O geocientista e pesquisador do Laboratório Progeologia da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Júlio César Vieira, apresentou na última terça-feira, 19, na Sala dos Conselhos da UFS, o Panorama de Estabilidade Geológica do Litoral Sergipano. O objetivo foi chamar a atenção dos órgãos públicos diretamente envolvidos com a temática de erosão costeira para o fato de que Sergipe entrou em um momento de fenômenos de erosão costeira de forma crônica.
De acordo com o pesquisador, foram apresentados os primeiros resultados do trabalho de monitoramento do litoral sergipano. “Na sua forma e extensão, Sergipe é atualmente o único estado do Brasil a ter todo o seu litoral sob monitoramento sistemático e de longo prazo. Foram apresentados aos órgãos presentes a metodologia da pesquisa, seus preceitos e fundamentos, bem como casos específicos que mais chamaram a atenção da equipe durante este primeiro período”, resumiu.
“Podemos citar a erosão acentuada nos municípios de Brejo Grande e Itaporanga D’Ajuda. No primeiro caso, observa-se uma acentuada linha erosiva, cerca de 6km abaixo da Foz do Rio São Francisco, neste ponto o mar avançou entre 50 e 100 metros nos últimos oito anos. No segundo caso, observa-se a forte erosão do litoral norte de Itaporanga D’Ajuda, com o mar avançando cerca de 8m a 10m por ano. A área desta erosão também alcança Aracaju, onde o lugar conhecido como Praia do Viral foi drasticamente diminuído, chegando ao rompimento da sua barra arenosa. A tendência para a Praia do Viral, um local que virou ponto turístico, é o seu completo desaparecimento”, afirmou o geólogo.
Para ele, o avanço do mar pode estabilizar ou reduzir a sua aceleração, mas o que foi perdido em linhas de litoral dificilmente vai ser regenerado. “Dos 147km do litoral de Sergipe, 68 observam erosão na sua forma intensa ou moderada. É urgente e necessário que ocorram mudanças de paradigmas na gestão costeira do estado, para que os problemas observados não se agravem e possam causar severos danos sociais, econômicos e ambientais”, alertou Júlio César.
O vice-reitor da UFS, Rosalvo Ferreira, foi o anfitrião do evento, recepcionando os órgãos públicos externos envolvidos no tema. “Tivemos a apresentação de um projeto que envolve o Departamento de Geologia, um centro de pesquisa da universidade, que está fazendo o monitoramento do litoral sergipano, estudando a variação dos efeitos climáticos, sobretudo em relação ao avanço do mar em certas áreas e quais as medidas mitigadoras desse avanço. É uma análise bastante profunda, com dados estatísticos, com dados de satélite, com parcerias com órgãos do estado e do município e que demonstra a qualidade da excelência da pesquisa que é desenvolvida pela universidade”, pontuou o gestor.
De acordo com o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa da UFS, Lucindo Quintans, o Laboratório Progeologia é um dos mais importantes da universidade, estando vinculado ao Núcleo de Petróleo e Gás e Biocombustíveis da UFS “Tivemos aqui a participação de atores importantes, como Defesa Civil, Ministério Público Federal, e a própria Universidade Federal de Sergipe, como sempre, que possui papel de destaque nessas análises geológicas em nosso estado. Temos um curso de graduação e um curso de pós-graduação nessa área que fazem pesquisas qualificadas na geologia, na verdade na área de geociências, que é mais abrangente ainda, e que suportam a ideia de que hoje o litoral de Sergipe sofre com forte erosão, sendo necessárias ações pelos órgãos federais, estaduais e municipais para controle desse processo de erosão, principalmente vinculado às nossas bacias hidrográficas e ao próprio litoral de Sergipe”, contextualizou o pró-reitor.
Ascom