Seg, 09 de julho de 2012, 12:32

Reitor: "Procura por universidades aumentou"
Reitor: "Procura por universidades aumentou"

JornaldaCidade.Net


Wilma Anjos – Da Equipe JC


Aracaju (7 jul) - O reitor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Josué Modesto dos Passos Subrinho, passou quatro anos à frente da universidade (2008-2012), foi vice-reitor por dois mandatos (1996 a 2004) e deixa o cargo de reitor ainda este ano, quando assumirá em 2013 o professor Ângelo Roberto Antoniolli. Em conversa com o JornaldaCidade.Net, o doutor em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (1992) traçou o perfil do universitário sergipano, que mudou a forma de enxergar o Ensino Superior nas últimas duas décadas. Para ele, o aumento da demanda por cursos superiores é reflexo do processo de interiorização das universidades, que proporcionou oferta de cursos de graduação. Além disso, o reitor entende que o brasileiro percebeu que quanto mais estuda, mais fácil é para arrumar emprego. Confira entrevista:


JornaldaCidade.Net: Como era o Ensino Superior no estado há 20 anoS?
Josué Subrinho: Segundo os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, INEP, órgão do Ministério da Educação, em 1992, Sergipe tinha menos de dez estudantes matriculados em cursos de graduação, 9.650, para sermos precisos. Por outro lado, havia uma forte demanda por vagas não atendidas, uma vez que, neste mesmo ano, 12.053 estudantes se inscreveram em vestibulares para as vagas oferecidas. Na UFS, por essa época se ofertava pouco mais de 1.300 vagas anuais, ficando fora da Universidade pública um número considerável de candidatos que começaram a ser atendidos por instituições privadas que cresceram muito desde então, chegando, em alguns momentos, a serem pioneiras na oferta de novos cursos. Por outro lado, o corpo docente ainda era diminuto, apenas 653 docentes. Fora da UFS a preocupação com titulação e carreira acadêmica era praticamente inexistente.


JC.Net: Nota-se uma evolução na comunidade acadêmica?
JS: Certamente. Os últimos dados globais disponíveis do Censo do Ensino Superior referente ao ano de 2010, realizado pelo citado INEP, mostram que já tínhamos quase 50 mil estudantes matriculados, dos quais mais de 20 mil na Universidade Federal de Sergipe. O corpo docente contava com pouco mais de 2.500 professores, sendo que quase metade (1.211) na UFS. Passamos por um processo de interiorização do ensino superior, aumento da oferta de cursos de pós-graduação, conseqüência, por sua vez, da melhoria da titulação do corpo docente e geração de condições institucionais para a pesquisa.


JC.Net: E como é o projeto de interiorização da UFS? Outros municípios mais ganharão um núcleo da universidade em futuro próximo?
JS:
Apresentamos ao então Ministro da Educação, Tarso Genro, em novembro de 2004, quando de nossa posse um Plano de Expansão e Interiorização da UFS que previa a construção de cinco campi universitários em cinco cidades-pólo regionais. Itabaiana, Lagarto, Estância, Nossa Senhora da Glória e Propriá. Acredito que a UFS sempre estará disposta a implementar tal programa, dependendo, evidentemente da autorização e apoio do Governo Federal.


JC.Net: Quantos campi e universitários a UFS têm hoje no estado?
JS: Temos cinco campi universitários, a Cidade Universitária Prof. José Aloísio de Campos, nossa sede, situada no município de São Cristóvão, o Campus da Saúde Prof. João Cardoso do Nascimento Júnior, em Aracaju, o Campus Universitário Prof. Alberto Carvalho, em Itabaiana, o Campus de Laranjeiras, neste município e o Campus Universitário Prof. Antonio Garcia Filho, em Lagarto. Além do mais temos 14 pólos de apoio presencial ao Programa de Ensino à Distância, executado através do Programa Universidade Aberta do Brasil, UAB. Em 2011 tínhamos mais 30.000 estudantes matriculados no ensino superior, sendo 22.637 na graduação presencial, 6.498 na graduação à distância e 1.351 na pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado).


JC.Net: O que teria facilitado esse acesso? Programas federais de inserção à universidade, mudança de comportamento do brasileiro?
JS: É claro que os programas federais para o ensino superior foram importantíssimos para a ampliação do público estudantil. Para as instituições públicas a interiorização e a Reestruturação e Expansão, o chamado Programa REUNI. Para as instituições privadas o programa de isenção de tributos tendo como contrapartida da oferta de vagas gratuitas aos egressos da escola pública, o PROUNI e o financiamento das mensalidades, o FIES. Por outro lado, nada disso seria possível sem o crescimento da população estudantil que conclui o ensino médio. Este é um problema grave no curto e a prazos mais longos, visto que atualmente metade da população jovem não está frequentando o ensino médio, e já há uma oferta não preenchida de vagas muito grande no segmento privado e tendendo a ser significativa em algumas áreas do conhecimento mesmo nas instituições públicas.


JC.Net. Existe algum ranking de universidade do país? Qual a posição da UFS?
JS:
Há várias formas de ranquear as instituições acadêmicas e há também reações aos processos de ranqueamento, sejam eles quais forem. Entre as universidades federais há um ranking que têm implicações no orçamento de custeio e investimento delas que tem como base o conceito de aluno-equivalente. Grosso modo se faz uma mensuração do número de alunos que ingressam na instituição, compara-se com o número dos diplomados, levando-se em conta o tempo médio de titulação na área do curso, um fator de peso para cada curso e outros critérios , como por exemplo, se o curso é noturno, se está localizado fora do Campus sede etc. Nossa universidade por este critério está no décimo oitavo lugar, num total de 59 instituições, ou seja, estamos acima da média, nos aproximando das grandes universidades. Aliás, foi exatamente assim que fomos classificados na última tomada de dados pela Secretaria de Educação Superior do MEC, como universidade grande.


