural”, conta Dilton.
“Isso foi importante porque dá, é claro, uma visibilidade maior para a exposição, isso compartilha o conhecimento, né, e isso nos estimulou inclusive a repensar a exposição, no sentido de torná- la acessível a um público livre: no cuidado com as fotos que a gente selecionou para colocar nos banners”, pondera Andreza.
O planejamento e organização da exposição tiveram o engajamento do GET, como faz questão de frisar Andreza: “Dilton e eu fizemos a curadoria e expografia, os textos escritos dos totens, com a participação de outros pesquisadores do Grupo de Estudos do Tempo Presente, temos também uma museóloga na equipe, que é Hildênia Oliveira, além dos bolsistas de iniciação científica”, enfatiza.
Também na programação da Prefeitura de Aracaju sobre o trágico evento dos ataques, aconteceu no dia 16, no Farol da Marinha, no bairro Coroa do Meio, uma homenagem às vítimas dos navios torpedeados.
Marcilio Costa - Ascom UFS
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