Sex, 11 de novembro de 2022, 11:02

Seminário discute fome e insegurança alimentar em Sergipe
Gestores públicos foram convidados a discutir políticas públicas a partir de dados de pesquisa sobre insegurança alimentar e nutricional

Dados de uma pesquisa realizada entre o final de 2021 e o início deste ano trazem a conclusão preocupante de que 30% dos sergipanos vivem um nível grave de insegurança alimentar. Para discutir esse e outros números, foi realizado na manhã desta quinta-feira, 10, o Seminário sobre Insegurança Alimentar no estado de Sergipe.

O evento, organizado pelo Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional de Sergipe (Osanes), foi pensado para discutir o tema junto aos gestores públicos, tendo sido convidados os tomadores de decisão da esfera pública, do estado e dos municípios sergipanos. O debate ocorreu no Auditório da Didática 7 da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O Osanes é uma estrutura vinculada ao Departamento de Nutrição da UFS, coordenado pela professora Silvia Voci. Segundo a docente, o objetivo do seminário foi envolver os gestores públicos, “para eles se apropriarem desses dados e para nós debatermos e pensarmos, de alguma forma, as necessidades para as políticas públicas nos municípios e no estado”, diz.


Fotos: Schirlene Reis - Ascom/UFS
Fotos: Schirlene Reis - Ascom/UFS
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Para a pró-reitora de extensão, Sueli Pereira, a universidade é o ambiente propício para o encontro. “São dados preocupantes, e o papel da Universidade Federal de Sergipe é justamente intermediar os debates importantes sobre nossa sociedade, envolvendo a sociedade civil e as instâncias de decisão, com o suporte dos pesquisadores da academia”, afirma. “E a Semac é o momento ideal para isso, quando toda a comunidade acadêmica está engajada nas discussões sobre as relações entre a universidade e a comunidade”, acrescenta.

O prefeito de São Cristóvão, Marcos Santana, compareceu e agradeceu a colaboração da UFS a um tema tão importante para os municípios. “Nossa administração tem se valido muito da Universidade Federal de Sergipe”, conta.

“O Observatório de Segurança Alimentar, por exemplo, tem sido parceiro fundamental nas ações que temos tomado de mitigação desse problema que será objeto de reflexão no dia de hoje aqui”, admite o gestor. “Estamos aqui para, mais uma vez, beber na fonte da academia e a partir das reflexões estabelecidas poder agir enquanto responsáveis pela administração municipal de São Cristóvão”, conclui Marcos.


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Fome e insegurança alimentar

Para realizar o seminário, a Osanes teve o apoio do Observatório de Sergipe, da Secretaria de Estado Geral do Governo, e do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do estado, que é uma instância de participação da sociedade civil.

Segundo o coordenador do Observatório de Sergipe, Ciro Brasil, é relevante discutir o tema na universidade, em diálogo com gestores de políticas públicas. “É muito importante a gente vir aqui discutir fome, porque em certo sentido, apesar de ela ser algo real, muitas vezes quando a gente fala em termos sociais, temos essa dificuldade de mensurar a fome”, argumenta. “É assustador quando a gente pensa que metade ou um terço da nossa população tem algum nível de fome, seja moderado, seja grave”, afirma.

Os dados discutidos no seminário são fruto do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, o Vigisan. A primeira etapa foi realizada em 2020 e a segunda entre o final de 2021 e abril de 2022.

Os números mostraram que entre os dois levantamentos o índice de brasileiros que passam fome foi de 9% para 15%. Em Sergipe, 30% das pessoas estão nesse nível grave de insegurança alimentar.

“No estado, temos apenas 28% das pessoas vivendo uma situação de segurança, ou seja, mais de 70% vivendo algum grau de insegurança alimentar. Isso é muito grave”, alerta Silvia Voci.

“Temos uma perspectiva de que isso vá melhorando, à medida que vão sendo distribuídos esses auxílios que estão sendo aumentados nos últimos meses, que não foram cobertos pela época da pesquisa”, pondera a professora. “Mas, ainda assim, o auxílio sozinho não resolve a situação, não é suficiente para uma família comer o mês inteiro, por exemplo”, pontua.


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A pesquisadora observa que a insegurança alimentar abrange diferentes níveis, como a situação em que a pessoa teme que não haverá recurso suficiente para alimentação até receber o próximo salário, ou auxílio. “Quando ele já vive essa ansiedade, essa angústia, de que vai não ter o alimento disponível em algum momento, já está em um grau de insegurança alimentar, ainda que leve”, explica.

Conforme a situação se agrava, o indivíduo vai fazendo substituições de itens da alimentação, perdendo a qualidade da dieta para conseguir fazer o recurso alcançar a compra de alimentos até o final de mês. A situação mais crítica é a insegurança grave, quando a pessoa de fato não tem condições de suprir a alimentação própria e de sua família.

O Vigisan foi coordenado e planejado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, que congrega vários pesquisadores da área. “Foi realizada no país inteiro, com uma amostra representativa e comparável com as amostras do IBGE, que são os dados que a gente tem de anos anteriores”, diz Silvia.

Ascom
comunica@academico.ufs.br

Atualizado em: Sex, 11 de novembro de 2022, 11:10
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