
Com quase uma década de atuação em Sergipe, o Ambulatório Trans, situado em Lagarto, promoveu o V Fórum de Saúde Integral da Pessoa Trans, no Cinema da Vivência. O encontro segue até a sexta-feira (21), voltado para capacitação de discentes e profissionais de saúde. A mesa de abertura relembrou a trajetória do ambulatório, criado em 2016.
Coordenadora do evento, a professora Roxane Alencar, do Departamento de Fonoaudiologia (ao lado da docente Giselle Brito, do Departamento de Farmácia), acredita que o Ambulatório passou por diversas mudanças, que impactaram não apenas a vida dos usuários do serviço, mas também dos profissionais de saúde que atuam no espaço. “Ao longo dos anos, sinto que a comunidade acadêmica abraçou o Ambulatório Trans. E eventos como esse mostram a importância de capacitar os profissionais de saúde para o acolhimento e atendimento da população trans. Eu mesma aprendi muito, posso dizer que existe uma Roxane antes e uma depois do Ambulatório”, observa.

Giovana Soares foi uma das primeiras pacientes do serviço. “Sinto que muita coisa já mudou. Quando comecei essa luta, há muitos anos, eu imaginava que estava plantando frutos que eu não ia chegar a colher. E fico feliz porque hoje já vejo muitos avanços. Eu tinha dificuldade até em ser atendida em serviços de urgência de saúde e hoje, embora o preconceito obviamente continue existindo, sinto que muita coisa mudou, sobretudo pelo empoderamento da população trans, que agora sabe muito mais que tem direitos e que esses direitos precisam ser respeitados”, avalia.
Os pacientes atuais contam com mais um recurso dentro do Ambulatório: o uso de hormônios (iniciado em outubro de 2024). A docente do Departamento de Medicina do campus Lagarto e gerente de Ensino e Pesquisa do HUL, Evelyn Machado, é médica endocrinologista e atua no Ambulatório desde os primeiros momentos. “Com a utilização do hormônio, é possível ver a mudança não apenas visual e física, mas também na alegria e na satisfação das pessoas”, explica.
Criadores do ambulatório Trans, os docentes Rodrigo Dornelas (ex-professor do campus Lagarto, atualmente integra o quadro da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Kelly Silva, do Departamento de Fonoaudiologia explicaram os desafios do momento da criação do espaço. A ideia surgiu após a participação dos professores na 1ª Semana de Visibilidade Trans. “É uma população historicamente marginalizada. Muitas dessas pessoas tiveram, no Ambulatório, o seu nome sendo chamado corretamente num serviço de saúde pela primeira vez”, observa. Atualmente, o Ambulatório Trans é gerido pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) e coordenado pela enfermeira Amanda Vitório.
A professora Kelly acredita que o Ambulatório reflete a bandeira da integralidade na Saúde. “É um grande diferencial, um amplo serviço numa cidade do interior de Sergipe. É um espaço que é a cara do campus Lagarto e do Hospital Universitário de Lagarto”, pontua.
Ana Laura Farias
Campus Lagarto