Qua, 19 de junho de 2024, 10:12

Grupo de pesquisa da UFS se destaca na abordagem sobre gênero e sexualidade
Temas vinculados aos direitos humanos são o foco dos estudos

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) está publicando desde a última sexta-feira, 14, uma série de matérias sobre a temática LGBTQIAPN+, sigla que abrange pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais. A primeira delas abordou a pesquisa do professor Jean Baptista, do Departamento de Museologia da UFS, que estuda a genealogia dos corpos dos homens indígenas, das mulheres indígenas e dos povos indígenas abjetos, trazendo como título em português 'Corpos indígenas, gênero e sexualidade nas missões jesuíticas da América do Sul (séculos XVII-XVIII)'.

Nesta terça-feira, 25, é a vez de falar sobre o Xique Xique, grupo de pesquisa da UFS coordenado pela professora Patrícia Rosalba e que trabalha com temáticas sobre gênero e sexualidade. “O Xique Xique é um grupo de pesquisa que faz investigações no campo dos estudos de gênero e sexualidade. Atua com temas vinculados aos direitos humanos, sobretudo considerando as violências que atingem mulheres e pessoas LGBTQIAPN+, questões de saúde, mulheres camponesas e ruralidades e tecnologias sociais”, explica a professora.

O grupo, vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), surgiu em 2011. “Trata-se de um grupo que vem para consolidar e agregar investigadores em atividades de pesquisa sobre temas de gênero e sexualidade. Atualmente fazemos parte da Red Liess, o Laboratorio Iberoamericano para el Estudio Sociohistórico de las Sexualidades, e trabalhamos com uma potente rede de pesquisadores de países europeus e sulamericanos, isso é um fato muito importante, porque conseguimos internacionalizar nossas pesquisas e fazer intercâmbio entre alunos, docentes e demais servidores”, ressalta Patrícia Rosalba.


Grupo realiza eventos de conscientização periodicamente. (Fotos: Divulgação).
Grupo realiza eventos de conscientização periodicamente. (Fotos: Divulgação).
Professora Patrícia Rosalba coordena o grupo Xique Xique. (Foto: Divulgação).
Professora Patrícia Rosalba coordena o grupo Xique Xique. (Foto: Divulgação).

Atuação

Ela afirma que o Xique Xique desempenha atividades de ensino por meio de projetos de apoio pedagógico, de pesquisa com projetos aprovados em editais de agências de fomento e de extensão, além de ações em parceria com instituições do estado de Sergipe. “O grupo atua em várias frentes e tem uma demanda de formação potente tanto na graduação quanto na pós-graduação, tendo atualmente cerca de 20 pesquisadores atuantes”, enfatiza.

Além dos estudos produzidas, o Xique Xique é responsável pela realização de diversos eventos que divulgam as temáticas trabalhadas pelo grupo. “Desenvolvemos várias ações na UFS e em outros locais, sempre que somos chamados nos fazemos presentes, porque entendemos que devemos dialogar constantemente com os diversos grupos e setores da sociedade. Todos os anos realizamos a Semana das Mulheres no Campus da UFS de Nossa Senhora da Glória, evento que se consolidou e sempre conta com a participação dos alunos e docentes”, cita.

A coordenadora ressalta que neste ano, por exemplo, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, por meio do grupo de Pesquisa em Gênero e Sexualidade Xique Xique, promoveu o evento (Trans)Tornando o 8M, com o tema ‘Lutas, Desafios e Possibilidades à Práxis Transfeminista’. O evento trouxe uma relação com o Dia Internacional da Mulher, abordando reflexões acerca do lugar que travestis e mulheres transexuais têm ocupado em diferentes espaços. “Discutimos assuntos muito caros à universidade e à população trans”, completa.

Rosalba comenta também que, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública, foi realizado no final de 2023 um simpósio sobre Violência Doméstica, Violência no Ambiente Escolar e Segurança Pública. “Sempre estamos com atividades, mantendo esse diálogo e relação direta com a sociedade sergipana”, pontua.


Segurança pública atua em parceria com o Xique Xique.
Segurança pública atua em parceria com o Xique Xique.
Parte da equipe responsável pelo aplicativo ‘Me Deixe’, que possibilita atendimento emergencial para mulheres em situação de violência doméstica.
Parte da equipe responsável pelo aplicativo ‘Me Deixe’, que possibilita atendimento emergencial para mulheres em situação de violência doméstica.

Tecnologia

Ainda em 2023, por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Sergipe (UFS), Instituto Federal de Sergipe (IFS) e Secretaria de Estado da Segurança Pública de Sergipe (SSP) foi lançado o aplicativo ‘Me Deixe’, que possibilita atendimento emergencial para mulheres em situação de violência doméstica. “Fruto de um projeto de pesquisa que aprovamos pelo CNPQ, criamos a tecnologia social Me Deixe, que foi transferida ao estado de Sergipe. Em função desse aplicativo, desse projeto aprovado, fizemos várias capacitações em escolas, com estudantes, para falar sobre violência doméstica, para falar sobre o aplicativo e também capacitamos policiais militares, bombeiros e civis nas temáticas de direitos humanos, gênero e sexualidade. Então é um grupo extremamente potente, que tem atuado muito no estado de Sergipe”, comemora Patrícia.

Para ela, um dos maiores desafios enfrentados atualmente é fazer ciência no Brasil. “É algo muito difícil, porque a gente não tem recurso suficiente para isso, mas o aplicativo Me Deixe surgiu após mais de 20 anos de pesquisa do Grupo Xique Xique. É um aplicativo que a gente conceitua dentro de uma concepção teórica da tecnologia social, ele discute com os dados de pesquisa que a gente já tem produzido e discute com as instituições públicas, especialmente com a Secretaria de Segurança Pública de Sergipe. Ele não surge do nada, é mais um produto que a gente está entregando à sociedade sergipana e que dialoga diretamente com os nossos dados de pesquisa”, pontua a professora.

Para dar início ao fluxo de atendimento pela ferramenta ‘Me Deixe’, é necessário instalar o aplicativo no celular de quem deseja fazer a denúncia sobre violência doméstica, seja a própria vítima ou um vizinho, por exemplo. É necessário fazer um breve cadastro e especificar qual tipo de violência está acontecendo, é possível também informar se no local há armas ou artefatos que agravem a situação.

Os chamados são monitorados e direcionados ao Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp), que encaminha a denúncia à Polícia Militar para que a equipe policial mais próxima ao local do fato atenda à ocorrência. Para a transferência de tecnologia pela UFS, o Governo do Estado deve fornecer atendimento ágil às mulheres e disponibilizar uma central de atendimento que possa acolher aos chamados feitos pelo aplicativo. Devem existir também a qualificação permanente dos operadores e a disponibilização de infraestrutura policial.

Ascom


Atualizado em: Ter, 25 de junho de 2024, 09:23
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