Por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Sergipe (UFS), Instituto Federal de Sergipe (IFS) e Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe (SSP) foi lançado na última terça-feira, 10, o aplicativo ‘Me Deixe’, que possibilita atendimento emergencial para mulheres em situação de violência doméstica. A princípio, a ferramenta será utilizada como piloto no município de Nossa Senhora da Glória, distante 114km da capital Aracaju, mas paulatinamente abrangerá todo o estado de Sergipe.
Para o vice-reitor da UFS, Rosalvo Ferreira, que participou da solenidade de lançamento do aplicativo no Palácio dos Despachos, a aproximação entre UFS, IFS e SSP rendeu bons resultados. “É da maior relevância para a sociedade sergipana a universidade estar integrada à Secretaria de Segurança Pública do estado, com um projeto que é coordenado pela professora Patrícia Rosalba, do Campus do Sertão, em Nossa Senhora da Glória, tem o envolvimento de docentes, de técnicos, de departamentos, ou seja, é a universidade se fazendo presente em um tema que é um dos mais sensíveis hoje, que é a violência doméstica, então esse evento marca também uma aproximação da academia, sobretudo com as políticas públicas de segurança do estado”, mencionou o vice-reitor.
O financiamento do projeto, que englobou as etapas de pesquisa, extensão e produto tecnológico, é do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). De acordo com a idealizadora do ‘Me Deixe, a professora da UFS Patrícia Rosalba, a ferramenta é resultado de estudos feitos pelo grupo Xique Xique, que contempla vários pesquisadores sobre temáticas que envolvem gênero e sexualidade.
“O maior desafio é fazer ciência no Brasil, que é algo muito difícil, porque a gente não tem recurso suficiente para isso, mas o aplicativo surge após mais de 20 anos de pesquisa do Grupo Xique Xique. É um aplicativo que a gente conceitua dentro de uma concepção teórica da tecnologia social, ele discute com os dados de pesquisa que a gente já tem produzido e discute com as instituições públicas, especialmente com a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe. Ele não surge do nada, é mais um produto que a gente está entregando à sociedade sergipana e que dialoga diretamente com os nossos dados de pesquisa”, pontuou a professora.
Atribuições
Ela falou também sobre as atribuições dos atores envolvidos. “A execução é da Secretaria de Segurança Pública. A partir de agora, nós da universidade acompanharemos o processo durante três anos, dando apoio à SSP. Tudo foi feito em parceria, utilizando os sistemas da Segurança Pública e os dados que a SSP forneceu para a UFS. Como pesquisadores, a gente sonha que exista uma igualdade cada vez maior entre homens e mulheres, porque a gente sonha que não exista violência em hipótese alguma, já que chegar em pleno século XXI com um elevadíssimo índice de violência é algo assustador, então o aplicativo entra como mais uma ferramenta que a gente pretende que seja executada de forma efetiva e que tenha todo o acompanhamento da segurança pública e da Polícia Militar. Estou super feliz, porque é um trabalho de 20 anos, é um trabalho que efetivamente a gente dialoga com a sociedade. Para nós, pesquisadores, é como se a gente tivesse colocando um sonho em execução”, comemorou Patrícia Rosalba.
Quem também esteve presente à solenidade de lançamento do aplicativo foi a coordenadora de prevenção à violência e à criminalidade da SSP, Abigail Souza. “Estamos vendo aqui a importância de poder beber da fonte de informações fidedignas, vindas de pessoas que estudam a temática da violência doméstica contra a mulher e que de forma gratuita estão nos cedendo esse aplicativo de grande relevância para otimizar o serviço do âmbito da Segurança Pública de forma intersetorial, isso vai dar robustez à Secretaria de Segurança Pública no que tange à Ronda Maria da Penha, aos DAGVs, ao acolhimento dessa mulher e, nesse sentido, a gente vai poder fazer uma interlocução melhor e maior com os municípios, porque quem está na ponta operacionalizando a política pública da assistência são os municípios. Outro ponto importante é que é preciso desenvolver também um trabalho de prevenção junto às escolas, a prevenção primária para desconstruir esse machismo tóxico, a misoginia e o sexismo que tanto mal fazem à nossa sociedade”, comentou a coordenadora.
Operacionalização
A UFS fez a transferência da tecnologia sem custos para o estado de Sergipe. Para dar início ao fluxo de atendimento pela ferramenta ‘Me Deixe’, é necessário instalar o aplicativo no celular de quem deseja fazer a denúncia, seja a própria vítima ou um vizinho, por exemplo. É necessário fazer um breve cadastro e especificar qual tipo de violência está acontecendo, é possível também informar se no local há armas ou artefatos que agravem a situação.
Os chamados são monitorados e direcionados ao Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), que encaminha a denúncia à Polícia Militar para que a equipe policial mais próxima ao local do fato atenda à ocorrência. Para a transferência de tecnologia pela UFS, o Governo do Estado deve fornecer atendimento ágil às mulheres e disponibilizar uma central de atendimento que possa acolher aos chamados feitos pelo aplicativo. Devem existir também a qualificação permanente dos operadores e a disponibilização de infraestrutura policial.
Ascom UFS
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