Sex, 15 de dezembro de 2023, 17:04

UFS fortalece internacionalização com apoio da Capes
Promover o intercâmbio científico, tecnológico e cultural está entre as ações

Promover e facilitar a interação da Universidade Federal de Sergipe (UFS) com o contexto internacional é a missão da Coordenação de Relações Internacionais (Cori) da instituição. Vinculada à Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa (Posgrap), a Cori vem atuando e trazendo resultados para a UFS. Um desses resultados foi a aprovação de projetos no âmbito do Edital Capes Nº 30/2022 – Solidariedade Acadêmica, cujo objetivo é oferecer refúgio a pesquisadores doutores de países que atravessam crises humanitárias e têm suas vidas ameaçadas.

Responsável pela Cori, a professora Érica Winand explica que um dos objetivos estratégicos desta gestão é promover a cooperação com instituições de países em desenvolvimento, com indicadores ainda deficitários na área econômica e de desenvolvimento humano, tendo a própria produção de conhecimento como ferramenta para alcance da autonomia decisória, da prosperidade e da qualidade de vida daqueles países.

“Houve muita luta da Posgrap para apoiar a Cori na indução de diferentes programas que olharam para uma internacionalização mais humanizada. Felizmente isso caminhou e pudemos concorrer ao Edital do Programa Emergencial Solidariedade, no âmbito do qual a UFS aprovou dois projetos. Muitas grandes universidades aprovaram apenas um projeto e somos uma dentre as poucas que aprovaram dois ao mesmo tempo. Através desses dois projetos aprovados, três programas de pós-graduação da UFS serão brindados, ao mesmo tempo, com ensino internacional e intercultural trazido por esses professores refugiados e com bolsas de pós-doutorado para estudantes brasileiros que operarem junto a esses professores, proporcionando-lhes suporte para adaptação acadêmica e cultural. Os ganhos em termos de indicadores são os mesmos, mas, para além disso, a UFS torna-se agente direta da cooperação entre os povos, detalha Érica Winand.

O edital financia a internacionalização de programas de pós-graduação a partir da contratação de professores visitantes de países em desenvolvimento ou não desenvolvidos, e que estejam, especificamente, na condição de refugiados. “É um marco na gestão atual da Capes, porque simboliza a nova orientação: identitariamente voltada aos povos em desenvolvimento e ao aproveitamento de recursos humanos de excelência que foram forçados a sair do seu país de origem por situações de crise humanitária ou perseguição política”, explica a coordenadora.

África no Brasil

O projeto “África no Brasil: tecendo redes de solidariedade” é coordenado pela professora Mariana Bracks, do Programa de Pós-Graduação em Ensino Profissional de História da UFS (ProfHistória) e tem como princípio aproximar os estudos africanos produzidos no Brasil à produção desenvolvida por intelectuais africanos. “Queremos que o pensamento produzido por intelectuais africanos atinja o Brasil. O que é feito nas universidades africanas pouco chega até nós e precisamos estabelecer pontes epistemológicas. Então, já chegaram no nosso projeto um professor visitante, que é de Moçambique, e um bolsista de pós-doutorado, que é o Aboua Koumassi, natural da Costa do Marfim, naturalizado brasileiro, que está fazendo esse trabalho na pesquisa de pós-doutorado”, conta Mariana.


Mariana Bracks e Dulcídio Cossa (dir) em recepção da Posgrap. (foto: arquivo pessoal)
Mariana Bracks e Dulcídio Cossa (dir) em recepção da Posgrap. (foto: arquivo pessoal)

“Acredito que esse projeto é relevante, é importante em diversos aspectos. O primeiro é o papel do Brasil em receber pessoas refugiadas, que estão passando por extremas dificuldades, vidas ameaçadas em decorrência de suas posições políticas, falta de liberdade na produção e divulgação dos seus pensamentos. Então, o projeto salva vidas nesse sentido e garante a existência de pessoas. E no sentido que aloca essas pessoas, esses cérebros, dentro das nossas universidades, conduzindo esse processo aqui na nossa área de História da África. Entendemos como uma revolução epistemológica, já que estamos alterando as formas de produção de conhecimento com outras perspectivas, outra base conceitual, teorias centradas nos modos de vida e de pensamento dos povos africanos. Então, a gente contribui para a desconstrução de um eurocentrismo, de teorias que vêm matando as formas de existir de outros povos, que a gente chama de epistemicídio”, detalha Mariana Bracks.

