Na última quarta-feira, 12, o Centro de Cultura e Arte da Universidade Federal de Sergipe (Cultart/UFS) sediou a abertura do Seminário Internacional Mulheres de Abya Yala: do barro Xokó à (re)existência Pataxó – Pankararu. O evento trata sobre o papel da Educação Patrimonial para a construção do conhecimento no que se refere aos bens culturais como parte constitutiva das identidades individuais e coletivas. Sua programação, que se estende até esta sexta-feira, 14, se propõe a ampliar as vozes das intelectuais Xokó, Pankararu, Pataxó e das pesquisadoras do campo indígena e ambiental que impulsionam uma abordagem decolonial, promovendo a interculturalidade e o bem viver da coletividade.
A pesquisadora Rita Simone, membro do Núcleo da Ação Saberes Indígenas na Escola (ASIE/UFS) e organizadora do evento, explica que a ideia do seminário nasceu da necessidade de um enlace epistemológico decolonial com as mulheres, seus saberes, seus fazeres e a importância desse conteúdo para a chamada Academia de Educação Patrimonial.
“Nós pensamos o papel dessas mulheres e desses conhecimentos para a formação do nosso povo e o nosso reconhecimento, sempre pensando nas mulheres de Abya Yala e refletindo também em uma reconstrução, inclusive do termo ‘América’, já que aqui temos uma pluralidade vasta de povos nas Américas do Norte, Central e do Sul. Somente no Brasil são mais de 305 grupos indígenas reconhecidos, e as mulheres têm um papel fundamental no processo, nos modos de vida e na cosmovisão dos povos originários”, conta a pesquisadora.
Joseane Xokó, uma das palestrantes do evento, é agente de saúde em sua aldeia, localizada no município sergipano de Porto da Folha. Para ela, este encontro é uma grande troca de saberes, principalmente, entre mulheres que vivem na luta. “Tenho certeza que a experiência que teremos nesses dias de seminário criará raízes, para que no futuro os jovens e as jovens da aldeia vejam no que a gente vem lutando; para que o nosso povo e a nossa cultura, a nossa resistência, continuem na vida”.
Outra palestrante do seminário é Cleonice Pankararu, membro do povo Pankararu e moradora da aldeia Cinta Vermelha Jundiba, no município de Araçuaí, Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. “Aqui, nós vamos trabalhar o nosso território, nosso corpo de mulher e corpo território, território sagrado; refletir um pouco sobre as conexões do poder sagrado da Mãe Terra e a convivência com as mulheres indígenas. As mulheres de Abya Yala são mulheres que lutam em defesa da natureza, da saúde, do meio ambiente, dos filhos, do fortalecimento da identidade, da cultura, do meio que a gente vive”.
“Ninguém vive sem água, ninguém vive sem árvore, ninguém vive sem chão, e hoje a Mãe Terra está sendo impactada, está sendo violada nos seus direitos de ser. Então, neste evento, nós iremos refletir sobre isso e enviar as mensagens para a sociedade, para todos, para que entendam que a Terra é território sagrado, é território feminino”, afirma Cleonice.
Turmas de escolas públicas puderam se inscrever para participar do seminário como ouvintes. Uma delas é a turma de Eloá Paiva, do terceiro ano do ensino médio do Centro de Excelência Atheneu Sergipense. A estudante mostrou entusiasmo para conhecer mais sobre os povos originários.
“Nas aulas de História, nós aprendemos que antes da invasão de países da Europa, os povos originários do nosso país já estavam aqui. Acredito que eles representam a origem de muito do que somos hoje. É uma cultura que faz parte de nós como brasileiros”, revela Eloá.
O Seminário Internacional Mulheres de Abya Yala: do barro Xokó à (re)existência Pataxó – Pankararu é uma ação gratuita realizada com recursos da Lei Complementar Federal nº 195/2022 (Lei Paulo Gustavo), Ministério da Cultura, por meio do edital n. 07/2023 - Ilma Fontes, executado pela Fundação de Cultura e Arte Aperipê de Sergipe (Funcap). Conta com a produção da Buen Vivir Comunicação & Educação, coordenação acadêmica da UFS - Libras e com o apoio da Rede Solidária de Mulheres de Sergipe, Instituto Federal de Sergipe (IFS), ÇIRIJI, Virgínia Tech University e Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (Neabi). Sua programação segue até esta sexta-feira, 14. Para mais informações, acesse o cartaz do evento abaixo.
Brunna Martins - Ascom UFS