A Universidade Federal de Sergipe (UFS) deu um passo histórico na promoção da educação ao realizar, nesta segunda-feira, 31, a aula inaugural da Licenciatura em Educação Escolar Quilombola (LEEQ). O curso, aprovado pelo edital Parfor Equidade da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em 2023, será ofertado pelo Departamento de Química do Campus de Itabaiana (DQCI/UFS).
A solenidade aconteceu no auditório da Associação dos Docentes da UFS (Adufs) e reuniu estudantes, professores, lideranças quilombolas e representantes institucionais. A proposta da LEEQ foi fruto de um trabalho coletivo desenvolvido pelo Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da UFS (Neabi/UFS) ao longo de décadas, consolidando-se como uma política pública de formação de docentes para escolas quilombolas. A licenciatura será estruturada em oito módulos, organizados em sistema de alternância entre "Tempo Universidade" e "Tempo Comunidade-Escolas Quilombolas".
Destinada à população quilombola e professores que atuam em escolas quilombolas de Sergipe, a licenciatura tem como objetivo formar docentes comprometidos com a Educação Intercultural e Antirracista, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. O curso conta com o apoio do Departamento de Educação do Campus de Itabaiana (Dedi/UFS), além da parceria do Movimento Estadual Quilombola de Sergipe e do Coletivo de Estudantes Indígenas e Quilombolas da UFS "José Apolônio".
Uma luta histórica
A coordenadora do curso, professora Edinéia Tavares, destacou a importância do momento e a longa trajetória de reivindicação do movimento quilombola para que a licenciatura se tornasse realidade. "Essa é uma conquista muito importante para nós e, sobretudo, para o movimento quilombola de Sergipe e do Brasil. Durante anos, a população negra e as comunidades demandaram uma formação específica, com qualidade e alinhada às suas necessidades. A UFS, por meio do Neabi e do trabalho com os movimentos sociais, conseguiu consolidar esse projeto, apesar dos desafios. Hoje, celebramos essa vitória coletiva", afirmou.
A vice-reitora da UFS, professora Silvana Bretas, ressaltou o papel da universidade na promoção de uma educação inclusiva e representativa. "Este é um momento histórico para a UFS. O início da Licenciatura em Educação Escolar Quilombola simboliza o compromisso da universidade com a diversidade e com populações que historicamente resistem e lutam por seus direitos. Essa iniciativa não apenas reafirma o papel social da UFS, mas também transforma a instituição ao incorporar novos saberes e perspectivas", declarou.
Vozes do movimento quilombola
A aula inaugural também foi marcada por discursos emocionantes de representantes de comunidades, que enfatizaram o impacto da licenciatura na formação de professores e na preservação das culturas quilombolas.
Wellington Quilombola, presidente da Associação do Quilombo Porto da Areia, recordou a trajetória de luta até a concretização do curso. "Desde 2017, temos reivindicado essa licenciatura. Percorremos comunidades, discutimos com diretores de escolas e professores que muitas vezes nem sabiam que suas escolas eram quilombolas. Foi um processo de luta e conscientização, e hoje estamos aqui para celebrar essa vitória. Pela primeira vez, teremos um curso voltado à nossa realidade e à nossa identidade", pontuou.
Josefa do Quilombo Sítio Alto, líder quilombola, reforçou a relevância da educação para a autonomia das comunidades. "Esse curso é uma bênção. Sem conhecimento, não sabemos por onde seguir e podemos perder direitos importantes. A educação quilombola permite que nossos jovens compreendam sua história, saibam preservar nossos territórios e culturas e lutem pelos seus direitos".
Mailson Acássio, nativo do quilombo Mocambo, da cidade de Porto da Folha, é estudante do curso de Geografia da UFS e destacou o caráter coletivo da construção da licenciatura. "Esse curso foi criado a partir do movimento quilombola, com participação ativa das lideranças na elaboração do projeto pedagógico. Ele não é apenas para as comunidades quilombolas, também foi feito por elas. Isso faz toda a diferença e nos dá esperança de que essa formação transformará nossas escolas".
Brunna Martins - Ascom UFS