Sex, 28 de junho de 2024, 09:00

UFS oferece atendimento integral para a pessoa trans
Ambulatório é o único serviço de saúde especializado no estado para essa população

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) publica neste mês de junho uma série de matérias sobre a temática LGBTQIAPN+, sigla que abrange pessoas Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromânticas/Agênero, Pan/Pôli, Não-binárias e mais. A primeira delas abordou a pesquisa do professor Jean Baptista, do Departamento de Museologia da UFS, que estuda a genealogia dos corpos dos homens indígenas, das mulheres indígenas e dos povos indígenas abjetos, trazendo como título em português 'Corpos indígenas, gênero e sexualidade nas missões jesuíticas da América do Sul (séculos XVII-XVIII)'.

A segunda trouxe informações sobre o Xique Xique, grupo de pesquisa da UFS coordenado pela professora Patrícia Rosalba e que trabalha com temáticas sobre gênero e sexualidade.

Na última matéria desta série, o tema é o Ambulatório de Saúde Integral da Pessoa Trans, administrado pelo Departamento de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Sergipe e que funciona no Hospital Universitário de Lagarto (HUL-UFS), habilitado pelo Ministério da Saúde como estabelecimento com atenção especializada no processo transexualizador, modalidade ambulatorial.


Identidade visual do Ambulatório de Saúde Integral da Pessoa Trans. (foto: Reprodução)
Identidade visual do Ambulatório de Saúde Integral da Pessoa Trans. (foto: Reprodução)

De acordo com a professora Roxane de Alencar, que atua no Departamento de Fonoaudiologia do Campus de Lagarto desde 2012, fazendo parte do Ambulatório Trans, a iniciativa começou a ganhar força com os professores Rodrigo Dornellas e Kelly Silva, ambos do Departamento de Fonaudiologia.

“Sensibilizados com a expectativa de vida da pessoa trans, de apenas 35 anos, eles resolveram fazer alguma coisa por essa população. Então, iniciaram a partir de um projeto de extensão para tratamento da voz, para os ajustes vocais das pessoas trans. Nesse mesmo momento outros profissionais começaram a aderir ao projeto, a exemplo da medicina, com a endocrinologia, da psicologia, com alguns voluntários de Aracaju, e, dessa forma, o ambulatório foi se transformando em algo maior, um ambulatório de portas abertas que recebia pessoas trans de todo o estado de Sergipe”, contextualiza a professora.

SUS

Em 2016, o serviço foi oficialmente implementado como ambulatório transexualizador, seguindo a portaria que regulamenta o processo transexualizador pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “A equipe começou a crescer, professores de outros departamentos começaram a chegar também. Foi daí que veio a Nutrição, a Farmácia, a Terapia Ocupacional, que desde o princípio se agregou à proposta, e a Medicina, com a endocrinologia e a psiquiatria. Tudo isso vinculado ainda a um projeto de extensão em parceria com o Hospital Universitário de Lagarto”, conta Roxane.


Foto: Marcelo Sandes/HUL-UFS
Foto: Marcelo Sandes/HUL-UFS

“No momento em que o professor Rodrigo Dornellas e a professora Kelly Silva tiveram que se afastar do projeto, eu assumi como coordenadora do Ambulatório Trans e, na sequência, em 2018, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que faz a gestão do nosso Hospital Universitário, passou a gerir o Ambulatório Trans, foi aí que outros profissionais vinculados à Ebserh chegaram ao serviço. Temos hoje endocrinologia, ginecologia, psiquiatria, serviço social, enfermagem, fonoaudiologia, farmácia, nutrição, terapia ocupacional e psicologia, uma equipe grande”, comemora.

Habilitação

Roxane informa que o Ambulatório foi habilitado pelo Ministério da Saúde em 2023. “Estamos praticamente com um ano de habilitação do Ambulatório e, com isso, ele passa a ter uma verba que vai possibilitar a oferta ao usuário gratuitamente de hormônios, parte essencial no tratamento das pessoas trans que buscam a conformidade do corpo com sua identidade de gênero”, detalha a professora.

Para ela, houve um notável crescimento da procura pelo serviço ao longo dos anos. “A gente acredita que vai haver uma procura ainda maior quando começarmos a distribuir os hormônios. Hoje os atendimentos são agendados por telefone e infelizmente acontecem apenas uma vez por semana, porque ainda não tem profissional suficiente para atender à demanda, que é muito grande. Esse é o único ambulatório do estado de Sergipe, então a gente atende pessoas de todo o estado e regiões circunvizinhas também”, pontua.

Saúde vocal

Atualmente, os atendimentos ocorrem de forma individual e em grupos. “Tem o grupo da sala de espera, da terapia ocupacional, tem o grupo que participa do programa de ajuste vocal para pessoa trans, então toda quinta-feira a gente tem um grupo de atendimento para mulheres trans e um grupo de atendimento para homens trans. Concomitantemente tem um profissional da fonoaudiologia atendendo individualmente, acolhendo essa pessoa, entendendo qual é a demanda, o que ela precisa, o que ela precisa ajustar e como é que está a sua saúde vocal, se houve mudança da voz a partir do uso do hormônio, qual é a queixa. Nem toda pessoa trans tem demanda por mudança de voz, mas quando a gente insere essa pessoa no programa de ajuste vocal, a gente também acompanha as mudanças da voz com o uso do hormônio, é muito comum a mudança da voz no homem trans utilizando o hormônio masculino, a testosterona, então a mudança é muito efetiva, a voz fica mais grave mesmo, que é o que eles normalmente buscam”, explica a professora.

De acordo com Roxane, é bastante comum receber queixas sobre a voz. “A voz por vezes pode ficar rouca, pode existir fadiga vocal, então é muito importante o acompanhamento com fonoaudiólogo para a gente evite problemas quanto à saúde vocal. A fonoaudiologia tem essa função, e qualquer pessoa com necessidade de ajustar a voz, a identidade de gênero, é inserida no programa de ajuste vocal, que foi um programa elaborado por nós, do Departamento de Fonoaudiologia”, afirma.

“Não existia nenhum protocolo pronto na literatura sobre isso, então a gente elaborou a partir da nossa experiência clínica com as pessoas trans e já estamos colocando em uso há alguns anos, realizando pesquisas em busca da evidência do efeito positivo na voz dessas pessoas”, completa.

Roxane ressalta também a importância de parcerias para o sucesso do serviço. “Tudo iniciou com uma parceria do nosso Departamento com a própria UFS, com os movimentos sociais, com as pessoas trans envolvidas nessa implementação. A gente teve o apoio total da universidade, da Reitoria. Isso comprova a importância das extensões universitárias, dos projetos que acontecem no sentido de consolidar serviços também, serviços úteis para a população sergipana”, pontua.

Ascom UFS


Atualizado em: Qui, 27 de junho de 2024, 15:26
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