Os critérios qualitativos também são sujeitos a controvérsias, no último Exame Nacional de Cursos ENADE, tivemos excelentes desempenhos, ficando entre os melhores do País, os nossos cursos de Medicina, Nutrição e Zootecnia, e o de Direito tem se destacado com brilho nos Exames da Ordem dos Advogados do Brasil. Nos Estados Unidos, onde o ranqueamento é mais aceito, também há reações acadêmicas. O ex- reitor da Universidade da Califórnia, grande líder acadêmico, propôs uma classificação das instituições de ensino superior separando as que têm cursos de doutorado e que, portanto, podem ser classificadas como instituições de pesquisa das que não têm. A UFS tem oito cursos de doutorado, ou seja 80% desta oferta em Sergipe.


JC.Net: Que mudanças no contexto histórico impulsionaram a mudança de comportamento do brasileiro, que hoje busca mais a qualificação pelo ensino superior?
JS:
Acho que o cidadão comum percebe muito bem e há muito tempo o que os estudiosos comprovaram, há uma forte correlação entre a renda das pessoas, sua empregabilidade e o nível de ensino. Quanto mais se estuda, mais fácil ter emprego, ter melhor renda, ter independência. Acho que fundamentalmente o que mudou foi a ampliação das redes escolares que permitem acesso em maior número de pessoas do que no passado.


JC.Net: No mês de maio o secretário do Ministério da Educação (MEC) veio a Sergipe para acompanhar o plano da UFS de ampliação de vagas. Qual a análise dele sobre o desempenho de nossa federal?
JS:
Primeiramente tenho que destacar que a UFS teve o privilégio de ser escolhida pelo Secretário de Educação Superior, Amaro Lins, como universidade a ser visitada em sua missão de conhecer o máximo de instituições sob sua supervisão. O secretário que foi Reitor da Universidade Federal de Pernambuco, por dois mandatos, ficou positivamente impressionado com a nossa performance, tanto em termos acadêmicos quanto na implantação da infra-estrutura física para suportar tal expansão. Ele pode conhecer de perto nossa sede e o Campus Universitário Prof. Antonio Garcia Filho, onde testemunhou o desafio acadêmico de implantar todo um novo Campus com bases em processos ativos de aprendizagem. Esperamos novas visitas do Secretário, tanto para constatar nossa evolução como para conhecer as unidades que não foram visitadas por falta de tempo.


JC.Net: A UFS se baseia em outras nações que fazem da Educação prioridade?
JS:
É claro que a UFS não pode pretender fazer o que é da competência governamental, como definir as prioridades públicas, mas pode contribuir para a difusão da consciência da importância da educação, da ciência, tecnologia, inovação, cultura etc. Acredito que temos feito isto.


JC.Net: Qual a relação da UFS com universidades internacionais?
JS:
Temos convênios com várias universidades e estamos adentrando numa nova fase de mobilidade acadêmica internacional propiciada pelo Programa Ciência sem Fronteiras, do Governo Federal que financiará o intercâmbio de estudantes, professores e pesquisadores brasileiros com homólogos das melhores universidades do mundo


JC.Net: O STF ratificou em 9 de maio sua posição favorável ao sistema de cotas raciais e sociais para o ingresso ao ensino superior no país. A partir de quando a UFS adotou esta linha de seleção, por que e quantos estudantes tem hoje esta condição?
JS: Nosso Programa de Ações Afirmativas foi aprovado pelo Conselho do Ensino, da Pesquisa e da Extensão, em 2009, para entrada em vigor em 2010, após longas discussões acerca do caráter excludente da universidade pública, especialmente em seus cursos mais concorridos, cujas vagas estavam sendo monopolizadas por egressos de escolas privadas. Nos parecia pouco defensável que o Estado Brasileiro que ainda não conseguira universalizar a educação básica, especialmente no nível médio e que dispensava em termos per capta muito mais recursos com o ensino superior do que com a educação básica não fizesse algo para alterar este mecanismo que por si só era extremamente concentrador de renda.


O estilo majoritário do conservadorismo brasileiro é se esquivar do problema, procurando soluções mais longas, que não impliquem alterações no presente. Tivemos 38 anos entre a segunda abolição do tráfico negreiro (1850) e a abolição da escravidão (1888). Mesmo assim, para os conservadores o País não se preparara para a abolição, teria sido melhor, mais natural continuar apenas com o esquema previsto na Lei do Ventre Livre (1871), que levaria ao fenecimento da escravidão em 1930.


Nosso programa foi atacado por segmentos da sociedade e sujeito a diversas controvérsias inclusive no Poder Judiciário. A declaração de constitucionalidade deste tipo de programa teve o bônus adicional de ter recebido no voto de um dos ministros a afirmação de que cada universidade pode adotar a forma que melhor julgue para atingir a finalidade da equidade social, homenageando, portanto, a autonomia universitária.


Aproximadamente 63% dos estudantes que ingressam na UFS são quotistas, o que não alterou a situação de alguns cursos, mas foi uma mudança importante para outros cursos, e principalmente, acredito que despertará nos segmentos que frequentam a escola pública do desejo de melhor ensino para uma vida melhor.



Atualizado em: Qui, 12 de julho de 2012, 13:43
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