Na tarde de quarta-feira, 15, jovens estudantes do Ensino Médio de dois colégios estaduais de Aracaju (Colégio Estadual Barão de Mauá e Colégio Estadual Joaquim Vieira Sobral) estiveram no Auditório da Didática VII da Universidade Federal de Sergipe (UFS) para prestigiar a contação de histórias de dois livros digitais musicalizados: “Sou quem sou” e “Não mete a colher”. Os títulos, de autoria da pedagoga Lucianna Ávila e do musicista Marcos Bezerra, foram desenvolvidos a partir das histórias e percepções da violência de gênero apresentadas pelos estudantes à equipe do projeto de pesquisa “Enfrentamento da violência contra mulheres e meninas na escola: percepções, ações e possibilidades de políticas públicas”, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa GENI (Gênero e Interseccionalidades na Comunicação). A atividade coordenada pela professora Renata Malta, responsável pelo projeto, marcou o encerramento do trabalho iniciado em 2020.
“Buscamos caminhos lúdicos e sensíveis para a reflexão sobre um problema social urgente que atinge meninas e mulheres brasileiras. A escola se mostra um ambiente de grande relevância e é nele que o projeto se instalou. Entendemos que este evento, além de contribuir para o enfrentamento da violência contra mulheres e meninas, também é relevante por aproximar o ensino médio de colégios estaduais e a Universidade Federal de Sergipe”, explicou a coordenadora do trabalho, Renata Malta.
Cursando o quarto semestre período de publicidade, Laísa Feitosa atuou como voluntária do projeto, ouvindo os relatos de violência de gênero. Uma participação que surgiu a partir de seu interesse por temáticas sociais e por seu desejo de vivenciar a área de pesquisa. Um trabalho que trouxe vários ganhos.
“Foi importante para eu saber lidar com as pessoas, ter diferentes visões, diferentes perspectivas e juntar tudo e transformar assim em Comunicação, né? Como mulher também. É muito forte, é muito pesado! Me sinto na obrigação de dar visibilidade para essa problemática”, disse a estudante.
Novas histórias
Outras duas histórias encontram-se em fase de produção, com previsão de entrega para o segundo semestre deste ano. Os títulos serão disponibilizados para todas as escolas públicas do estado de Sergipe. Feliz com o resultado da contação de histórias, Lucianna Ávila compartilhou um pouco do seu processo de criação.
“Tive acesso a todos os depoimentos das jovens, violências que elas vivenciaram ou testemunharam, refleti e a partir disso criei as histórias. O que ocorreu, por exemplo, no caso da segunda história. Em um dos depoimentos houve uma fala que "em briga de marido e mulher devemos sim meter a colher” e a partir deste gancho eu criei uma crônica, detalhou Luciana.
“A transformação está aí. Só basta segurarmos as mãos”, foi o que falou a estudante de Ensino Médio, Layla Nunes, após ouvir as histórias. Para a jovem, a pesquisa e os livros trouxeram um tema difícil e doloroso, mas de uma forma artística que sensibilizou e serviu como inspiração para mudanças.
“Refleti a partir da contação de histórias que há uma opção positiva, que a gente pode resistir e ir por este caminho, que é preciso ter coragem”, analisou Layla.
Violência contra a mulher - dados e canais para denúncia
Antes da contação de histórias, a professora Renata Malta apresentou aos alunos alguns dos dados obtidos durante o desenvolvimento da pesquisa “Enfrentamento da violência contra mulheres e meninas na escola: percepções, ações e possibilidades de políticas públicas”. Em 2022, por exemplo, 11 mil ocorrências relacionadas à violência contra mulheres foram registradas e 19 mulheres foram vítimas de feminicídio.
Em sua fala, destacou a importância de toda esta violência não ser naturalizada e o quanto é fundamental diferenciarmos cuidado de controle e posse sob uma mulher.
A pesquisadora também relembrou os canais de denúncia disponibilizados para a realização de denúncias quando ocorrem casos de violência contra a mulher: 190 (numa situação de perigo imediato, 180 (Central de Atendimento à Mulher) e Disque-Denúncia (181).
Também é possível realizar denúncias de violência contra a mulher pelo aplicativo Direitos Humanos Brasil e na página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), responsável pelo serviço.
Ascom