O projeto tem por objetivo conhecer a África a partir de seus próprios conceitos, filosofias e percepções, propondo renovação nas teorias e métodos para a pesquisa sobre África nas ciências humanas. O professor Dulcídio Cossa, natural de Moçambique, foi selecionado e está ministrando, desde agosto de 2023, em conjunto com a professora Mariana Bracks, a disciplina online “Cultura e ancestralidade africana no ensino de história”, em que discutem os conceitos de ancestralidade, tempo, espiritualidade, oralidades e gênero no ensino de história em perspectiva africana.

“Estou como professor visitante da Universidade Federal de Sergipe no Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História, por meio de um projeto que é de suma importância, tanto para o Brasil, quanto para o continente africano. Sabe-se muito bem que o Brasil é majoritariamente constituído pela população negra e parte dela chegou pelo processo do comércio de pessoas negras tiradas do continente africano pelo tráfico negreiro. Nesse sentido, parte daquilo que é a cultura africana, aquilo que é a essência do povo negro africano, se imbricou na cultura brasileira, logicamente se articulando ou se interpenetrando com a cultura indígena e, por outro lado também, com a cultura portuguesa, de certa forma”, destaca o professor.


Recepção do professor Dulcídio Cossa pela Prograd. (foto: arquivo pessoal)
Recepção do professor Dulcídio Cossa pela Prograd. (foto: arquivo pessoal)

Para ele, iniciativas como essa fazem da UFS um espaço de diálogo intercultural. “É um espaço de diálogo entre as culturas africanas e brasileiras, um diálogo que permite a troca do conhecimento, dos saberes africanos e os saberes brasileiros. A minha expectativa é fortalecer a área da pesquisa, extensão e educação, com a bagagem que eu tenho a partir do conhecimento intelectual africano e da própria cultura africana. É a possibilidade de pensar o ensino da história da África e fortalecer o campo do ensino e pensar em outras ações para outros programas da Universidade Federal do Sergipe”, cita o professor visitante.

Mobilidades internacionais, direitos humanos e ensino superior

O outro projeto aprovado no edital, é o intitulado “Mobilidades internacionais, direitos humanos e ensino superior”, que possui a temática relacionada às migrações internacionais, à mobilidade estudantil e aos direitos humanos. A iniciativa está sob a coordenação dos professores Marcelo Ennes, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), e Flávia de Ávila, do Programa de Pós-Graduação em Direito (Prodir).

Nele, foram aprovadas duas vagas para serem preenchidas por dois professores visitantes que atuarão na realização de atividades que tornem a internacionalização possível. Uma delas já está ocupada pelo professor Luis Bolilla-Molina, que é natural da Venezuela e faz parte de diversos grupos voltados para a educação. O plano ainda oferece bolsas de pós-doutorado.

De acordo com o professor Marcelo Ennes, algumas atividades já estão sendo realizadas. “O professor Luis está organizando dois grandes ciclos de seminários: um sobre decolonialismo e outro exatamente sobre internacionalização. Ele está convidando para esses ciclos os seus contatos de universidades latino-americanas, então isso é de fato uma iniciativa de internacionalização bem importante”.

Marcelo ainda reforça que, junto a isso, outras tarefas serão postas em prática, como a realização de eventos em instituições parceiras, como a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal do Amazonas (UFAM), assim como a publicação um conjunto de artigos e coletâneas no final do projeto.

Ascom UFS


Mariana Bracks e Dulcídio Cossa (dir) em recepção da Posgrap. (foto: arquivo pessoal)
Mariana Bracks e Dulcídio Cossa (dir) em recepção da Posgrap. (foto: arquivo pessoal)
Atualizado em: Sex, 15 de dezembro de 2023, 17:57
Notícias UFS