Navegar na internet, na atualidade, se tornou um instrumento fundamental para desempenhar atividades básicas do dia a dia, como se comunicar de forma remota ou pedir um carro por aplicativo. Tal desenvoltura digital, no entanto, não é uma realidade para boa parte da população idosa. Foi com esta problemática em mente que o Departamento de Computação (DCOMP/UFS), em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Ações da Terceira Idade da Universidade Federal de Sergipe (Nupati/UFS), iniciou a oficina “Aprendendo e Conectando: informática básica para terceira idade”.

Com uma turma composta por 26 alunos do Nupati, oito discentes do DCOMP se dividem para ministrar duas aulas por semana, sempre às terças e quintas-feiras, durante todo o mês de fevereiro. Victor Benevides, estudante do oitavo período do curso de Ciências da Computação, é o monitor responsável pelo projeto. Sua motivação partiu de uma vivência própria.

“Tenho uma tia idosa que faz parte de um grupo da igreja e que muitas vezes me perguntava como imprimir um arquivo ou como resolver certas dificuldades tecnológicas. Isso me despertou o desejo de criar algo voltado para idosos. Foi então que o chefe do departamento compartilhou uma demanda do Nupati para a realização de uma oficina de informática. Ele divulgou essa oportunidade e eu prontamente me interessei”, conta o discente.

Victor compartilha que tal iniciativa visa também orientar esses idosos a como navegar na internet de forma segura, uma vez que frequentemente são alvo de golpes e fraudes virtuais. “Muitos idosos relataram que conhecem pessoas que já caíram em golpes ou perderam celulares e não sabiam que existiam recursos para evitar essas situações. Isso mostra a importância de capacitá-los, pois, ao entender melhor os dispositivos que utilizam, eles se tornam mais independentes e seguros no uso da tecnologia”.

Neilson Meneses, coordenador do Nupati, revela o contexto do qual partiu a demanda de uma oficina de informática básica para a terceira idade. “Vivemos em uma sociedade cada vez mais digital e tecnológica. No entanto, ainda existe o que chamamos de ‘lacuna digital’, uma barreira que afeta principalmente a população idosa. Isso acontece porque essas pessoas não são nativas digitais — cresceram em um mundo mais analógico e, por isso, enfrentam desafios para se adaptar às novas tecnologias. Diante desse cenário, é essencial contribuir para que os idosos possam se inserir de forma mais ativa e participativa nesse ambiente digital”.

Márcia Germano, bancária aposentada há 17 anos, é uma das alunas do Nupati que escolheu participar da oficina de informática. Para ela, as aulas conseguem sanar a maior parte de suas dúvidas no manuseio do computador e do celular.

“Quando trabalhava, a internet ainda era pouco acessível, e, desde então, nunca fiz um curso especializado na área. Por isso, vi essa oportunidade como uma forma de esclarecer muitas dúvidas. No dia a dia, a gente aprende apenas na prática, mas, infelizmente, nossa geração enfrenta dificuldades porque aqueles que dominam mais a tecnologia, muitas vezes, não têm paciência para nos ensinar. Então, busquei a universidade justamente com esse objetivo”, disse a estudante.

A profissional do Turismo Ilza Oliveira, aposentada há 23 anos, compõe o Nupati desde 2013. Dentre as diversas atividades que já participou, a idosa revela que as aulas têm deixado seus dias mais interessantes.

“Participo do curso de informática na extensão, que tem sido muito útil. Temos computador em casa, mas nem sempre temos habilidade para usar todos os recursos. Pela nossa idade, não pesquisamos tanto quanto os jovens, mas aprender sobre tecnologia nos ajuda bastante. No curso, aprendemos a mexer no celular, nos aplicativos e a lidar melhor com o computador. Isso nos deixa mais ‘antenados’. Tem sido muito bom para mim e para minhas amigas também”.

Núcleo de Pesquisa e Ações da Terceira Idade (Nupati)

O Núcleo de Pesquisas e Ações da Terceira Idade (Nupati) foi criado em 1998 na Universidade Federal de Sergipe (UFS), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proex), com o objetivo de promover a cidadania da pessoa idosa por meio do ensino, pesquisa e extensão, fundamentado em legislações como o Estatuto do Idoso. Ao longo de 27 anos, expandiu suas atividades e, em 2002, criou a Universidade Aberta à Terceira Idade (Unatise), facilitando a inclusão e permanência de idosos na universidade. A iniciativa surgiu a partir do interesse crescente de idosos em retomar os estudos e da necessidade de ampliar espaços acadêmicos para esse público, reforçando a importância da educação como direito social e ferramenta de transformação.

Brunna Martins - Ascom UFS