Com o auditório lotado, o senhor Antônio Modesto subiu para buscar seu diploma de grau de Mérito Universitário Especial. “Foi muito trabalho. Foi 61 anos de trabalho, até que cheguei até aqui onde estão vocês. Estou muito agradecido por isso. Eu nunca esperava ganhar um título como esse”.
Conhecido como Mestre Tonho Preto, ele é líder do Grupo de Pífano de Santo Antônio e há seis décadas organiza cavalgadas e a Missa do Vaqueiro no Povoado Céu, no município de Boquim.
“Minha arte eu faço com boa vontade, com amizade, esse tempo todo cuidando do meu pessoal, de fardamento, calçado, chapéu, de tudo; e, graças a Deus, eu tenho muito prazer e quero continuar até o fim da minha vida”.
Essa é apenas uma de muitas vidas e vivências, espalhadas por todo o estado, que foram reconhecidas na tarde de ontem, 3, no primeiro dia da programação que comemora os 55 anos de criação da Universidade Federal de Sergipe, ocorrida em 15 de maio de 1968.
Aberto com a apresentação da Orquestra e Coro da UFS, sob a regência do maestro Ion Bressan, o evento reuniu a comunidade universitária e público externo no Auditório Libório Firmo (Reitoria) para entrega do título a 28 mestres, divididos nas categorias “Mérito em Artes e Cultura Popular” e em “Saberes e Fazeres”.
“A universidade reconhece essas pessoas com a concessão desse título introduzindo-as dentro do ambiente acadêmico por aquilo que elas têm de melhor. Essa é a visão de uma universidade compromissada com a formação, mas respeitando todos os saberes e a cultura da sociedade de onde a gente se insere”, disse o reitor Valter Santana.
Essa é a terceira vez que a universidade concede as honrarias, destinadas a pessoas não detentoras de título acadêmico de graduação e pós-graduação que comprovem destacada experiência e produção nos diferentes saberes, fazeres e linguagens de todas as áreas do conhecimento, popular e tradicional.
Dentre os músicos, compositores, professores, poetas, artesãos, e diversos outros agraciados esteve Cláudia Maria Borges, conhecida como professora Idalina. Ela atua como organizadora de rodas de conversa incentivando a atuação de mulheres na capoeira em Aracaju e disse estar “imensamente feliz” com o reconhecimento alcançado.
“A gente notou que o número de mulheres era mínimo, perto do número de alunos e de mestres homens na capoeira. Então, conseguimos motivar muitas meninas, e os seus professores para dar uma atenção especial às alunas, e com isso a gente teve um resultado muito positivo”, explica.
O vice-reitor, Rosalvo Ferreira, presidente da comissão responsável pela programação de aniversário, afirma que foi pensada “uma forma que a universidade pudesse ser incluída, de fora para dentro; uma forma de trazer a comunidade externa para dentro da universidade”.
E continua: “Teremos vários eventos, mas o dia de hoje, especialmente, é um momento solene, porque a universidade reconhece conhecimentos tradicionais e agrega esse conhecimento ao ambiente científico, acadêmico”.
O detentor de Grau de Mérito Universitário Especial poderá submeter cursos e eventos em programa de atividades físicas, culturais e artísticas, além de ser convidado a participar de programas e projetos de ensino, pesquisa ou extensão na universidade, encaminhar projetos que digam respeito à sua área de conhecimento e tê-los apreciados por instância acadêmica competente, dentre outras ações.
Fundador do grupo folclórico “Os cabras de Lampião”, no município de Japaratuba, Mestre Ninízio foi um dos agraciados com o título na categoria “Mérito em Artes e Cultura Popular”. Com versos de improviso, o cordelista resumiu resumiu a abertura das comemorações de aniversário da UFS:
“55 anos de história
E formando cidadão
Os pilares de Sergipe
No estado fazendo a lição
Com todo público presente
De Cultura e tradição!”.
Ascom UFS