A Universidade Federal de Sergipe (UFS) abriu as portas para Mestres e Amigos dos Saberes e Fazeres em Arte e Cultura Popular nesta sexta-feira (24). A instituição realizou o primeiro Encontro de Rezadeiras, que reuniu mestres da cultura, professores e estudantes na Praça da Democracia do Campus de São Cristóvão.

A iniciativa busca aproximar os saberes e fazeres populares do conhecimento científico. Na oportunidade, mestres da cultura de todo o estado compartilharam histórias e vivências com a comunidade acadêmica. Houve ainda um momento ecumênico no qual os mestres fizeram rezas e súplicas utilizando flores e plantas medicinais.

Considerada uma referência na cultura popular em Sergipe, a rezadeira e parteira Josefa Maria da Silva Santos, conhecida como Zefa da Guia, foi uma das participantes. A rezadeira do município de Poço Redondo destacou a importância de momentos como este para a cultura popular e para a troca de conhecimentos entre a universidade e a sociedade.

“Para uma pessoa que não sabe ler ou escrever, como eu, que não sabe assinar nem o próprio nome, é muito importante aprender, mas também é importante falar e ajudar aquele que tem caderno, que tem universidade e que tem muita sabedoria inteligente, mas não tem o dom que representa o amor, a paz e a verdade”, pontuou a rezadeira Zefa da Guia.

O mestre da cultura popular Gilvan César Cruz, conhecido como Pai Gil Caboclo, acrescentou que, além de valorizar os saberes populares, os encontros promovidos pela Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFS (Proex) ajudam a combater a intolerância e o preconceito religioso, que ainda são muito presentes na vida de quem trabalha com rezas em todo o estado.

“Iniciativas como esta, da UFS, dão visibilidade a cultos que antes ficavam restritos e que eram e são alvo de muito preconceito. Infelizmente, a gente ainda sofre muito preconceito. Mas iniciativas como o Encontro de Rezadeiras vão mostrando para a sociedade que o que nós fazemos não é como muitos pensam. É importante que a comunidade veja, conheça e participe para poder formar a sua opinião”, explicou Pai Gil Caboclo.

A mestre Fátima Souza, que atua na cidade de São Cristóvão, lembrou que as rezas são tradições transmitidas ao longo de várias gerações e, assim como os demais mestres que também participaram do encontro, destacou a importância dos eventos realizados pela Proex para a perpetuação desse conhecimento.

“Nós contribuímos com os nossos saberes populares e recebemos do mundo acadêmico pesquisas com qualidade e estudos sobre nossa realidade. Mas é importante dizer que não posso esquecer de onde eu vim, do que eu sou. Faço questão de contar, nos quatro cantos que eu vou, que sou rezadeira com muito orgulho”, frisou a mestre Fátima Souza.

A professora Tereza Sena, que está à frente da Coordenação de Tecnologias Sociais e Ambientais da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, informou que o Encontro de Rezadeiras integra a programação permanente da UFS que acontece todos os meses, com programação diversificada, não apenas no Campus de São Cristóvão, mas em outros campi.

“Os nossos Mestres e Amigos dos Saberes e Fazeres em Arte e Cultura Popular são acompanhados, porque entendemos a importância deles para o nosso estado. Por isso, nós buscamos realizar encontros mensais, participamos de eventos e promovemos oficinas com a proposta de respeitar, reconhecer e acolher saberes populares”, ponderou Tereza Sena.

O vice-reitor da UFS, Rosalvo Ferreira, acompanhou a iniciativa e comemorou a integração entre a universidade e os mestres de cultura popular.

“Como instituição pública, temos que ter uma visão clara do que é a ciência e do que é conhecimento popular. Essa ação da Proex representa a integração entre o conhecimento popular, entre as formas de saberes e de fazeres que são produzidos fora da universidade, e o espaço acadêmico. Essa interação é boa para a gente e melhor ainda para a sociedade, porque todos ganham”, concluiu o vice-reitor.

Ascom UFS